Por Alessandra Saraiva e Rafael Rosas — Do Rio
17/05/2023 05h00 Atualizado há 4 horas
Os recuos em preços de combustíveis anunciados nesta terça-feira (16) nas refinarias e distribuidoras pela Petrobras devem ajudar a reduzir inflação mensal apurada pelos principais indicadores inflacionários do país: no IPCA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e nos IGPs da Fundação Getulio Vargas (FGV).
No caso do IPCA, o anúncio da Petrobras vai gerar decréscimo total de cerca de 0,51 ponto percentual nas taxas de maio e de junho, juntas. Mas não deve alterar resultados de IPCA e de IGPs para taxa anual, de 2023. Isso porque a mudança na alíquota de ICMS para gasolina, a partir de junho, deve conduzir a aumento de dois dígitos no preço do combustível que “compensaria”, no resultado anual inflacionário, o impacto benéfico, na inflação, das quedas divulgadas ontem, segundo o economista da FGV e analista de inflação responsável pelos IGPs, André Braz.
Ontem, a Petrobras informou quedas de 12,7% no preço do litro do diesel; de 12,5% no preço do litro gasolina; e de 21,42% no preço do botijão de 13 quilos – nas refinarias e distribuidoras. As reduções valem a partir de hoje.
Ao comentar sobre os impactos desses recuos nos resultados das taxas inflacionárias, Braz frisa que esses são diferentes ao se projetar resultados para desempenho mensal e anual. No mensal, no caso do IPCA, a queda em gasolina anunciada hoje deve gerar decréscimos de 0,21 ponto percentual no total do IPCA de maio e de 0,21 ponto percentual no IPCA de junho.
“O peso da gasolina é de 5% do orçamento e no total do IPCA. A cada um por cento de queda, a gasolina recua 0,05 ponto percentual [no IPCA]”, frisa. “Mas não podemos considerar que essa queda de 12,5% será repassada integralmente na bomba [nos postos de gasolina]”, diz, lembrando que o recuo foi nas refinarias. “Calculamos que chegará um recuo em torno de 8,5% nas bombas [ao consumidor]. Então podemos ter um recuo de 0,42 ponto percentual no total do IPCA, sendo 50% disso em maio e 50% em junho”, explica.
Porém, ao ser questionado sobre impacto dos reajustes na taxa anual do IPCA de 2023, ele ressalta que não se sabe qual será o aumento exato no preço da gasolina, a partir de junho, devido à unificação de alíquota de ICMS para esse combustível. O especialista lembra que a alíquota de ICMS de gasolina e de álcool anidro vai aumentar para R$ 1,22 o litro a partir de junho. “Eu estimo uma alta em torno de 10% [no preço da gasolina nas bombas por causa de ICMS], mas alguns analistas apostam em aumento de 12%, de 15%.”
Assim, na prática, o recuo anunciado no preço da gasolina pode ajudar a “contrabalançar” o aumento esperado nesse combustível em junho; e não mexer tanto com projeção para IPCA anual de 2023. “Eu acho que o IPCA ainda vai encerrar em 6% neste ano”, diz o técnico. “O que acontece em gasolina acaba definindo o IPCA.”
Mas a gasolina não é o único combustível a ajudar na formação do IPCA. No caso do botijão de gás, com peso de 1% no total do indicador, o impacto projetado por Braz é de 0,09 ponto percentual (p.p.) de decréscimo nas taxas do IPCA de maio e de junho, sendo -0,04 p.p. em maio e -0,05 p.p. em junho.
No caso do diesel, Braz comenta que esse combustível pesa muito pouco no IPCA, apenas 0,25% do total do indicador. “O impacto maior do diesel mais barato é indireto”, diz, comentando que a medida ajuda a diminuir tarifa de transporte urbano e rodoviário, além de baratear fretes.
Para o economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio de Souza Leal, o impacto imediato das reduções de combustíveis sobre o IPCA será de 0,4 ponto percentual. Mas ele ressalta que os recuos anunciados nesta terça-feira já estavam no radar de diversos economistas e bancos.
“A questão é que muita gente, eu incluído, já tinha considerado isso ou esperava que viesse algo nesse sentido”, diz Leal, que já havia reduzido sua expectativa para o IPCA no fim do ano de 6,10% para 6% e manteve a projeção ontem.
Para ele, “era óbvio” que viria alguma redução nos preços depois que a Petrobras falou em mudar a Paridade de Preço de Importação (PPI) em um momento em que a defasagem era de 10% a 15% frente ao preço internacional. “Era óbvio que ia sair alguma redução, a questão era quando. No meu caso, veio no meio do caminho. Não mudou muito minha percepção.”
Leal destaca que a nova política de preços pode ajudar a controlar a inflação, mas não no sentido de segurar movimentos de alta. Segundo ele, a nova forma de cálculo deve tornar mais recorrente o movimento de baixa, mas isso não significa que necessidades de elevação serão contidas. “A diferença vai ser não na velocidade [dos movimentos], mas no próprio cálculo, com mais viés de baixa”, frisa.
Com os recuos de gasolina e de GLP, Braz também espera aprofundamento de deflação nas taxas mensais dos IGPs. Isso porque o recuo desses combustíveis deve afetar mais o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% nos IGPs. A estimativa é de impactos de baixa de 0,15 p.p. para os preços do atacado de maio; e de 0,15 p.p. para junho. No caso do diesel, o impacto será de recuo de 0,43 p.p. para os IPAs de maio e de junho. Todas essas influências, reunidas, podem gerar impacto de cerca de 0,7 nos IPAs de maio e de junho, ou -0,35 p.p. a cada mês. “Os IGPs nas taxas mensais já estão em deflação [mensal] e isso deve aprofundar mais”, diz Braz.
Fonte: Valor Econômico

