A Pfizer juntou-se nesta terça-feira (9) às grandes farmacêuticas em busca de novos medicamentos para perda de peso nos laboratórios de biotechs chinesas, justamente quando as autoridades dos EUA intensificam os esforços para enfraquecer o crescente setor de biotecnologia da China.
A Pfizer disse que concordou em pagar US$ 150 milhões adiantados a uma subsidiária de uma grande biofarmacêutica chinesa chamada Shanghai Fosun Pharmaceutical pelos direitos de um medicamento oral de GLP-1 que está na fase de ensaios clínicos iniciais em humanos. A subsidiária da Fosun, chamada Yao Pharma, poderá receber pagamentos por etapas que podem chegar a US$ 1,9 bilhão, além de possíveis royalties, à medida que o programa avançar.
O acordo de licenciamento é uma aposta em estágio inicial na demanda crescente por medicamentos para perda de peso. A Pfizer deve ficar de fora das primeiras ondas do novo mercado de perda de peso depois que seu próprio programa interno naufragou no início deste ano. No mês passado, ela fez uma grande aposta nos medicamentos para perda de peso em estágio mais avançado que estão sendo desenvolvidos pela biotech Metsera, que a Pfizer comprou por US$ 7 bilhões à vista, além de bilhões adicionais em potenciais pagamentos por metas.
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Agora, para ajudar a completar seu pipeline, a Pfizer está olhando para a China, seguindo o caminho trilhado por muitos de seus pares nos últimos meses. Embora os medicamentos da Metsera mais próximos de chegar ao mercado sejam injetáveis, o medicamento da Yao que a Pfizer acaba de licenciar pode permitir que ela ofereça uma opção oral no mais longo prazo.
O setor de biotecnologia chinês explodiu em produtividade nos últimos anos, levando grandes farmacêuticas globais a correr para o país para licenciar novos medicamentos promissores. Muitos dos medicamentos até agora são os chamados ativos “me too”, compostos inéditos que imitam remédios já comprovados, mirando os mesmos mecanismos biológicos.
Isso despertou preocupações em Washington, tanto pela saúde do setor de biotecnologia dos EUA, que depende de investimentos das grandes farmacêuticas, quanto por questões mais amplas de segurança nacional.
No início desta semana, líderes do Congresso divulgaram uma nova versão da Lei de Autorização de Defesa Nacional, que provavelmente será aprovada nos próximos dias, e que inclui dispositivos da Lei Biosecure, uma medida debatida há muito tempo que, nesta última formulação, proibirá contratados e beneficiários de verbas federais de usar serviços ou equipamentos de certas biotechs chinesas.
As implicações da medida podem ser amplas e parecem ter sido desenhadas para enfraquecer o setor de biotecnologia chinês como um todo. “Vemos isso como uma aceleração de políticas que buscam desacoplar a biotecnologia dos EUA e da China”, escreveu esta semana Chris Meekins, analista de políticas de saúde da Raymond James.
A legislação tem impacto mais imediato para empresas como WuXi AppTec e WuXi Biologics, que foram especificamente mencionadas em versões anteriores do projeto e que fornecem serviços de desenvolvimento e manufatura para uma longa lista de farmacêuticas americanas. Ainda não está claro como isso poderá afetar, no longo prazo, os acordos entre grandes farmacêuticas e biotechs chinesas.
Esses acordos de licenciamento têm sido particularmente intensos no mercado de perda de peso: a Merck licenciou um GLP-1 oral da Hansoh Pharma por US$ 112 milhões adiantados em dezembro de 2024, e a Regeneron Pharmaceuticals licenciou um GLP-1/GIP da mesma empresa em julho por US$ 80 milhões adiantados.
A AstraZeneca licenciou um GLP-1 oral da biotech chinesa Eccogene por US$ 185 milhões adiantados em novembro de 2023, e a Novo Nordisk, em março deste ano, licenciou um medicamento GLP-1/GIP/glucagon da biotech chinesa United Laboratories por US$ 200 milhões adiantados.
O mais observado entre os acordos envolvendo medicamentos chineses para perda de peso é o fechado pela chinesa Hengrui Pharma e a americana Kailera Therapeutics, uma biotech privada lançada em outubro de 2024 para desenvolver um conjunto de ativos para perda de peso licenciados da Hengrui. Um estudo conduzido pela Hengrui apresentou resultados muito promissores para um dos medicamentos em julho.
Agora, o acordo da Pfizer se soma à lista de acordos recentes de licenciamento de medicamentos para perda de peso. A Yao Pharma está atualmente conduzindo um estudo de Fase 1 na Austrália com o GLP-1 que a Pfizer licenciou. A Yao concluirá o ensaio, e a Pfizer disse que testará o medicamento em combinação com outros remédios que já estão em seu “pipeline”.
A Pfizer não deu detalhes em seu comunicado à imprensa, mas o analista David Risinger, do Leerink Partners, escreveu no início desta terça-feira que a “estrutura química” do medicamento da Yao é semelhante à do orforglipron, o comprimido de GLP-1 que a Eli Lilly está se preparando para lançar no próximo ano.
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Fonte: Valor Econômico