Desenvolver ideias é um processo que demanda diálogo e parcerias

Empresas que se destacam em 25 setores da economia vão além dos processos internos para ganhar participação no ecossistema inovador.

Os consistentes aportes da Eurofarma, líder entre farmacêuticas, para desenvolvimento de inovação interna foram reforçados recentemente por um fundo corporativo de investimento: ao todo, serão investidos até US$ 100 milhões em biotechs que tenham projetos em fase inicial de descoberta e desenvolvimento de medicamentos, diz Martha Penna, vice-presidente de inovação da empresa.

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A ciência caminha para a floresta

Bioeconomia é compatível com a floresta em pé e com inclusão social, mas aumento de investimentos em pesquisa é chave para que bioinovações cheguem ao mercado.

A bioeconomia compatível com a floresta em pé e a inclusão social tem potencial de crescer 67% na Amazônia até 2050, alcançando R$ 38,5 bilhões por ano, segundo estudo do WRI Brasil. “Há um boom de jovens empreendedores motivados a levar os resultados de suas pesquisas para o mercado”, afirma Spartaco Astolfi, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Lá, se localiza a Amazonzyme, startup que investiga micróbios da Amazônia como fonte de enzimas para uso industrial.

No caso da Eterna Biotech, criada neste ano também na Ufam, o negócio mira o rejuvenescimento. “A pandemia mostrou a necessidade de independência em medicamentos”, enfatiza Astolfi. “Mas os investimentos precisam passar de milhões para bilhões, porque não reverteremos o quadro da ciência e tecnologia na Amazônia com migalhas.”

A Amazônia representa cerca de 60% do território brasileiro, 13% da população, 9% do Produto Interno Bruto (PIB) e apenas 3% do investimento total de ciência e tecnologia. De acordo com estudo dos institutos Arapyaú e Agni, enquanto o Sudeste recebeu R$ 1,3 bilhão para bolsas de pesquisa e fomento em 2022, na Amazônia Legal foram somente R$ 197 milhões. Apesar da diferença, nessa região o número de mestres e doutores cresce 7% ao ano, ante 2% no Brasil. Há espaços para o surgimento de novos cérebros, mas muitos que lá florescem migram para centros mais ricos do país e do exterior.

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Inovações farmacêuticas transformam a saúde e salvam vidas

Encontrar novos tratamentos que permitam controlar sintomas, curar e prevenir doenças é essencial para o setor que mais prioriza e investe em inovação.

A Eurofarma, líder da categoria no ranking, tem na inovação um dos pilares estratégicos. “A criação de medicamentos inovadores com moléculas próprias é uma jornada de longuíssima duração. Para isso, fortalecemos o negócio atual para criar caixa e investir em inovação”, diz Martha Penna, vice-presidente de inovação da empresa. Os genéricos são os grandes geradores de caixa da multinacional brasileira, que também investe em medicamentos incrementais, licenças e parcerias em medicamentos com patentes. Mais recentemente, formou um fundo corporativo de investimento focado em empresas inovadoras de biotecnologia. Ao todo, serão investidos até US$ 100 milhões em biotechs que tenham projetos em fase inicial de descoberta e desenvolvimento de medicamentos.

Desde 2023, seis empresas receberam aportes. “Investimos em fases muito iniciais, em medicamentos que ainda não foram para fase clínica ou irão em breve. E normalmente adquirimos um pedaço da empresa”, explica, acrescentando que o objetivo é entrar em companhias que estão fazendo descobertas farmacêuticas em mais um modelo de se aproximar de inovação. Em 2023, a Eurofarma destinou R$ 615 milhões a pesquisa e desenvolvimento, mais que em 2022 (R$ 590 milhões) e 2021 (R$ 400 milhões) A área de inovação, liderada por Penna, tem em torno de 750 pessoas. Fruto disso, os fármacos desenvolvidos nos últimos 60 meses representaram 30% do total da receita da companhia em 2023. Moléculas patenteadas como evogliptina, delafloxacino e cenobamato resultaram do processo de licenciamento em parceria com outras farmacêuticas. A outra face da inovação na Eurofarma está a cargo da área de Rodrigo Fernandes, diretor de empreendedorismo e digital, cujo objetivo é manter a competitividade da companhia e garantir os melhores serviços para pacientes, médicos e farmácias.

Também brasileira, a EMS tem as principais frentes de inovação ligadas a medicamentos genéricos de alta complexidade; à inovação incremental (novas associações e formas farmacêuticas); a biotecnológicos (em parceria com a Bionovis, empresa de alta tecnologia na qual a EMS possui participação); e à inovação disruptiva (radical), por meio da presença da empresa nos Estados Unidos. No Brasil, o centro de P&D em Hortolândia (SP) recebe investimentos de 6% do faturamento anual e soma 656 funcionários. São cerca de R$ 600 milhões de reais, com previsão de aumento para R$ 660 milhões em 2025. O centro trabalha, desde 2006, em sinergia com o laboratório de pesquisas MonteResearch, na Itália. “Entre 40% e 50% do nosso desenvolvimento são inovações incrementais”, diz Carlos Alberto Fonseca de Moraes, diretor de P&D da EMS. Um exemplo é o anti-inflamatório com a ação gastroprotetora Nivux, desenvolvido 100% no Brasil pelas áreas de P&D e de pesquisa clínica da EMS. Moraes cita ainda o Bexai, um anti-inflamatório com nanopartículas.

Se no Brasil o foco da EMS é a inovação incremental, as parcerias com empresas nos Estados Unidos, que remontam a 2013, buscam a inovação radical. “Este tipo de inovação demora muito, eles estão na frente da gente em buscar novas drogas”, explica Moraes. Em Maryland, a empresa criou e mantém a Brace Pharma com objetivo de registrar terapias inovadoras em território americano e, posteriormente, submetê-las ao registro e aprovação de agências regulatórias. Em Atlanta está a Vero Biotech, com a qual a EMS conseguiu aprovação na FDA em 2019 e lançou, em 2020, o Genosyl® DS, um dispositivo portátil da nova geração de óxido nítrico inalatório para tratamento de pacientes pediátricos com hipertensão pulmonar.

Os aportes do Aché Laboratórios Farmacêuticos também estão em alta. O investimento em P&D em 2023 somou R$ 250 milhões, um aumento de 60% sobre os R$ 156 milhões aplicados no ano anterior. Edson Antonio Bernes Junior, diretor para pesquisa e desenvolvimento no Aché, explica que o objetivo é identificar as necessidades não atendidas e traduzi-las em produtos. Cerca de 400 pessoas trabalham nessa área no Brasil.

No curto prazo, a empresa foca no lançamento de produtos similares; no médio prazo, está a inovação incremental e, no longo prazo, a inovação radical, que é o desenvolvimento de novas moléculas. São 12 projetos dentro da área de inovação radical em parceria com universidades e startups. “Em 2024, a participação na receita líquida de novos produtos é de 20% do nosso faturamento. Isso explica a questão de quão saudável é e de quão necessária é a renovação de portfólio”, diz Bernes Junior.

O processo de inovação no Aché ocorre em fases, começando com o mapeamento das necessidades não atendidas, a verificação da viabilidade do produto, aprovação interna para o desenvolvimento até a submissão para Anvisa, lançamento e acompanhamento do desempenho do produto. “O acesso da população a medicamentos está longe de ser ideal, mas já melhorou bastante do que era há dez anos. As empresas nacionais têm o papel de dar acesso a esta população”, aponta Bernes Junior.

Breno Oliveira, CEO da HyperaCotação de Hypera Pharma, reforça o coro de que a inovação é o principal caminho para a democratização do acesso a tratamentos. A empresa está focada na inovação incremental, introduzindo melhorias em produtos já existentes, como uma nova forma farmacêutica que facilite a administração do tratamento ou uma nova combinação de moléculas já conhecidas. “Nos próximos três anos, as moléculas que perderão patentes devem adicionar mais de R$ 10 bilhões ao nosso mercado. Estamos nos preparando para competir nessas novas áreas”, afirma.

Em 2023, os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação foram de R$ 618,1 milhões e a companhia lançou 90 produtos. Como resultado, no primeiro trimestre de 2024, 21% da receita líquida teve origem nos produtos lançados nos últimos cinco anos. Nos últimos 12 meses, até março de 2024, os investimentos totais em P&D corresponderam a 7,4% da receita líquida. Cerca de 700 funcionários se dedicam à inovação no grupo.

A Hypera obteve financiamento de R$ 500 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que serão usados para lançamento de medicamentos e produtos para a saúde. Atualmente, o pipeline de inovação tem cerca de 500 produtos, que serão lançados nos próximos anos, principalmente nas categorias relacionadas a tratamentos crônicos e preventivos.

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