A Pfizer está intensificando sua disputa para impedir que a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk atrapalhe sua aquisição de uma empresa de biotecnologia voltada à obesidade. A empresa lançou uma ofensiva legal que retrata a Novo como uma monopolista europeia interferente e a si mesma como uma defensora dos consumidores americanos.
Nesta segunda-feira (3), a Pfizer entrou com uma ação na Justiça federal alegando que a tentativa da Novo de comprar a biotech americana Metsera é “uma das fusões mais cínicas e anticompetitivas já contempladas”. Alega que a Novo está tentando “eliminar” os medicamentos da Metsera como uma ameaça à sua linha de produtos para perda de peso, por meio de uma estratégia de “pagar para atrasar”.
Essa ação judicial segue outra movida pela Pfizer, na sexta-feira (31), em um tribunal estadual. A campanha legal da Pfizer parece ter dois públicos-alvo: o juiz federal, que pode salvar o negócio para a Pfizer, e a Casa Branca, onde os altos preços dos medicamentos para perda de peso baseados em GLP-1 vendidos pela Novo e pela Eli Lilly têm sido foco de atenção nas últimas semanas.
“A Pfizer, uma das maiores e mais bem estruturadas farmacêuticas dos EUA, tenta há anos entrar no mercado de GLP-1 e competir com a Novo Nordisk”, escreveram os advogados da Pfizer na ação desta segunda-feira (3). “A entrada da Pfizer reduziria os preços dos medicamentos GLP-1 por meio da concorrência.”
A Novo rebateu em comunicado, nesta segunda-feira, dizendo que a alegação da Pfizer de que estaria tentando sufocar a Metsera como concorrente ou suprimir a inovação é “absurda” e sem fundamento. “Em vez de competir por preço, a Pfizer adotou uma abordagem altamente incomum e aparentemente desesperada ao entrar com uma ação antitruste”, disse a Novo.
A Metsera também criticou a Pfizer em comunicado separado, chamando os argumentos da empresa de “absurdos”. “A Pfizer está tentando litigar para comprar a Metsera por um preço mais baixo do que o oferecido pela Novo Nordisk”, disse a Metsera.
Os recibos de ações (ADRs) da Novo nos EUA caíram 2,6% na quinta-feira após o anúncio da oferta pela Metsera, e mais 1,2% na sexta. Na manhã de segunda-feira, estavam em queda de mais 1,7%.
Na semana passada, a Novo anunciou que pagaria US$ 6 bilhões em dinheiro pela Metsera, em uma estrutura de negócio incomum, na qual os acionistas da Metsera receberiam os pagamentos antes da aprovação regulatória, dando à Novo controle efetivo da empresa enquanto a aprovação ainda está pendente.
A Novo está em meio a uma crise, após uma forte queda nas ações iniciada no meio do ano passado. Recentemente, a empresa perdeu seu diretor-presidente e todos os diretores independentes do conselho.
O acordo da Pfizer para adquirir a Metsera por US$ 4,9 bilhões em dinheiro, mais pagamentos condicionais futuros, anunciado no fim de setembro, é a mais recente tentativa da empresa de entrar no mercado de perda de peso, após o fracasso de seus esforços para desenvolver sua própria pílula para emagrecimento.
A Metsera está desenvolvendo várias injeções para perda de peso, incluindo uma que pode ser administrada mensalmente, em vez de semanalmente como os medicamentos da Lilly e da Novo. Para a Pfizer, representa uma última chance de conquistar uma fatia das receitas desse mercado, atualmente dominado por seus concorrentes.
Agora, a Pfizer está se apoiando em correntes políticas da era Trump para salvar o negócio. A empresa chegou a um acordo com a Casa Branca sobre preços de medicamentos e tarifas farmacêuticas, enquanto Lilly e Novo ainda não anunciaram acordos semelhantes. Em outubro, o presidente Donald Trump afirmou que pretende reduzir os preços dos medicamentos de marca para emagrecimento nos EUA para “cerca de US$ 150”, uma fração dos preços atuais do Wegovy (Novo) e Zepbound (Lilly).
Na ação judicial de segunda-feira, apresentada no Tribunal Distrital dos EUA em Delaware, a Pfizer vinculou sua tentativa de salvar a aquisição da Metsera ao foco de Trump nos preços dos medicamentos. Alegou que a Novo fez a oferta para manter a Pfizer — e os medicamentos em desenvolvimento pela Metsera — fora do mercado americano de perda de peso.
“Na prática, a Novo Nordisk está subornando a Metsera, seu conselho de administração e seus acionistas controladores para controlar o destino da empresa e impedir que seus produtos inovadores cheguem ao mercado pelo maior tempo possível”, escreveram os advogados da Pfizer.
“A Pfizer está comprometida em lançar esses medicamentos rapidamente e competir vigorosamente com a Novo Nordisk, o que inevitavelmente resultaria em preços mais baixos, maior oferta e mais inovação, beneficiando todos os americanos.”
A ação pede que o juiz federal bloqueie a fusão da Metsera com a Novo e proíba qualquer comunicação entre as duas empresas. Também solicita indenizações.
A Novo afirmou em comunicado que sua proposta está em conformidade com as leis antitruste e que investiu mais de US$ 24 bilhões nos EUA na última década. “A Pfizer está fundamentalmente errada sobre a dinâmica competitiva deste mercado”, disse a empresa. “Este é um espaço altamente competitivo, com pelo menos uma dúzia de outros produtos sendo desenvolvidos por grandes farmacêuticas.”
A Novo também negou estar tentando impedir que os medicamentos da Metsera cheguem ao mercado. “Os ativos da Metsera são altamente complementares aos produtos e ao pipeline da Novo Nordisk, e traríamos nossa expertise em desenvolvimento e fabricação para acelerar a comercialização bem-sucedida desses ativos”, afirmou.
A ação judicial desta segunda-feira segue outra movida pela Pfizer na sexta-feira anterior, no Tribunal de Chancelaria do Estado de Delaware. Essa ação também busca impedir que a Novo interfira na aquisição da Metsera pela Pfizer. A Pfizer pede, entre outras coisas, que o juiz estadual declare que a oferta da Novo não é melhor do que a sua, o que impediria a Metsera de considerá-la, conforme os termos do acordo anterior com a Pfizer.
Em resposta à ação estadual, a Metsera afirmou, na sexta-feira, que “discorda das alegações” feitas pela Pfizer.
Fonte: Valor Econômico