Por Rafael Vazquez e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
25/05/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
A queda dos preços de energia elétrica, com a redução da bandeira tarifária em todo o Brasil, ajudou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) a desacelerar na primeira quinzena de maio para 0,59%, de 1,73% em abril. Ainda assim, o resultado foi o maior para um mês de maio desde 2016 e veio acima da expectativa mediana do Valor Data, que era de 0,45%. No acumulado dos últimos 12 meses, a estimava era de 12,04%, mas veio em 12,20%, maior resultado desde novembro de 2003.
Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram interpretados como “negativos” e “preocupantes” pelos economistas ouvidos pela reportagem. Apesar da redução das contas de energia ter sido significativa – sem a deflação de 14,09% o IPCA-15 de maio seria de 1,28% – isso já era esperado e o efeito no índice não se repetirá. Assim, as surpresas que foram detectadas foram todas altistas.
“Mais um número ruim de inflação. Nada positivo para destacar”, comentou o economista do Santander Daniel Karp. “As surpresas foram em itens mais ligados aos núcleos. Isso deixa a leitura qualitativa pior.”
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A média dos cinco núcleos do IPCA-15 monitorados pelo Banco Central acelerou para 1,10% em maio, de 0,87% no mês anterior, segundo cálculos da MCM Consultores. Em 12 meses, a aceleração foi de 9,34% para 10,14%. As maiores preocupações estão na alta sobre bens industriais e serviços, o que incentivou os economistas do mercado a já iniciarem um trabalho de revisão tanto para a inflação no fechamento de maio e em 2022 quanto para o teto da taxa Selic no ciclo atual de alta.
“Na margem, o que tem pegado mais é a atividade econômica mais forte. Essa questão das cadeias globais ainda está pegando, a guerra entre Rússia e Ucrânia também, mas a maior novidade é que os dados de atividade, o mercado de trabalho, têm vindo melhor do que o esperado, refletindo a abertura da economia [após o período mais grave da pandemia]”, observou Karp. Essa é a principal novidade, aumentando a pressão no desempenho da inflação mês a mês.
O economista do Santander disse que o IPCA-15 reforçou a percepção de que o Banco Central poderá aumentar a taxa de juros além do que os economistas já esperavam. O banco tinha uma previsão de 13,25% para o fim do ciclo de alta da Selic, mas ele revelou que o número já está sob revisão com viés de alta.
A economista e sócia da gestora Armor Capital, Andrea Damico, também acendeu o alerta de revisão em sua equipe.
“Esse IPCA-15 tem potencial para alterar o plano de voo do Banco Central porque a abertura é extremamente ruim quando olhamos para os núcleos, serviços e bens industriais”, comentou ela. “Não tem um grande vilão. São vários vilões. Foi uma surpresa bastante espalhada. E o pior foi uma surpresa concentrada em núcleo de inflação. Não foi concentrada em bens administrados nem só na alimentação.”
Laura Moraes, economista da gestora Neo Investimentos, classificou a abertura dos dados como “muito ruim” e chamou a atenção para o índice de difusão, que mede a proporção de bens e serviços que tiveram aumento de preços no período.
O indicador caiu para 74,9% neste mês, vindo de 78,7% no anterior, mas veio do recorde da série histórica e continua alto, mostrando que a inflação segue espalhada pela economia brasileira.
“Não tem uma categoria única que tenha feito o índice vir acima do esperado. Veio com uma difusão muito grande, de 74,93%. Não é a difusão mais alta da série, mas é uma difusão bem alta e focada em itens de preços livres e núcleo, o que preocupa bastante”, disse Laura. “Para o fechamento do mês, provavelmente vai todo mundo acabar revisando para cima depois desse IPCA-15”, acrescentou.
De acordo com o IBGE, oito das nove classes de despesas do IPCA-15 tiveram alta em maio e em cinco delas o índice foi maior que o registrado em abril.
O resultado de maio teve como principal impacto o grupo transportes, com alta de passagens aéreas (18,40%) e combustíveis (2,05%). A alta de transportes foi de 1,80% em maio, menor que a de abril (3,43%), mas ainda assim fez com que grupo respondesse por 0,40 ponto percentual do índice.
Já o grupo de alimentos respondeu por 0,32 ponto percentual da alta de 0,59% do IPCA-15. Segundo o IBGE, a maior influência para a alta de 1,52% dos alimentos em maio veio dos alimentos para consumo no domicílio (1,71%). A alimentação fora do domicílio também acelerou na passagem abril de 0,28% 1,02% em maio.
“Nossa projeção para o IPCA [fechado] de maio é de 0,50%. Em breve, divulgaremos as projeções mensais de curto prazo com possíveis revisões. Para o ano, nossa projeção de inflação é de 9,2%”, declarou a economista da XP Tatiana Nogueira.
Fonte: Valor Econômico

