Por Sérgio Tauhata — De São Paulo
16/03/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Uma inflação não vista desde a década de 1980 nos EUA, que levou à elevação de quase cinco pontos percentuais nos juros pelo Federal Reserve (Fed), “é o preço que estamos pagando por anos de dinheiro fácil – e foi o primeiro dominó a cair”, afirmou o CEO da BlackRock, Larry Fink, em carta aos investidores. O executivo se questionou se a implosão do Silicon Valley Bank (SVB) na semana passada indicou vulnerabilidade disseminada no sistema bancário com descasamento entre ativos e passivos e que pode se tornar “o segundo dominó a cair”.
Na carta, Fink citou que “na semana passada, vimos a maior falência bancária em mais de 15 anos, quando os reguladores federais intervieram no Silicon Valley Bank”. Para o executivo, “essa é uma incompatibilidade clássica entre ativos e passivos”.
O CEO da BlackRock ponderou ser muito cedo para saber o quão generalizado é o dano e ressaltou que, até agora, a resposta regulatória e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas, na visão do chefe da maior gestora do mundo, os mercados continuam no limite. “Os descasamentos entre ativos e passivos serão o segundo dominó a cair?“, questionou.
Fink lembrou que, desde a crise financeira de 2008, “os mercados foram definidos por políticas fiscais e monetárias extraordinariamente agressivas”. Como resultado, “vimos a inflação subir acentuadamente para níveis não vistos desde a década de 1980”.
Para combater a inflação, o Fed elevou as taxas em quase cinco pontos desde o ano passado. Os mercados de títulos de dívida caíram 15% no período, “mas ainda pareciam, como dizem nos velhos faroestes, quietos, quietos demais”.
Conforme Fink, “algo mais teve que ceder, já que o ritmo mais rápido de aumentos de juros desde a década de 1980 expôs rachaduras no sistema financeiro”. Para o CEO da BlackRock, “os ciclos de aperto anteriores muitas vezes levaram a colapsos financeiros”. O executivo ponderou que “ainda não sabemos se as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias se espalharão pelo setor bancário regional dos EUA com mais intervenções e paralisações”.
Para Fink, “parece inevitável que alguns bancos agora precisem reduzir os empréstimos para fortalecer seus balanços”. No longo prazo, “a atual crise bancária dará maior importância ao papel dos mercados de capitais”.
Fonte: Valor Econômico

