Por Gabriela Ruddy — Do Rio
06/10/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
A Petrobras voltou a praticar preços do diesel e da gasolina defasados em relação ao mercado externo, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Com a alta internacional do petróleo, o tipo Brent, principal referência, encerrou a quarta-feira, 5, a US$ 91,61 o barril para dezembro, alta de 1,99%. O diesel da Petrobras é vendido a R$ 4,89 o litro, em média, desde 19 de setembro. O litro da gasolina está em R$ 3,53 desde 1º de setembro.
Segundo a Abicom, na manhã de quarta a gasolina vendida nas refinarias da estatal estava, em média, 8% abaixo do preço de paridade internacional, o que indicava a necessidade de reajuste de R$ 0,28 por litro para alcançar as cotações no exterior, conforme a política da empresa de seguir os preços internacionais. No diesel, os preços eram 3% menores do que no exterior, com potencial de aumento de R$ 0,17 por litro, em média.
“Nas últimas semanas, quando houve redução [no preço internacional], a Petrobras acompanhou e também diminuiu nas refinarias. Então o que se espera é que a empresa repasse agora os aumentos, com anúncios de reajustes nos preços tanto do diesel quanto da gasolina nas próximas horas ou, no máximo, dias”, disse o presidente da Abicom, Sérgio Araújo.
Nos cálculos da consultoria StoneX, considerando as cotações ao fim da tarde desta quarta-feira, o diesel da Petrobras estava 8,4% abaixo do mercado externo, enquanto a gasolina tinha espaço para um reajuste de 6,4% para alcançar a paridade. O consultor em gerenciamento de risco da StoneX, Pedro Shinzato, acredita que a companhia não fará reajustes imediatos. “A Petrobras tem sido muito cautelosa e espera o mercado internacional chegar a um novo patamar antes de um reajuste. E, quando reajusta, a empresa tem feito isso apenas parcialmente.”
Ontem, o portal G1 informou que o governo estaria pressionando a Petrobras a segurar um aumento nos combustíveis até o segundo turno das eleições, em 30 de outubro. Procurada, a companhia não se manifestou.
Nos últimos meses, a Petrobras acelerou os cortes nos preços, com a queda internacional do barril. Desde julho, foram quatro cortes na gasolina, que acumula queda de 19,22%, e três reduções no diesel, com redução acumulada de 12,84%. O cenário é diferente do contexto da alta dos preços internacionais este ano, quando a companhia ficou quase três meses sem alterar a gasolina. No primeiro semestre, houve três aumentos na gasolina (janeiro, março e junho) – no diesel, além destes, ocorreu um também em maio.
A defasagem prejudica importadores, que suprem cerca de 30% da demanda nacional por combustíveis, e gera incertezas para o abastecimento. Quando os preços da Petrobras estão abaixo do mercado, importações por empresas independentes são inviáveis.
Nos últimos dias, o barril de petróleo subiu no mercado global. Ontem, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) anunciou uma redução de 2 milhões de barris por dia na produção, o que vai restringir a oferta. O Goldman Sachs estima que as cotações do Brent podem ficar próximas aos US$ 130.
O banco indica que uma intervenção na Petrobras em 2023 seria negativa em relação ao cenário atual, mas que o impacto negativo pode ser menor do que o ocorrido na Presidência de Dilma Rousseff (PT), quando a estatal teve prejuízos com preços abaixo do exterior. Lula, candidato do PT à Presidência, tem criticado a política de paridade. O BTG Pactual afirmou que um resultado apertado nas eleições seria boa notícia, pois a disputa acirrada tende a moderar discursos e reduz a percepção de alterações no plano estratégico e na política de preços e de dividendos.
Fonte: Valor Econômico

