31 Oct 2022 ARTUR NICOCELI
O mercado de ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) passou por uma montanha-russa nos últimos dois anos, principalmente pela elevação da Selic. A taxa baixa (chegou a 2% ao ano) serviu para que companhias de menor porte conseguissem abrir capital e levantassem valores menores em relação a média dos anos anteriores. Teodora Barone, responsável pela área de mercado de ações do UBS BB, conta que entre 2018 e 2019, o volume de captação atingia cerca R$ 1,5 bilhão. Em 2020 e 2021, a média foi de R$ 1,35 bilhão, apontaram os dados da B3.
Na prática, a Selic mais alta diminui o interesse dos investidores pela renda variável, o que faz com que a B3 possa fechar o ano sem nenhuma abertura de capital, o que não ocorre desde 1998. A expectativa é que a taxa atual, de 13,75% ao ano, seja mantida até pelo menos meados de 2023.
O mercado assistiu o afastamento do interesse dos investidores pela renda variável. Na sua visão, em que momento o mercado vai reaquecer em termos de ofertas primárias?
O UBS BB tem uma visão de um rali de mercado (quando a bolsa opera positivamente no curto espaço de tempo) bastante importante depois das eleições. Ao longo de 2023 também teremos uma visão mais clara da queda da taxa de juros e visibilidade sobre as condições da inflação no Brasil. Historicamente, sabemos que sempre após as eleições, independentemente de quem é o candidato eleito, a bolsa tende a desempenhar em alta, entre 10% a 15%. A nossa visão é que haverá um humor melhor para as companhias que estavam se preparando para conseguirem protocolar suas ofertas em 2022. A precificação com mais robustez deve ocorrer só no ano que vem.
Quais setores devem acelerar os pedidos de IPOS após as eleições?
Os primeiros setores a serem beneficiados com um mercado mais calmo, depois das eleições, devem ser: empresas de infraestruturas, energia, saneamento, utilities (empresas que oferecem serviços de utilidade pública, como gás e energia) e indústrias. Isso porque são mercados já preparados com seus documentos para acessarem as janelas de oferta que devem acontecer entre janeiro e fevereiro. Entre março e maio de 2022, teremos uma visão melhor sobre os juros e a inflação no País. O UBS projeta a taxa Selic a 9,25%, enquanto o Copom estima a 11%. Assim, teremos mais indicações de quando o BC começará a abaixar os juros, dando vazão para setores como doméstico, discricionário, retail, foods, shopping centers chegarem mais forte na bolsa.
O UBS BB projeta juros a 13,75% até metade do ano que vem. Esse cenário, se concretizado, pode afastar as companhias de abrirem capital?
Entre 2020 e 2021, o mundo passou por um boom de liquidez global e o Brasil chegou a taxas quase jamais vistas. Isso fez com que muitas pessoas físicas saíssem da renda fixa, o que era padrão do brasileiro, para começar sua vida nas ações. Muitos IPOS foram precificados a reboque desse fluxo de liquidez e isso viabilizou IPOS pequenos, a preços ainda interessantes para os fundadores. Mas esse foi um cenário muito atípico. Não acreditamos que o mercado seja dependente disso para realizar IPOS. Até porque, para o ano que vem, vemos um otimismo dos investidores estrangeiros pelo Brasil, devido à estabilidade que apresentamos se comparado com países emergentes e desenvolvidos que enfrentam inflações cavalares e câmbios desvalorizados. Acredito que devem ocorrer cerca de 40 ofertas primárias e follow-ons, em 2023.
Podemos contar com ofertas tanto pequenas quanto grandes nos próximos meses?
Os IPOS do ano que vem serão grandes, para chamarem a atenção das casas brasileiras de renome e de investidores estrangeiros. Os de menor valor não veremos tão cedo. Enxergo o Brasil voltando ao que era nos anos anteriores, uma média de oferta perto dos R$ 2 bilhões. E os IPOS entre janeiro e fevereiro serão maiores do que isso. Essa quantia atrai a atenção dos investidores estrangeiros que precisam de bolsão de liquidez significativo para alocarem capital, em dólar. Para eles negociarem, a liquidez no mercado secundário precisa ser cerca de US$ 8 milhões a US$ 10 milhões por dia. Ou seja, um IPO pequeno não consegue gerar uma liquidez significativa porque, em geral, o investidor não pode ultrapassar mais de 10% de uma oferta. Se ocorresse uma oferta de R$ 500 milhões, o investidor estrangeiro colocaria R$ 50 milhões, ou US$ 10 milhões. Eles falam que é muito trabalho para pouco investimento. Ofertas que giram em torno de R$ 1 bilhão já atraem os investidores. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

