Por Eduardo Magossi, Valor — São Paulo
03/10/2023 13h10 · Atualizado há 17 horas
O iene registrou uma valorização repentina na manhã desta terça-feira, logo depois de se desvalorizar para acima do patamar psicológico de 150 ienes por dólar, o que levou a especulações de que o Banco do Japão (BoJ) e o Ministério das Finanças haviam realizado uma intervenção no mercado cambial para evitar uma maior depreciação da moeda do país asiático.
A intervenção não foi confirmada pelas autoridades japonesas, mas a oscilação vem em um momento em que o ministro das Finanças, Shunichi Suzuki, tem afirmado que todas as medidas estão sobre a mesa com um elevado sentido de urgência para segurar a moeda, o que aumentou as especulações em torno de uma possível intervenção. “Tomaremos todas as medidas possíveis contra movimentos excessivos do iene”, disse nesta terça.
O iene vem se desvalorizando desde que o BoJ mantém uma política monetária ultraflexível com juros negativos, em movimento contrário ao registrados por quase todo o globo, principalmente os Estados Unidos. Em 2023, o iene já perdeu 13,66% ante o dólar. Porém, nesta terça, após o relatório Jolts de empregos dos EUA mostrar que o mercado de trabalho segue resiliente e que os juros deverão ficar elevados por mais tempo, o iene ultrapassou a marca de 150 ienes — chegando a 150,16 ienes — antes de se valorizar repentinamente e voltar para o nível de 147,272 ienes por dólar em seu momento mais valorizado. No fim do dia, a moeda já havia perdido parte dos ganhos, e o dólar era cotado a 149 ienes.
O forte salto do iene é semelhante aos dois episódios de intervenção oficial que ocorreram em setembro e outubro do ano passado. “Mas também é possível que os participantes do mercado tenham se precipitado quando o dólar passou a valer mais que 150 ienes ou que o BoJ tenha solicitado cotações aos bancos negociantes, um prelúdio imediato para uma intervenção real”, afirma o economista Jonas Goltermann, da Capital Economics.
Segundo o economista, apesar da afirmação repetida do ministro Suzuki, de que “as intervenções cambiais não se baseiam nos níveis do iene porque é a volatilidade que importa”, é razoável supor que se o dólar passasse a valer mais que 150, um grande desvalorização poderia ter ocorrido. “Portanto, na prática, mesmo que a volatilidade seja a principal preocupação, o nível 150 é importante”, afirma.
“Embora esta abordagem do gato e do rato possa funcionar para ganhar algum tempo para o iene, a sua sustentabilidade depende em grande parte do que acontecer com os rendimentos do Tesouro dos EUA”, afirma Goltermann, em relatório que compara as duas intervenções de setembro e outubro de 2022.
A intervenção de setembro do ano passado, ocorrida quando o dólar atingiu 145 ienes, manteve o câmbio sob controle durante algumas semanas, mas, à medida que os rendimentos do Tesouro subiram, esse nível cedeu. Já a intervenção subsequente, em outubro, quando o dólar atingiu 150 ienes, teve um impacto mais duradouro porque os rendimentos dos EUA caíram devido a uma mudança nos dados de inflação e no tom do Federal Reserve, lembra o economista. “O iene valorizou-se significativamente nos últimos dois meses de 2022 e no início de 2023, atingindo um câmbio de 130 ienes por dólar em janeiro, quando o BoJ começou a afrouxar a sua política de controle da curva de rendimentos.”
Porém, com os rendimentos dos Treasuries voltando a subir de forma expressiva, Goltermann acredita que a estratégia de realizar intervenções no mercado não será bem-sucedida, embora o movimento desta terça não tenha sido confirmado como uma intervenção.
Segundo ele, não serão intervenções de compra de iene que irão determinar a direção da divisa japonesa. “Embora o Ministério das Finanças tenha poder de fogo para continuar fazendo intervenções e comprando moeda, o que irá determinar o rumo do iene será o diferencial de taxas de juros entre Estados Unidos e Japão”, disse. Ele acredita que isto pode acontecer em breve, quando os EUA encerrarem o seu ciclo de aperto monetário e o BoJ elevar o juro a um patamar ligeiramente positivo, no início de 2024.
O economista espera que o diferencial das taxas de juros oscile novamente a favor do iene, aliviando a pressão sobre a moeda japonesa. “Nossa previsão para o final de 2023 permanece em 135 ienes por dólar”, diz.
Fonte: Valor Econômico
