O otimismo para o cenário econômico do início deste ano de 2024 arrefeceu e o tom agora é de cautela, alerta o Boletim Macro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Na edição de fevereiro, o Boletim Macro afirma que a euforia do fim de 2023 nos mercados, com a expectativa de que bancos centrais não precisariam mais elevar suas taxas de juros e de que seria possível iniciar cortes mais agressivos no primeiro semestre deste ano, deu lugar à apreensão moderada.
“Criou-se expectativa no mercado de um pouso bem suave e relativamente rápido, com custos da desinflação bem tênues em termos de perda de atividade e da dinâmica do mercado de trabalho, tanto para a economia americana como no Brasil”, lembram Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro. “Esse cenário ainda não se confirmou.”
Isso porque a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem sido bem cautelosa, e, no discurso após a primeira reunião de janeiro, ficou claro que há necessidade de mais dados para que se ter certeza de que a inflação está caminhando para a meta de 2%, em meio à aceleração da atividade econômica e à resiliência do mercado de trabalho.
Além disso, lembra o Boletim, a inflação tem desacelerado, mas as medidas de núcleo continuam elevadas — o índice de preços ao consumidor nos EUA em janeiro foi de 0,3%, acima da expectativa de 0,2%, com destaque para a inflação de serviços, ainda resiliente.
“Estamos dosando o otimismo tanto por questões internacionais quanto domésticas”, afirma Matos. “No cenário externo, há mais cautela com a redução dos juros nos EUA, que acaba limitando nossa queda [das taxas ] aqui e influenciado o câmbio não apenas do Brasil, mas com moedas emergentes em geral. A extensão do ciclo [de redução de juros] aqui dependerá de questões internacionais e domésticas, que podem trazer surpresas e desafios.”
Dentre os principais pontos de preocupação na arena doméstica estão o ritmo de redução da inflação, sua influência sobre a atividade e os desafios fiscais.
Segundo o Boletim, os indicadores para o fim de 2023 e para 2024 indicam um cenário desafiador, com enfraquecimento generalizado da atividade econômica.
“No último trimestre de 2023 houve sinais de contração em setores importantes, como a indústria de transformação e o comércio. (…) Essa tendência negativa é contrabalançada pelo desempenho positivo da indústria extrativa, que deve ter crescimento significativo”, lembra. “Para 2024, as perspectivas são cautelosas, com incertezas significativas no agronegócio e uma dependência crítica da recuperação dos setores cíclicos, especialmente da indústria de transformação.”
Fonte: Valor Econômico

