Por Agências Internacionais
03/06/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
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Depois de meses ignorando os pedidos dos países consumidores, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados finalmente concordaram em aumentar a produção de petróleo em um mercado que enfrenta déficits. Mas a notícia não reduziu os preços do petróleo.
Isso provavelmente ocorreu porque o aumento da produção anunciado pelo cartel não é suficiente para compensar a queda na produção da Rússia decorrente de sanções internacionais contra suas exportações de petróleo. Além disso, os países da Opep vêm produzindo menos petróleo do que o permitido sob os limites estabelecidos pelo cartel nos últimos meses, deixando os investidores céticos de que possam realmente compensar essa diferença agora.
No encontro realizado ontem, o cartel e seus aliados – conhecidos como Opep+ – concordaram em aumentar a produção em 648 mil barris por dia em julho e agosto, antecipando um aumento esperado para setembro, segundo o “Wall Street Journal”, que citou fontes da Opep. A programação inicial do cartel era de elevar a produção em 432 mil barris/dia nesse período. Só que esse aumento ficou aquém da queda na produção de petróleo russo desde a invasão da Ucrânia no fim de fevereiro.
Em abril, a produção de petróleo da Rússia – uma das maiores exportadoras do mundo – caiu em 950 mil barris por dia em relação a fevereiro, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE). Nesta semana a União Europeia concordou em proibir as importações de petróleo e combustíveis russos por via marítima.
Analistas consultados pelo Valor avaliam que não há certeza de que a decisão do cartel vá ajudar a aliviar a pressão atual na demanda global, que está mantendo os preços altos. “Com a volta da demanda chinesa e as sanções europeias contra a Rússia a tendência continua sendo de alta. Os estoques americanos, que caíram na última semana, mostram que ainda estamos longe de um equilíbrio no mercado global”, diz o analista da Bloomberg Intelligence para o setor, Fernando Valle.
Para o chefe de pesquisa de exploração e produção da consultoria Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, a tendência é que o barril siga na casa dos US$ 120. “Não há evidências de que os preços vão baixar.”
O Goldman Sachs observa que o anúncio da Opep+ não representa um aumento efetivo dos níveis de produção previstos para o fim do ano, dado que houve apenas uma antecipação na programação. “Acreditamos que o aumento da produção da Opep+ seja muito pequeno para corrigir o déficit estrutural do mercado de petróleo”, afirmam analistas do banco em nota a clientes.
De fato, o petróleo Brent, referência internacional, subiu após a divulgação da notícia do acordo e fechou cotado a US$ 117,61 por barril, com uma alta de 1,14%.
A pressão dos EUA para a Opep aumentar a sua produção para conter a alta dos preços da commodity vem de vários meses. Até então, Washington não tinha obtido sucesso em influenciar a Arábia Saudita e a invasão da Ucrânia pela Rússia complicou mais o quadro.
A mudança de posição da Arábia Saudita parece ter menos a ver com os preços do petróleo – que é negociado a mais de US$ 100 o barril há pelo menos três meses – e mais a ver com um troca diplomática com Washington, de quem os sauditas procuram obter melhores garantias de segurança. A mudança ocorre após uma série de visitas de autoridades americanas a Arábia Saudita.
O presidente Joe Biden – um crítico do histórico de direitos humanos da Arábia Saudita e que prometeu adotar uma linha mais dura com o país do que o ex-presidente Donald Trump – pode fazer uma visita a Riad no fim deste mês, apesar do relacionamento conturbado com o governante saudita de fato, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. O aumento da produção de petróleo é um “elemento central” nas negociações sobre essa visita, segundo o “WSJ”.
A Casa Branca divulgou um comunicado no qual elogiou o papel saudita em “alcançar esse consenso” dentro da Opep+. A Arábia Saudita e a Rússia são os maiores produtores da Opep+, que hoje controla mais da metade da produção global de petróleo.
Após uma breve guerra de preços por participação de mercado no início de 2020, a Arábia Saudita se alinhou com a Rússia para controlar a oferta de petróleo, e os dois países ainda estão intimamente ligados, informou o “WSJ”. Para convencer a Opep a aumentar ainda mais a produção, mais diplomacia pode ser necessária nos próximos meses. A Arábia Saudita pode estar disposta a aumentar mais a produção se a produção russa cair mais, de acordo com o “WSJ”. Sem um aumento maior da produção, os preços do petróleo provavelmente permanecerão elevados.
A única incógnita é se o crescimento econômico mais lento reduzirá a demanda o suficiente para restaurar o equilíbrio do mercado. (Com Gabriela Ruddy, do Rio)
Fonte: Valor Econômico

