A Ucrânia ficará sem dinheiro para financiar a guerra contra a Rússia em alguns meses e será forçada a tomar medidas dolorosas para manter o governo funcionando se a ajuda dos EUA ou da União Europeia (UE) não chegar, segundo economistas e autoridades ucranianas.
Os Estados Unidos e a UE, os maiores financiadores da Ucrânia, prometeram a Kiev bilhões de dólares em nova ajuda financeira e militar, mas as promessas de ambos foram quebradas por lutas internas em Washington e em Bruxelas. Embora os líderes políticos insistam que os pacotes de ajuda serão aprovados, o momento é crítico para a Ucrânia, que não pode se dar ao luxo de novos atrasos.
O país enfrenta um déficit financeiro de mais de US$ 40 bilhões este ano, um pouco menor do que o déficit de 2023. Era esperado que o financiamento dos EUA e da UE cobrisse cerca de US$ 30 bilhões desse montante. O dinheiro é necessário para manter o governo funcionando e é usado para financiar salários, pensões e subsídios à população.
A Ucrânia introduziu um imposto extraordinário sobre os bancos, realocou algumas receitas fiscais e aumentou o endividamento interno, que deverá cobrir as despesas orçamentais até fevereiro, de acordo com o Ministério das Finanças ucraniano.
“Estas medidas têm efeitos limitados”, disse Olga Zykova, vice-ministra das Finanças da Ucrânia. “Todos os nossos parceiros compartilham do sentido de urgência” por mais financiamento, disse ela.
O governo poderá ser forçado a tomar medidas adicionais para preservar recursos se a ajuda não chegar rapidamente. Atrasos nos pacotes de ajuda militar também representam um golpe para o esforço da Ucrânia no campo de batalha, que estagnou após uma contra-ofensiva fracassada.
Em última análise, Kiev poderá ser forçada a imprimir dinheiro, uma estratégia que alimentou implosões econômicas em países como a Venezuela.
Os ucranianos temem que os problemas no campo de batalha e fora dele indiquem mais problemas pela frente. As discussões com parceiros internacionais começaram a focar na forma como a Ucrânia pode alcançar a autossuficiência financeira à medida que a guerra se arrasta para o terceiro ano.
Manter a economia estável sustenta a capacidade da Ucrânia de continuar a lutar. A grande economia russa foi atingida pelas sanções ocidentais, mas desde então se recuperou, depois de Moscou ter encontrado novos clientes para o petróleo e ter concentrado os recursos internos na produção militar.
Sem estabilidade econômica, “combater um país que é maior que a Ucrânia e tem muito mais mão-de-obra será muito difícil”, disse Olena Bilan, economista-chefe do Dragon Capital, um banco de investimento ucraniano. “Se o orçamento não for suficiente apenas para pagar pensões e salários, onde conseguirá o dinheiro para comprar munições?”
Alguns economistas ucranianos hesitam em prever quanto tempo a Ucrânia poderá continuar sem ajuda externa, temendo que isso possa minar ainda mais a urgência entre os parceiros ocidentais.
As preocupações com a estabilidade financeira da Ucrânia pesaram sobre a moeda nacional, a hryvnia. O banco central gastou US$ 3,6 bilhões em dezembro para sustentar o valor da moeda, a maior intervenção mensal desde os primeiros dias da guerra.
Após a invasão da Rússia em fevereiro de 2022, os EUA e a UE, em conjunto, foram responsáveis por cerca de 70% da ajuda financeira que a Ucrânia recebeu. Kiev pensava que iria receber novos financiamentos destes dois parceiros no início deste ano, porém disputas internas interromperam o envio.
Em vez disso, um novo pacote de ajuda da UE, no valor de 50 bilhões de euros ao longo de quatro anos, foi bloqueado pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que mantém laços estreitos com a Rússia. Os políticos da UE esperam que uma cúpula no dia 1º de fevereiro em Bruxelas possibilite um avanço. Se isso falhar, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o bloco está preparado para contornar a oposição da Hungria para continuar fornecendo financiamento a Kiev.
Nos EUA, o Partido Republicano condiciona o envio de mais recursos para a Ucrânia à aprovação de mudanças na política de fronteiras dos EUA. A Casa Branca sinalizou na semana passada que estava disposta a fazer concessões sobre a questão da imigração para desbloquear ajuda à Ucrânia e a Israel, mas um acordo que está sendo costurado no Senado continua dividindo o Congresso americano, com os republicanos da Câmara exigindo maiores concessões para a questão das fronteiras.
Fonte: Valor Econômico

