Com participação de universidades e da Embrapa, crescem estudos sobre a biodiversidade brasileira
Por Martha Funke — Para o Valor, de São Paulo
23/05/2022 05h03 Atualizado há 6 horas
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Maria Cleria Inglis, da Embrapa: banco genético com 120 mil amostras de plantas conservadas em semente — Foto: Divulgação
Pesquisas da diversidade brasileira se multiplicam e chegam a atrair investidores de peso. O cenário é heterogêneo e favorece estudos com aplicações em áreas como agricultura ou recuperação de florestas, em detrimento de campos como fármacos ou cosméticos e análises mais refinadas no universo ômico, tecnologias para estudar as moléculas das células que ajudariam o aproveitamento do potencial do país.
O sequenciamento genômico da mandioca pela Embrapa gerou seis cultivares ricos em betacaroteno (vitamina A). Marcadores moleculares são usados para cruzamentos e melhoria da engorda em piscicultura. Segundo a chefe-geral da unidade recursos genéticos e biotecnologia, Maria Cleria Inglis, a unidade coordena as coleções de microorganismos da Embrapa, mantém banco genético de 120 mil amostras de plantas conservadas em semente e tem mais 50 mil para inserir.
“A composição molecular traz valor agregado à biodiversidade”, ressalta Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista e coordenadora do programa Biota/Fapesp. Os desafios são o custo envolvido para sínteses ou produção via biotecnologia e o vácuo entre descobertas e inovação. Ela já participou de projetos com Eurofarma e Apsen, mas agora sua parceira é a alemã Symrise, produtora de insumos para indústrias de alimentos, nutrição, saúde e cosméticos.
Um dos achados de sua equipe do departamento de química da Unesp foi a alta concentração de moreloflavora na casca do amazônico bacuri – 100 miligramas da substância antioxidante e anti-inflamatória custam até US$ 960 no mercado mundial. Outra iniciativa é um banco de dados com compostos oriundos da biodiversidade brasileira, em colaboração com a Sociedade Americana de Química e financiamento de R$ 10 milhões da Fapesp e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Produtos Naturais (INCT-BioNat).
Já o centro em Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose), iniciativa do CNPq e do MCTI com apoio de Fapesp e parceiros internacionais, entre outros, visa sintetizar pesquisas de médio e longo prazo. Sua primeira chamada, em 2019, atraiu 68 propostas e selecionou sete para incentivo de R$ 500 mil, como a situação do ecossistema e recursos de recifes na costa brasileira, coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina, e a interação entre biodiversidade e saúde, liderado pela Fiocruz, conta a coordenadora Mercedes Bustamante. Segunda chamada, em parceria com a França, elegeu dois projetos, relacionados a fauna e rede de fungos tropicais.
Além de criação de bibliotecas e pesquisas em biodiversidade, o programa Biota/Fapesp mira transformações por meio de políticas públicas. Uma delas é o Plano Estratégico de Monitoramento e Avaliação do Lixo do Mar, diz Alexander Turra, coordenador do programa e da cátedra Unesco para sustentabilidade do oceano. A iniciativa da secretaria paulista de Infraestrutura e Meio Ambiente vai se espalhar para outros Estados costeiros e tem financiamento norueguês de R$ 3 milhões até 2025.
Em outra vertente, pesquisa de longo prazo aborda a Mata Atlântica no litoral norte paulista desde 2005, inclusive sua regeneração. Uma das descobertas é a concentração de bactérias que fixam nitrogênio em espécie endêmica de bambu, conta a coordenadora Simone Vieira. Um exemplo que uniu academia a investidores é a Re.green, empresa de restauração florestal em larga escala que já captou R$ 400 milhões e prevê recuperação de 1 milhão de hectares de Mata Atlântica e Amazônia.
A parceria com laboratório de silvicultura tropical da Esalq mira gerar conhecimento, conta o coordenador Pedro Bracalion. Outros exemplos são Bayer, na busca de novos herbicidas para controle de plantas invasoras em restauração, e Suzano, para geração de indicadores como altura média da floresta por sensoriamento remoto para dimensionar o estoque de carbono. Projeto de longo prazo para estudar o tema tem financiamento Fapesp, AES Tietê, Silvamo, WWF e agência holandesa de apoio à pesquisa (NWO), entre outros.
Empresas apoiam as pesquisas. O Legado das Águas, da Reservas Votorantim, inclui pesquisa científica no Centro de Biodiversidade, já mapeou o DNA de mais de 50 plantas e gerou achados como antas albinas e uma nova espécie de orquídea, detalha David Canassa, diretor da Reservas Votorantim.
Fonte: Valor Econômico
