Pesquisa feita na América Latina apresenta o perfil dos participantes de “boards” na região
Por Adriana Fonseca, Para o Valor
A presença feminina em conselhos de administração na América Latina ainda traz desafios. É o que aponta um novo levantamento obtido com exclusividade pelo Valor. A pesquisa foi feita pela Page Executive, unidade de negócio do PageGroup especializada em recrutamento e seleção de executivos para alta direção, em parceria com a rede de Institutos de Governança Corporativa da América Latina (IGCLA) e apoio da International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial.
O Brasil, em particular, encontra-se no meio da lista entre os sete locais analisados. No país, 25,3% das cadeiras dos “boards” são ocupadas por mulheres. O percentual é menor no Peru (21,1%), Argentina e México (19,2%, cada), e maior no Chile (29,3%), Panamá (45,5%) e Colômbia (45,6%).
Foram ouvidos, para a pesquisa, 900 membros de conselho em toda a região, sendo 411 no Brasil.
“Mesmo que os homens representem a maioria nos quadros de conselho, vemos um aumento da participação feminina a cada ano, ainda que seja necessário um longo e contínuo esforço para mudar este cenário, inclusive das companhias, ampliando assim a diversidade”, explica Heloisa Villibor, Associate Partner da Page Executive.
Perfil das mulheres conselheiras
Segundo o estudo, mais da metade das mulheres conselheiras na América Latina (55,8%) ocupa a posição de membro independente. Na sequência, aparecem as conselheiras (15,5%), membros acionistas (12,1%), presidente do conselho (7,1%) e membro suplente (3,4%).
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O levantamento mostra que, em quase todos os países da região, a faixa etária mais representativa entre as conselheiras, com algo entre 20% e 30% do total, é de 60 anos ou mais. Exceção fica com a Colômbia, onde somente 9,9% têm essa idade. No Brasil, essa parcela é de 33,6%, sendo superado apenas pelo Peru (33,8%).
Na região como um tudo, com exceção para Colômbia e Panamá, aquelas com idade menor a 40 anos têm baixa participação nos conselhos. No Brasil, são 6,6%.
No Brasil, 47,8% das conselheiras têm histórico profissional em multinacionais.
O estudo analisou, ainda, o tamanho dos conselhos de administração na região. Metade tem entre quatro e seis pessoas, e conselhos com mais de dez pessoas são exceção. Essa característica contrasta com os conselhos dos Estados Unidos e da Europa, onde a faixa mais comum é de oito a doze membros.
O que é preciso para ser conselheiro de administração
Os entrevistadores perguntaram aos participantes quais eles consideram ser as habilidades mais importantes para ser um membro do conselho de administração. As respostas revelam que o histórico financeiro continua sendo o mais valorizado. Especialmente no México e no Brasil (76% e 70%, respectivamente), a área financeira é, de longe, o campo de conhecimento mais valorizado. Ademais, a importância de se ter um sólido conhecimento de gerenciamento de riscos foi destacada como um aspecto relevante por 44% dos membros pesquisados.
Veja a lista completa de habilidades importantes para um conselheiro:
- Finanças 65,2%
- ESG (governança ambiental, social e corporativa) 48%
- Gerenciamento de riscos 44%
- Setor específico 38,1%
- Tecnologia 24,5%
- Recursos humanos 17,3%
- Regulamentação do setor 10,4%
- Jurídico 10,3%
- Relações Públicas 5,8%
- Geopolítica 5,3%
- Diversidade, Equidade e Inclusão 5%
Além disso, os entrevistados destacaram três soft skills importantes: comunicação e escuta ativa; pensamento crítico; e tomada de decisão.
Quando questionados sobre como chegaram ao conselho, 42% mencionaram a relação com acionistas da empresa, 31%, indicação, e 13%, consultorias.
Quanto ganham os conselheiros de administração
Em relação aos salários dos conselheiros no Brasil, o levantamento indica que quase 80% recebem um pagamento mensal entre US$ 2.033 e US$ 6.097. A faixa salarial por sessão está entre US$ 2.000 e US$ 6.100, e a faixa salarial mensal está entre US$ 2.000 e US$ 6.000, independentemente do volume de negócios da empresa e para quase todos os setores.
Entre os respondentes, 15% disseram que seus conselhos se reúnem quatro vezes por ano ou menos; 19% disseram participar de cinco a oito reuniões; 46% têm entre nove e doze encontros anuais; e 19%, relataram ter treze ou mais.
No Chile, os setores de mineração, engenharia e infraestrutura são os que melhor remuneram os membros do conselho por mês, chegando a pagar mais de US$ 6.346.
Na Colômbia, tanto as sessões quanto os valores mensais oferecidos variam de US$ 450 a US$ 1.000, independentemente do volume de negócios ou do setor da empresa.
No México, o setor de bens de consumo se destaca por sua alta remuneração, com uma média de US$ 5.750 por mês.
Fonte: Valor Econômico
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