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No início de 2023, a energia solar fotovoltaica superou a eólica como a segunda maior fonte de eletricidade do Brasil, atrás apenas da hidrelétrica. Um ano e meio depois, sua potência instalada já é de 46 gigawatts (GW), representando 19,4% da matriz elétrica, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Dois terços dessa energia vêm de sistemas de pequeno porte, que beneficiam mais de 4 milhões de unidades consumidoras. Desde que foi regulamentado, em 2012, esse mercado já atraiu R$ 215 bilhões em investimentos e criou 1,4 milhão de empregos, estima a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (Absolar).
“Agora é o melhor momento para investir em energia solar, pois a tecnologia barateou muito e a conta de energia elétrica subiu”, resume o diretor-presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia. Ele destaca as diversas vantagens dessa fonte, como a aceleração da transição energética, o aumento da produtividade das empresas, a geração de empregos qualificados e o alívio do orçamento doméstico. “Ela é transformadora para famílias vulneráveis, que economizam até 90% na conta de energia”, assinala.
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Em uma década, o preço dos equipamentos caiu 86%, em média. A China e outros países asiáticos aumentaram a produção e reduziram custos. Houve também avanços nas placas solares, que tiveram a vida útil ampliada de 25 para 30 anos e passaram a converter mais radiação solar em eletricidade. Nos módulos de silício monocristalino, essa eficiência passou de 15% para até 23% e nos módulos bifaciais, que captam energia dos dois lados, ela chega a 30%. O Brasil está em situação vantajosa no cenário global, por causa de sua alta insolação. Aqui um sistema gera o dobro de eletricidade que na Alemanha, Japão e EUA.
A combinação desses fatores tornou os sistemas fotovoltaicos um ótimo investimento, e não apenas para grandes empresas. Em 2023, mais da metade das vendas de sistemas de geração própria foram financiadas, segundo a consultoria Greener. Os preços dos sistemas de pequeno porte caíram 30% em janeiro de 2024, na comparação com o mesmo mês de 2023, e o retorno do investimento ficou 25% menor para residências, com prazo médio de quatro anos.
A Absolar defende que o governo crie demanda por produtos nacionais, incentivando a sua instalação em órgãos públicos, por exemplo, mas sem protecionismo. Um dos desafios é reduzir a carga tributária de 80% sobre as baterias solares, mais alta que a do tabaco e de bebidas alcoólicas. “As baterias são o canivete suíço do setor elétrico, por sua versatilidade”, diz Sauaia. “Elas poderiam ser incluídas nos leilões de reserva de capacidade, para ajudar a descarbonizar a Amazônia, em substituição aos sistemas a diesel”, sugere.
Um estudo da consultoria Clean Energy Latin America (Cela) mapeou 140 contratos de compra e venda de energia elétrica de longo prazo (PPA na sigla em inglês) entre 2017 e 2023. Desses, 54 são de fonte eólica e 86 de solar, somando 4,2 GW médios de energia contratada por dez anos ou mais – o equivalente a 6% de toda a energia elétrica consumida pelo Brasil no ano passado. Os principais compradores são indústrias e comercializadoras. “O mercado livre está puxando o crescimento das renováveis”, constata a presidente da Cela, Camila Ramos. “Como o preço da energia embute muitos impostos e encargos setoriais, o consumidor está cada vez mais proativo na busca de fornecedores que os ajudem a reduzir as emissões e os custos.”
O presidente da Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, alerta que o crescimento da geração de renováveis precisa ser planejado para não prejudicar a sustentabilidade do setor elétrico. Ele ressalta que o desequilíbrio ocorre principalmente por causa da migração de grandes consumidores para o mercado livre com taxas incentivadas, enquanto os consumidores do ambiente regulado continuam pagando as tarifas mais altas das hidrelétricas, termelétricas e nucleares, indispensáveis à estabilidade do sistema. A associação pleiteia o rateio justo desses custos.
“A perspectiva para os subsídios à energia solar é de redução gradual, para equilibrar os custos e incentivar a sustentabilidade econômica”, observa o coordenador da prática de energia do BMA Advogados, Carlos Frederico Bingemer. “O governo federal deve avaliar cuidadosamente as alternativas para minimizar o impacto sobre os consumidores e garantir uma transição energética sustentável.”
Fonte: Valor Econômico