Molécula estudada pela USP favorece o crescimento do aracnídeo; no experimento, taxa de mortalidade foi de 92%
- O Estado de S. Paulo.
- 15 Jun 2023
- JULIA MOIÓLI, AGÊNCIA FAPESP
Estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP) e divulgado na revista Parasites & Vectors aponta um potencial alvo para o desenvolvimento de uma vacina contra a febre maculosa e seu causador.
Estudos anteriores do mesmo grupo da USP, com sede no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), já haviam mostrado que, ao infectar o carrapato-estrela, a bactéria Rickettsia rickettsii é capaz de inibir no hospedeiro um processo chamado apoptose (que é a morte programada das células do aracnídeo), favorecendo seu crescimento. Essa “sobrevida” dá à bactéria tempo para se proliferar e infectar células.
No trabalho mais recente, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a ideia foi silenciar a expressão gênica da principal proteína inibidora da apoptose, a IAP, com o objetivo de reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção. Para isso, a alimentação dos aracnídeos foi reproduzida em laboratório, com sangue de coelhos infectados e não infectados por R. rickettsii.
“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, afirma Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP. “Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”
As taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela ficaram acima de 92%. Esses resultados sugerem que a alimentação do carrapato gera radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não sobrevivem.
FOCO NO HOSPEDEIRO. “Além de transmissor, o carrapato funciona como um reservatório de Rickettsia rickettsii no ambiente”, afirma Fogaça. “Uma vez infectada, a fêmea pode fazer a transmissão para a prole, mantendo a bactéria ativa por gerações consecutivas de populações de carrapatos.”
Os próximos passos da pesquisa são confirmar que a alimentação sanguínea é realmente o fator que promove a apoptose pela produção de espécies reativas de oxigênio e, possivelmente, expandir os experimentos para outras espécies de carrapato.
Mais benefícios
Além da importância médica, controle de infestação também traria ganhos para a pecuária
PECUÁRIA. Além da importância médica, com a diminuição da transmissão da bactéria para seres humanos, a pesquisadora destaca o impacto econômico que uma vacina capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária. Por se tratar de uma espécie sem preferência de alimentação determinada, o aracnídeo ataca também outros animais que estejam à disposição, como o gado, causando anemia e marcando seu couro. •
Fonte: O Estado de S. Paulo