Países árabes devem apresentar nos próximos dias uma proposta para criação do Estado da Palestina, disse nesta quinta-feira (22) o espanhol Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE). No Rio, para participar da cúpula de ministros das relações exteriores do G20, ele disse a jornalistas que a solução de dois Estados é a única que garante a segurança de Israel a longo prazo.
Segundo Borell, 26 dos 27 países membros da UE apoiam um cessar-fogo imediato e sustentável na Faixa de Gaza. Ele também chamou a atenção para o grande número de vítimas fatais na Cisjordânia. “Se as mortes na Faixa de Gaza ocorrem aos milhares, na Cisjordânia ocorrem às centenas”, alertou ele a um grupo de jornalistas.
“Todos concordam que a guerra deve acabar, mas não concordam sobre como fazer isso” disse ele, fazendo referência ao que foi discutido nas reuniões. “Nunca haverá segurança e estabilidade política para Israel enquanto a Palestina não tiver seus direitos garantidos”.
Perguntado sobre as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a ação militar de Israel em Gaza ao Holocausto, o diplomata disse acreditar que o brasileiro não quis fazer tal comparação. Após afirmar que a indústria da morte criada por Adolf Hitler não encontra paralelo na história, Borell usou um trocadilho em espanhol para amenizar a fala de Lula. “Tem um ditado que diz que comparação não é razão”.
Sobre a guerra na Ucrânia, o dirigente afirmou que o presidente da Rússia Vladimir Putin continua a destruir o país e que mira alvos civis. Ele lembrou da crise econômica causada pelo conflito, com aumento nos preços dos alimentos e da energia. Ressaltou, contudo, que as exportações de alimentos da Ucrânia estão retornando aos níveis pré-guerra, o que pode ser considerado positivo.
Aos colegas chanceleres do G20, Borell disse que a UE segue defendendo um apoio forte da região ao governo de Volodymyr Zelensky.
Tema do segundo dia de debates, a reforma das instituições multilaterais também foi comentada pelo espanhol. Segundo ele, o Brasil conseguiu abordar bem suas demandas e as conversas se deram em torno de uma mistura de “diagnóstico e terapia”. Defendeu, contudo, que não se trata de criar novas estruturas ou instituições, mas de mudar a mentalidade e a atitude.
Ao lembrar o formato da União Europeia, ele disse que os países europeus já estão acostumados ao multilateralismo e ponderou que o aumento do número de atores na governança global exigirá a criação de mais regras. “Acredito que o mais importante é ter atitudes que façam as instituições funcionarem”, comentou.
Fonte: Valor Econômico

