Por Assis Moreira — De Genebra
08/11/2022 05h00 Atualizado
A mudança climática representa uma ameaça existencial para as economias, enquanto um comércio mundial fragmentado em blocos amplia o risco de atrasar e tornar mais cara a transição para uma economia verde, advertiu ontem a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.
Ao apresentar o Relatório Anual de Comércio, na Conferência do Clima (COP 27) em Sharm-el-Sheik, no Egito, em meio a crescentes tensões geopolíticas, Ngozi conclamou os países a lutar “contra as forças que ameaçam separar a comunidade mundial”.
“Não devemos dissociar economias e criar blocos comerciais separados, para prejudicar o sucesso da ação climática”, disse ela. “A fragmentação das cadeias de abastecimento em grupos regionais e o reshoring [relocalização] da manufatura correm o risco de atrasar a transição para uma economia verde e torná-la muito mais cara.”
Ngozi insistiu que o combate à mudança climática é um problema dos bens comuns globais e requer cooperação entre todas as principais economias. Para a OMC, na ausência de cooperação global estratégica entre os países em torno de políticas climáticas ambiciosas, não será alcançado o objetivo de Paris de limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2º C.
A diretora da OMC defendeu cooperação também sobre metodologia e abordagens para desestimular as emissões de carbono. Exemplificou que 70 esquemas de preços de carbono estão atualmente em operação em todo o mundo. “Sem coordenação e abordagens comuns, há um risco significativo de que medidas fragmentadas possam ser vistas levando a fricções comerciais”, disse.
Em recente estudo, a OMC alertou que uma fragmentação do comércio internacional em blocos poderia reduzir o PIB global em 5% no longo prazo, restringindo a concorrência e sufocando a inovação. A perda de renda com essa situação seria especialmente grave às economias emergentes e em desenvolvimento.
No relatório apresentado ontem na COP 27, a OMC constata que temperaturas mais elevadas, aumento dos níveis do mar e eventos climáticos extremos mais frequentes provocam perdas de produtividade, escassez de produção, destroem infraestrutura e transporte e provocam rupturas nas cadeias de fornecimento.
Sem redução significativa das emissões de gases de efeito estuda, muitos países deverão sofrer mudanças nas vantagens comparativas, com agricultura, turismo e alguns setores da indústria particularmente vulneráveis aos impactos climáticos, diz a entidade.
A OMC defende que os países eliminem as tarifas para a entrada de bens e serviços ambientais para lutar contra a mudança climática. Calcula que isso impulsionaria as exportações desses produtos em 5% até 2030 e levariam a uma redução líquida de 0,6% nas emissões globais de carbono.
“Enquanto o próprio comércio gera emissões a partir da produção e do transporte, as políticas comerciais podem acelerar a disseminação de tecnologias de ponta e melhores práticas, e aumentar os incentivos para mais inovações enquanto cria os empregos de amanhã”, apontou Okonjo-Iweala.
Ela exemplificou com o comércio de painéis solares. O preço desses produtos caiu 97% desde 1990, tornando-se uma fonte de energia muito mais acessível que os combustíveis fósseis. Cerca de 40% dessa redução de custo foi graças à economia de escala possibilidade pelo comércio internacional, segundo Ngozi.
Fonte: Valor Econômico

