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Da receita anual de R$ 53 bilhões dos 140 maiores hospitais privados do país no ano passado, R$ 4,5 bilhões (o equivalente a 8,58%) foram questionados pelas operadoras de convênio médico que postergaram ou cancelaram o pagamento dos procedimentos médicos cobrados pelos estabelecimentos de saúde – uma prática conhecida no setor como glosa e que aumentou após 2021, com a crise no setor. Em 2019, essa dinâmica afetava 5,5% da receita e, no segundo trimestre deste ano, esse percentual estava em 8,87%.
Por outro lado, também há várias situações em que o hospital encaminha cobranças indevidas, com códigos e valores errados, sem cobertura dos planos de saúde, entre outra razões que motivam a discordância das operadoras.
Fernando Torelly, presidente do Hcor, destaca que a margem média do Ebitda dos 140 hospitais, associados à Anahp (entidade que reúne os maiores do país) é de cerca de 12%. “A taxa de glosa inicial está cada vez mais próxima da margem Ebitda”, alertou.
A glosa inicial é o percentual questionado pelas operadoras no começo das negociações. A estimativa é que no final das tratativas, esse percentual caia pela metade. No entanto, mesmo que a cobrança do procedimento seja considerada correta, o pagamento pode levar anos para ser efetivado. “Estou negociando agora contas médicas glosadas de 2022”, disse Denise Santos, presidente da BP – Beneficência Portuguesa. Ela conta que, com a melhora no desempenho econômico, as operadoras estão se mostrando mais abertas a retomar as conversas – antes essa porta estava fechada, o foco era só a crise.
Mas esse ponto é ainda um dos mais críticos para o setor. “Atualmente, as glosas são o maior problema dos hospitais”, disse Paulo Chapchap, diretor médico do Hospital Santa Joana.
Segundo dados da carteira da Bionexo, empresa que faz gestão de contas médicas para hospitais, mostra que, entre janeiro e outubro deste ano, R$ 801,2 milhões foram questionados pelas operadoras. Em 2023, foram R$ 348,3 milhões.
A postergação de pagamentos afeta o fluxo de caixa que fica descasado. “Os hospitais precisam buscar capital em banco, com juros elevados, para honrar as contas”, disse Antônio Britto, diretor executivo da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp).
Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, critica as operadoras que, ao seu ver, conseguiram melhorar seus números pressionando os prestadores de serviço (hospitais, clínicas e laboratórios) por meio de aumento de prazos de pagamento, questionando pagamentos de procedimentos, não reajustando tabelas ou impondo condições comerciais agressivas.
Para Torelly, do Hcor, o setor deveria estabelecer um teto de contas médicas questionadas. Essa prática é usada, principalmente, pelas operadoras de planos em momentos de necessidade de redução de custos, mas há também hospitais que realizam procedimentos desnecessários quando a receita está fraca. “Sugiro uma mudança do nome glosa para índice de desconfiança, o que remete a um nível de urgência”, disse.
Segundo Rafael Barbosa, CEO da Bionexo, há ainda muita ineficiência por parte dos hospitais, com erros de processos de pagamento. Barbosa acredita que cerca de 10% dos questionamentos feitos pelas operadoras vêm de inserção indevida do código de cobrança. “A automação dos processos de cobrança ajuda a reduzir os erros. A ideia é evitar que o pedido de pagamento seja encaminhados errado à operadora”, disse. A Bionexo entrou no mercado de gestão de contas médicas há dois anos, período em que conseguiu reverter R$ 411 milhões que estavam sendo questionados.
A Abramge, associação das operadoras, não se pronunciou.
Fonte: Valor Econômico