A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso da ostarina em fevereiro de 2021
PorLuiz Fernando Figliagi, Valor — São Paulo
O atleta olímpico Thiago Braz foi suspenso das competições por 16 meses pela Athletics Integrity Unit (AIU), braço do antidoping do World Athletics, órgão responsável pelo atletismo mundial, nesta terça-feira (28).
Braz foi campeão olímpico do salto com vara nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, e estava suspenso desde 28 de julho de 2023, após a AIU identificar que ele havia testado positivo para ostarina. A substância anabolizante ajuda no ganho de massa muscular e melhora de desempenho.
Segundo a AIU, o atleta está recorrendo da decisão na Corte Arbitral do Esporte (CAS). Conforme a organização, a suspensão de 16 meses do esportista é considerada a partir do dia 28 de julho de 2023.
O que é a ostarina
Especialistas ouvidos pelo Valor explicam que a ostarina age na massa muscular e no desempenho do atleta. Segundo Alex Meller, urologista e professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a ostarina é uma proteína que modula o receptor de andrógeno que, no caso, é a testosterona.
“Você tem o receptor de andrógeno espalhado no corpo inteiro e esses receptores ficam ali aguardando o estímulo da testosterona”, explica. A sinalização desse receptor, descreve Meller, depende da onde ele está no organismo.
Conforme o médico, se ele está na musculatura crescerá massa muscular, se for no cérebro ele estimula libido e se utilizado no cabelo pode estimular a queda. “A ostarina é moduladora desse receptor, ela age no receptor androgênico, especialmente na massa muscular”, diz.
Ostarina nos atletas
Flavio Cadegiani, médico endocrinologista e especialista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), explica que a ostarina foi desenvolvida em 2004 para evitar a perda de massa muscular no paciente com câncer.
“Os atletas usam porque dá essa percepção de melhora na composição corporal e performance, apesar que não dá”, aponta.
O especialista explica que, a ostarina precisa estar na lista do doping porque, mesmo que estudos não mostrem o aumento da força, outras pesquisas revelam que ele pode melhorar algumas habilidades. “Ele é muito usado, porque, na verdade, entre esses medicamentos é o que tem relativamente menos efeitos colaterais”, destaca. Segundo Cadegiani, a ostarina pode oferecer riscos no fígado e nos rins.
Proibida desde 2021
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso da ostarina em fevereiro de 2021, por entender que os efeitos do medicamento no corpo humano a longo prazo são desconhecidos.
“A Anvisa informa que publicou medida restritiva a produtos que contenham o Modulador Seletivo de Receptores Androgênicos, em inglês Selective Androgen Receptor Modulators – SARM. Vale observar que não há medicamento registrado na Agência que contenha SARM até o momento”, destaca.
Conforme a Anvisa, a Resolução 791/2021 proibiu a comercialização, distribuição, fabricação, importação, manipulação, propaganda e uso da ostarina, além de determinar sua apreensão e inutilização. “O objetivo da medida, que se aplica a produtos industrializados e manipulados, importados e nacionais e a meios físicos e remotos, é proteger a saúde da população”, aponta.
O que diz o atleta
Através das redes sociais, o advogado do atleta afirmou que o julgamento foi considerado positivo, “considerando que a World Athletics acusava-o de doping intencional, pleiteando a aplicação de uma sanção de 4 anos de inelegibilidade.”
“Entretanto, após dois dias de audiência em Londres, os argumentos da defesa do atleta prevaleceram e restou comprovado que, na verdade, Thiago Braz foi vítima de contaminação de suplementos, uma violação intencional, com ausência de culpa significativa, reduzindo a solicitada pena de 48 meses para apenas 16 meses de inelegibilidade”, explica Marcelo Franklin. A nota ainda ressalta que Thiago Braz estará livre para treinar em setembro e competir em novembro de 2024.
“Entretanto, sob o entendimento de que os 16 meses continuam desproporcionais ao baixíssimo nível de responsabilidade atribuível ao atleta, desde a semana passada, a defesa de Thiago interpôs apelação na Corte Arbitral na Suíça e está confiante em excluir a sanção ou reduzir ainda mais o período de inelegibilidade imposto, de modo a que o atleta possa participar livremente das Olimpíadas de Paris 2024”, aponta a nota. Conforme o anúncio, Braz irá se manifestar publicamente apenas após o julgamento final no CAS.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) diz que não cabe à organização se pronunciar sobre o assunto. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBA) foi perguntada sobre o caso, mas não respondeu. Mais recente Próxima Haddad diz que linha de crédito às empresas no RS terá juro ‘bem barato’ para repor máquinas e equipamentos
Fonte: Valor Econômico