16 Jun 2023 EDUARDO LAGUNA
Um dia após a agência de classificação de risco S&P ter anunciado melhora para a perspectiva da nota de crédito do País – de estável para positiva –, pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) relacionaram a revisão à herança das reformas realizadas nos últimos anos e apontaram uma evolução de ambiente tanto doméstico quanto internacional. Porém, mostraram ceticismo quanto à possibilidade de o Brasil recuperar o grau de investimento.
Durante o 2.º Seminário de Análise Conjuntural, promovido em parceria com o Estadão, Silvia Maria Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), observou que houve diminuição do risco de o governo investir em políticas equivocadas, bem como dificuldade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reverter reformas como a autonomia do Banco Central (BC) e o marco do saneamento.
Silvia acrescentou que vê viés positivo nos mercados globais, mas ponderou que, com crescimento da economia brasileira abaixo de 2%, baixa taxa de investimentos e déficits primários, será difícil o Brasil voltar a ter grau de investimento.
Em avaliação parecida, Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre/FGV, apontou que as incertezas domésticas estão sendo resolvidas de maneira favorável, enquanto Estados Unidos e Europa se aproximam do fim do ciclo de alta dos juros.
HERANÇA FAVORÁVEL. Para Castelar, o governo assumiu com uma herança favorável de redução da dívida bruta e autonomia do BC, que permitiu ao País resistir à pressão de Lula por corte dos juros. “A notícia de ontem (quartafeira) reflete as reformas dos governos anteriores. A gente está se beneficiando de coisas feitas no passado que não foram alteradas, apesar da pressão do governo atual”, avaliou o pesquisador.
José Júlio Senna, chefe do centro de estudos monetários do Ibre, considerou que a revisão de perspectiva pela S&P serve para mostrar a eficiência da ortodoxia na política econômica. Ele citou o fim dos subsídios nas taxas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a privatização da Eletrobras entre as iniciativas que começam a ter efeitos na percepção de risco, ao mesmo tempo que o governo teve derrota na tentativa de mudar o marco do saneamento e o BC resiste aos ataques contra sua autonomia.
Fonte: O Estado de S. Paulo

