A economia argentina fechou o primeiro ano do governo de Javier Milei com uma contração de 1,7%, um resultado muito melhor do que o esperado, graças à recuperação da economia no segundo semestre. No entanto, apesar dos sinais animadores, há incertezas entre os analistas sobre a continuidade dessa recuperação em 2025, especialmente em razão das indefinições sobre o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o futuro regime cambial.
No quarto trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) argentino cresceu 1,4% em relação ao terceiro trimestre, quando a economia saiu da recessão e registrou um crescimento de 3,9%, conforme dados divulgados nesta quarta-feira (19) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
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Na comparação com o mesmo período de 2023, o PIB cresceu 2,1% no quarto trimestre, o primeiro aumento interanual desde o início do governo Milei. Para os analistas, os números positivos refletem, em grande parte, a correção fiscal implementada pelo governo. Para este ano, os analistas estimam um crescimento de 4,8% da economia, segundo pequisa mensal conduzida pelo banco central da Argentina.
A recuperação da economia no segundo semestre representa uma boa notícia ao presidente Milei, que enfrenta um cenário desafiador, enquanto aguarda a definição de um acordo com o FMI e crescente insatisfação nas ruas. Na tarde de ontem, grupos de aposentados, com apoio dos sindicatos, voltaram às ruas após confrontos violentos entre manifestantes e forças de segurança na semana passada.
“A leitura de que se está em um caminho de recuperação tem mudado a partir da suspeita do mercado de que o governo pode não conseguir manter o nível de ajustes sem complicações sociais”, disse Dante Moreno, analista da EPyCA Consultores. “Os últimos acontecimentos no mercado financeiro e o acordo ainda não finalizado com o FMI terão impacto na evolução futura da economia argentina”, afirmou Moreno.
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Esse clima de tensão tem prejudicado a imagem de Milei, que hoje é negativa para 52% dos argentinos, segundo pesquisa de fevereiro da D’Alessio IROL e da consultoria Berensztein.
O resultado negativo do PIB em 2024 foi puxado pela queda de 4,2% no consumo privado e contração de 17,4% na formação bruta de capital fixo.
“Desde o início do ano, o clima político tem mudado, com desgaste na imagem do governo, principalmente devido a erros não forçados, como o escândalo das criptomoedas”, afirmou o analista e consultor argentino Sergio Berensztein. “Mais recentemente, uma corrida cambial voltou a pressionar as escassas reservas do Banco Central por conta da incerteza e da demora do governo em chegar a um acordo com o FMI.”
A Câmara dos Deputados argentina concedeu ontem a aprovação preliminar do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), dando autonomia para o governo Milei para negociar o acordo com FMI sem precisar do Legislativo. O empréstimo, ainda em negociação, reforçaria as reservas do Banco Central e permitiria ao governo retirar o controle cambial (cepo), um dos principais obstáculos para o país atrair investimentos para dar continuidade à recuperação.
Ainda não se sabe exatamente qual seria o valor do novo empréstimo — com base no programa de Mecanismo de Financiamento Estendido (EFF, na sigla em inglês) do FMI. Nem as condições do Fundo para liberar o novo crédito, que muitos analistas acreditam que deve incluir alguma desvalorização do peso.
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Faltando alguns meses para as cruciais eleições legislativas de outubro, Milei enfrenta o dilema de levantar os controles cambiais que travam a economia, o que poderia gerar uma alta inflacionária, ou manter o peso sobrevalorizado até as eleições, colocando em risco a competitividade do país e a entrada de dólares.
Outro relatório também divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Indec reforçou o impacto do câmbio valorizado sobre as exportações argentinas. Em fevereiro, o país registrou um superávit comercial de US$ 227 milhões, pouco acima do saldo positivo de US$ 162 milhões de janeiro, mas bem abaixo da expectativa do mercado de um superávit de U$$ 650 milhões.
O resultado da balança comercial de fevereiro reflete a aceleração das importações, que cresceram 42% ao ano impulsionadas pelo peso sobrevalorizado, que algumas consultorias privadas estimam em 40%-50%, enquanto as exportações cresceram apenas 10%.
Fonte: Valor Econômico

