Atento ao potencial de pagamento de dividendos que a empresa pode oferecer, as ações da Petrobras voltaram a chamar a atenção de Carlos Sequeira, chefe de pesquisa do BTG Pactual. Em entrevista ao Valor, o profissional contou que só realiza mudanças no portfólio recomendado de dez ações da casa no começo de cada mês, mas diz que teria ficado com os papéis da estatal em vez das ações da Prio, como está na carteira agora, se pudesse escolher novamente.
Diante de um cenário de maior incerteza com o ciclo de alta de juros, a avaliação de Sequeira é que a melhor alternativa agora é se posicionar em ações de boas pagadoras de dividendos. “BB e BB Seguridade, por exemplo, estão baratas”, diz.
Ainda que o pacote chinês tenha causado certa euforia, Sequeira conta que não está “com pressa” para montar posições em commodities e que medidas anteriores não surtiram o efeito esperado.
Valor: O Brasil pode aproveitar essa janela de corte de juros nos EUA e atrair o estrangeiro?
Carlos Sequeira: Mercados emergentes tendem a se beneficiar do corte de juros no mercado americano. O Brasil está razoavelmente arrumado. Democracia pujante, não tem problema político. O investidor estrangeiro está louco para comprar Brasil; está se “coçando” para fazer isso. Ele só precisa de uma ajudinha, [saber] que vai ficar tudo certo com as contas públicas. O ajuste para cima da Selic pode ter surpreendido alguns porque o mundo inteiro está cortando juros e isso talvez tenha gerado dúvidas sobre o que está acontecendo no Brasil. Mas acho que o estrangeiro vai rapidamente entender que é um movimento absolutamente técnico. A economia cresceu demais, mais do que qualquer um esperava. Faz um ajuste e provoca uma pequena freada para dar uma arrumada na casa. Devia ser um ciclo rápido e curto para fazer essa arrumação. O investidor estrangeiro compra o Brasil, mesmo com um ciclo de Selic subindo 150 a 200 [pontos-base]. Depois disso, estaríamos prontos para voltar a crescer.
Valor: Se o ciclo de alta da taxa Selic não for tão curto, isso pode afastar o estrangeiro?
Sequeira: Se o ciclo for maior e mais longo, o estrangeiro pode pensar que estava comprando Brasil porque o país ia crescer e a economia ia bem. Pode afetar. De repente, ele pode se questionar se a economia vai desacelerar ou crescer pouco. Mas um ciclo mais longo e maior só acontece se você tiver notícias ruins do lado fiscal. Alguns setores sofrem mais do que outros, como o varejo, por exemplo, que depende muito de renda crescendo e de crédito disponível.
Valor: Um relatório do BTG apontou que os investidores estão comprando níveis recordes de proteção. O que impulsiona isso?
Sequeira: Comparamos a quantidade de “puts” [direito de vender] que foram compradas no mercado com a quantidade de “calls” [direito de comprar]. A relação entre “put/call” está atualmente em 2,4 vezes, contra uma média de 1,2 vez. Quando a pessoa compra muita “put”, ela compra o direito de vender no nível atual e, se cair, ela não perde tanto dinheiro. O Ibovespa deu aquele rali entre julho e agosto, saindo dos 120 mil para os 135 mil pontos. O mercado avaliou que poderia fazer sentido ter uma proteção com a bolsa a 135 mil pontos, Selic subindo e o fiscal esquisito. A chance de eu ter um “profit taking” [ter um ganho] com essas notícias que vêm pela frente, com o orçamento que, provavelmente, ninguém acreditava que seria uma maravilha – e não foi – é grande. Você viu a disposição do governo em ajustar as contas fiscais no relatório bimestral. E você pode me perguntar por que o investidor não vendeu simplesmente? Por um lado, o gestor de “equities” [ações] aqui pensou que se ele vender Brasil e vier um caminhão de dinheiro de estrangeiro com a redução dos juros pelo Fed e o Ibovespa andar, ele teria problemas. Por outro lado, pode ter pensado em manter a posição em ações e comprar o direito de vender porque vai que o negócio degringola no Brasil. O mercado está comprado no risco, porém com um seguro mais alto, bem mais alto do que a média histórica.
Valor: O foco agora deve ser em ações pagadoras de dividendos?
Sequeira: Em um cenário com mais incerteza, mas que você quer ficar exposto a ações e não pular fora do mercado, porque pode ser que tenha fluxo e o mercado suba, uma alternativa é se posicionar via pagadoras de dividendos. Elas são mais resilientes na queda. Se tiver um rali enorme, elas não vão subir igual à bolsa inteira, mas vão avançar, provavelmente, muito mais do que o CDI no mês. É uma maneira de manter exposição à bolsa, com mais proteção. Tenho percebido muitos investidores com essa estratégia de buscar pagadores de dividendos. Banco do Brasil é um pagador bom. Itaú é razoável. Petrobrastambém é uma boa pagadora. É um papel popular nas carteiras de investidores fora e dentro do Brasil, mesmo com toda a confusão de governança. Mas estamos sem Petrobras agora na carteira de dez ações, apenas na de dividendos. Tivemos em boa parte do ano, mas botamos Prio no lugar. Teria sido melhor ficar com Petrobras. O mercado tem valorizado o pagamento de dividendo. Entre as “large caps”, temos BB Seguridade, CPFL Energia, Tim e Ambev. Na parte de small caps, as construtoras de baixa renda estão vivendo um momento incrível. As empresas que trabalham com o Minha Casa, Minha Vida estão indo muito bem. A Plano&Plano, por exemplo, opera na baixa renda e é boa pagadora de dividendos. Já a Direcional é outro exemplo um pouco maior e com mais liquidez. BR Partners, Marcopolo e Odontoprev também estão na lista.
Valor: Está otimista com o setor financeiro para dividendos?
Sequeira: Banco do Brasil e BB Seguridade estão baratas. Banco do Brasil negocia abaixo de 4 vezes o P/L [preço pelo lucro]. Itaú não é mais a “barateza” que era, mas não acho caro para a qualidade e confiabilidade de entrega de resultados. É uma boa empresa para se ter no portfólio. Sólida, bem operada, paga dividendos. Tínhamos 15% e cortamos para 10%, mas continuo achando um papel para ter em qualquer cenário. Se tiver um rali e o governo decidir arrumar o orçamento de uma vez, o Itaú não vai andar igual a outros papéis. Varejo e construção civil vão andar muito mais rápido. Mesmo outros ativos financeiros vão muito mais rápido. O BTG Pactual vai andar muito mais rápido do que o Itaú num cenário de risco em queda, a B3 vai andar mais rápido, a XP. Agora, se for ficar ruim, o Itaú vai continuar performando, mas um pouco pior.
Valor: E commodities?
Sequeira: Não tenho nada em papel e celulose, aço. Temos petróleo, via Prio. Tinham vários eventos micro para acontecer, especialmente relacionados à volta do Ibama. O Ibama ficou em greve por muito tempo e isso fez com que o principal campo novo deles não entrasse em operação porque o Ibama não dava licença. Com o fim da greve, isso poderia ser destravado. Entre as commodities, a que eu sinto mais conforto para estar é petróleo. Temos exposição via Prio. Só fazemos a mudança de portfólio uma vez por mês. Mas, se eu voltasse no início do mês com esse quadro que se desenhou agora de incerteza e uma valorização maior do dividendo, eu teria ficado com Petrobras [na carteira de dez ações]. Talvez seja o call que faz mais sentido hoje dentro de commodities.
Valor: Mineradoras e siderúrgicas ficam de fora?
Sequeira: É cedo para fazer um movimento nesses setores. As medidas tomadas na China precisam surtir efeito. Vimos vários ciclos de medidas e nenhuma surtiu o efeito esperado. Eu não tenho pressa.
Valor: O que chama mais atenção em Petrobras?
Sequeira: Eles estão pagando dividendo. No orçamento, há uma previsão de um dividendo razoavelmente grande. Mesmo diante de todas as discussões sobre se paga ou não, a verdade é que a realidade tem se imposto e o governo tem usado a Petrobras para ajudar a fechar as contas públicas, com uso do dividendo. Acho que é o melhor uso do dinheiro da Petrobras. Não sei se ficou mais destacada porque paga dividendo e, provavelmente, vai continuar pagando, ou se é porque o governo mostrou na peça orçamentária a expectativa de recebimento de dividendo que é relativamente grande e isso dá um conforto para quem pudesse ter medo. Cada vez que o mercado fica mais confiante que o dividendo vai ser pago, a ação reage bem.
Fonte: Valor Econômico

