Por Pedro Borg, Valor — São Paulo
19/10/2022 10h11 Atualizado há 14 horas
Pressionado por reveses causados pelo contra-ataque ucraniano e problemas com a mobilização de suas tropas no campo de batalha, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou ontem uma lei marcial em quatro regiões ocupadas na Ucrânia.
A medida desmente relatos do Kremlin de que as populações dessas regiões têm retornado à normalidade após os simulacros de plebiscitos sobre anexação promovidos pela Rússia em setembro. Sob a lei marcial, os habitantes de Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk — no sudeste e leste da Ucrânia — ficam submetidos a rigorosas restrições de movimentos, batidas policiais em carros e casas sem ordem judicial e confisco de bens “declarados essenciais para a proteção de infraestrutura crítica”.
A lei marcial também permite à Rússia controles mais rígidos do transporte, proibições de todas as reuniões públicas, censura total em tempo de guerra e pesadas restrições à atividade econômica.
Ao anunciar a medida, que passa a vigorar plenamente hoje, Putin disse que a ação é necessária para a defesa da Rússia. “Estamos trabalhando para resolver tarefas de grande escala muito difíceis para garantir a segurança e o futuro seguro da Rússia”, afirmou aos conselheiros.
Em Washington, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que a decisão russa é resultado da dificuldade de Moscou em conduzir a guerra.
“Acho que Putin se encontra em uma posição incrivelmente difícil e, para mim, suas ações refletem o que parece ser a única ferramenta disponível para ele, que é brutalizar cidadãos na Ucrânia para tentar intimidá-los e forçá-los a capitular — e eles não vão fazer isso”, disse Biden a jornalistas na Casa Branca.
Em meio à contraofensiva ucraniana, o comando militar russo substituiu por uma administração militar os líderes civis em Kherson — maior cidade que a Rússia ocupou desde o início da guerra, em fevereiro. Uma retirada em massa de civis está ocorrendo na área, ao mesmo tempo em que fontes ucranianas relatam que seus combatentes estão empurrando as forças russas para as margens do rio Dnipro, onde podem ficar encurraladas em um momento crucial da guerra, na medida em que o inverno se aproxima e as linhas de frente podem congelar por meses.
Para o governo de Kiev, “a Rússia iniciou uma fase de terror nos territórios”. A lei marcial também chega no momento em que crescem os temores de que Moscou use armas nucleares táticas para reverter o quadro militar desfavorável.
Fonte: Valor Econômico

