Por Larissa Garcia, Valor — Brasília
22/11/2023 10h04 Atualizado há 12 horas
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, falou nesta quarta-feira sobre o plano do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, de dolarizar a economia do país e fechar a autoridade monetária. Segundo Campos, o órgão tem outras atribuições, como estabilidade financeira e controle de fluxo de recursos estrangeiros, e seria “perto do impossível” eliminar todas essas funções.
“No caso da Argentina, a falta de credibilidade foi um processo longo. Começou com a perda da independência do Banco Central. Ao contrário do Brasil, a Argentina pode financiar o governo, o que é perigoso”, disse em café da manhã promovido pela Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, no Senado Federal.
Segundo ele, isso gerou “perda de credibilidade na parte monetária e depois na parte fiscal”. “Isso começa a desvalorizar o cenário macroeconômico”, pontuou. “Entrou em um ciclo que teve erosão de base fiscal muito grande. Em algum momento isso se voltou contra exportação.”
“Em relação ao plano de acabar com o BC, precisa entender melhor o que significa isso. Se você tem a dolarização, a função do BC deixa de existir. Mas o BC tem também o mandato de estabilidade financeira. Tem uma parte de controle de fluxos internacionais que também é do BC”, complementou.
Segundo ele, a Europa tem uma moeda única e tem bancos centrais em diversos países. “Não consigo ver como eliminar todas essas funções. Existe a percepção na Argentina de que o BC fez parte da deterioração da moeda.”
Campos frisou que no Brasil o BC tem autonomia. “O mais importante não é acabar com o BC, mas ter um BC que funcione. Não conheço o plano na Argentina, mas existe a necessidade de buscar uma âncora de credibilidade. É uma economia que já é dolarizada, as pessoas pensam em dólar”, ressaltou. “É uma lição para o Brasil de que é importante um BC autônomo e técnico. É importante ter credibilidade no cronograma de metas fiscais”, acrescentou.
Sobre o câmbio, o presidente do BC disse que o real “tem tido uma fortaleza bastante surpreendente” e que o Brasil tem “estruturalmente” um bom fluxo de capitais estrangeiros. “O Brasil vai ter uma capacidade grande de aumentar a produção de petróleo, isso também aumenta o fluxo”, destacou. “De forma geral o Brasil tem se comportado bem.”
Ele repetiu que o quadro fiscal do país “não tem relação mecânica” com a política monetária e que depende de quais variáveis são afetadas. O titular do BC lembrou que o governo espera aprovar novas medidas de arrecadação no Congresso e, por isso, o mercado duvida que a meta fiscal será alcançada.
“O arcabouço fiscal foi muito positivo, é importante insistir”, ressaltou. Segundo ele, dúvidas em relação às metas fiscal e monetária geram incertezas e aumentam prêmio de risco. “O problema de gasto estrutural brasileiro precisa ser endereçado em algum momento”, alertou.
Fonte: Valor Econômico

