Por André Guilherme Vieira — De São Paulo
08/09/2022 05h01 Atualizado há 2 horas
Responsáveis por institutos de pesquisas de intenção de voto afirmam que o presidente Jair Bolsonaro (PL) dificilmente irá crescer nos levantamentos em função das manifestações de 7 de setembro, e também não será prejudicado por elas. “O 7 de setembro simplesmente nem ajuda, nem atrapalha o Bolsonaro”, afirma o pesquisador na área de políticas públicas e análises eleitorais do instituto Ideia, Maurício Moura.
“Neste momento estamos com um nível muito alto de voto já definido por parte do eleitor, em torno de 80%, mostram as pesquisas, número mais alto do que qualquer ano eleitoral a que a gente tenha acesso a dados. E há uma parcela de apenas cerca de 12%, 13% que declaram que podem mudar de voto”, afirma o pesquisador.
“Essas pessoas que podem mudar de voto pertencem à classe C, ganham de dois a cinco salários mínimos e estão preocupadas com a economia, com a inflação de alimentos, com a informalidade do mercado de trabalho. Elas estão totalmente desligadas desses eventos que basicamente pregam para os convertidos”, diz o pesquisador.
Moura observa também que a base bolsonarista que sustenta o atual presidente corresponde a algo entre 20% e 25% do eleitorado e que o restante que declara voto em Bolsonaro nas pesquisas o faz por rejeitar o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que até agora aparece liderando os levantamentos de intenção de voto.
“Esses atos de 7 de Setembro são neutros para o Bolsonaro do ponto de vista eleitoral. E, na minha visão, isso acontece em uma eleição em que se nada mudar para Bolsonaro, ele perde”, afirma. “Esse discurso [do 7 de setembro] está totalmente descolado do público que ele precisa conquistar para ganhar a eleição”.
O pesquisador ressalta que no cenário eleitoral que sugere cristalização, a classe C é a fatia do eleitorado que “está em jogo” na disputa presidencial deste ano.
“São essas as pessoas que podem mudar de voto, elas fazem parte de um grupo que tem concentração grande na região Sudeste e o subgrupo tem maior concentração de mulheres e pessoas mais jovens, com idades até 40 anos”, afirma. “Mas é preciso lembrar que se esse grupo está aberto à mudança de voto, conforme mostram as pesquisas, hoje ele é majoritariamente inclinado a votar no Lula”.
Na avaliação do pesquisador e CEO da Atlas Intelligence, Andrei Roman, Bolsonaro não soube capitalizar o fato de multidões terem comparecido aos eventos em vários Estados.
“Era a oportunidade do Bolsonaro de se contrapor às pesquisas de intenção de voto que mostram o Lula na dianteira da disputa eleitoral”, afirma. “Era o retrato do dia até o discurso do Bolsonaro em Brasília. Aí ele faz uso repetidamente da expressão ‘imbrochável’ diante da multidão, na frente da mulher dele. É o tipo de gafe que leva a discussão para o campo da comédia, do irrisório”, disse.
Apesar da presença de apoiadores de Bolsonaro nos atos de 7 de setembro, monitoramento da Quaest Consultoria feito até às 18 horas de quarta-feira mostrou que 53% de 316 mil menções coletadas nas redes sociais apresentaram posicionamento crítico aos atos e ao próprio presidente Jair Bolsonaro – principalmente em razão da fala misógina e da referência à Michelle durante o discurso na Esplanada.
Fonte: Valor Econômico

