Por Valor — São Paulo
07/09/2022 15h45 Atualizado há 18 horas
O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou nesta quarta-feira (07) limitar a exportação de grãos da Ucrânia, alegando falsamente que o Ocidente está enganando o mundo em desenvolvimento ao manter em grande parte para si estoques de alimentos destinados a evitar uma crise global de fome.
Em discurso na sessão plenária em um fórum econômico na cidade russa de Vladivostok, no Extremo Oriente, o líder russo culpou a escassez global de grãos – que afetou particularmente os países mais pobres – aos termos do acordo assinado com Kiev em julho, e não à guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia, um grande exportador de grãos.
Putin afirmou que os embarques de grãos liberados pelo acordo, que encerrou o bloqueio da Rússia aos portos ucranianos do Mar Negro na região de Odessa e permitiu que navios de carga transportando grãos e outros alimentos retomassem as viagens, não estavam indo para países pobres.
“Se excluirmos a Turquia como país intermediário, praticamente todos os grãos exportados da Ucrânia são enviados não para os países em desenvolvimento mais pobres, mas para os países da União Europeia”, disse Putin. Segundo ele, apenas dois dos 87 navios, transportando 60.000 toneladas de alimentos, até agora foram para o Programa Mundial de Alimentos.
“O que estamos vendo é outra trapaça descarada”, disse Putin. “É uma armação da comunidade internacional, uma traição aos parceiros na África, em outros países que precisam urgentemente de comida. É apenas uma fraude, uma atitude grosseira e arrogante em relação aos parceiros por quem tudo isso foi supostamente feito”, afirmou Putin.
O líder russo disse que entraria em contato com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para discutir a possibilidade de limitar a exportação de grãos e alimentos da Ucrânia. Ele também acusou os países europeus de agirem novamente como colonizadores.
Todos os embarques de grãos da Ucrânia pelo Mar Negro são registrados pelas Nações Unidas, que intermediou o acordo acertado em julho. De acordo com seus registros públicos, mais de 2 milhões de toneladas de grãos foram transportadas dos portos ucranianos desde que o acordo foi assinado.
O ministro da infraestrutura da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov, reagiu à afirmação de Putin: “Ameaças e afirmações falsas são típicas da política russa”, tuitou ele. Kubrakov disse que a Ucrânia enviou 54 navios para a Ásia com pouco mais de um milhão de toneladas de grãos e outros 16 navios para a África com 469 mil toneladas de grãos. A Europa recebeu 32 navios com 853 mil toneladas, acrescentou.
Embora os dados da ONU mostrem que parte da carga foi enviada para a União Europeia, o impacto do aumento na oferta de grãos da Ucrânia ajudou a derrubar os preços globais. Isso beneficia o mundo em desenvolvimento, onde os recentes aumentos de preços foram sentidos de forma mais intensa.
O alerta de Putin de que poderá alterar o acordo de exportação de grãos ocorre em um momento que o Kremlin limita o fornecimento de gás natural para a Europa, provocando uma escalada nos preços da energia no continente e aumentando a pressão econômica sobre as empresas e famílias europeias faltando poucos meses para o próximo inverno.
Fonte: Valor Econômico

