Terceira geração, representada por quatro netos do fundador do grupo hospitalar, assume no primeiro semestre de 2024
Por Beth Koike — De São Paulo
21/09/2023 05h04 Atualizado há uma hora
Fundada em 1980 pelo médico José Salvador Silva, hoje com 92 anos, a rede mineira de hospitais Mater Dei será liderada pela terceira geração da família, até abril do próximo ano. Dos dez netos do fundador, quatro foram escolhidos após um processo de sucessão que começou a ser desenhado em 1995, quando o médico ouviu num curso da Fundação Dom Cabral que apenas 10% das empresas familiares chegavam à terceira geração.
A cadeira da presidência será ocupada pelo administrador de empresas, José Henrique Dias Salvador, de 37 anos e filho do atual CEO da Mater Dei, Henrique Salvador. A nova geração terá ainda a presença de seus primos – a advogada Renata Salvador Grande e os médicos Felipe Salvador Ligório e Lara Salvador Géo – que também assumirão postos de liderança, no primeiro semestre de 2024, da rede de hospitais que registrou receita de R$ 1 bilhão no acumulado de janeiro e junho deste ano.
Para chegar a esses cargos, os quatro herdeiros tiveram que cumprir três exigências determinadas pelo avô. Todos teriam que ter formação superior, estudar fora do Brasil e trabalhar na concorrência em grupos de saúde de mesmo porte ou maior que a Mater Dei. Os quatro passaram pelo crivo do fundador. Zé Henrique ou simplesmente Zé, como é conhecido, é formado em administração de empresas pelo Ibmec, fez especialização em Harvard e na Columbia, ambas nos Estados Unidos. Durante a graduação, fez estágio na Dasa e Hospital Sírio-Libanês e após se formar trabalhou no Albert Einstein.
José Henrique vem sendo preparado há mais de dez anos e já está trabalhando ao lado do pai. Quando assumir o posto, em 2024, o setor de saúde já deve ter passado a sua fase mais crítica (desde a oferta pública de ações – IPO -, em 2021, o papel da Mater Dei caiu 50%) e espera-se que o ambiente macroeconômico esteja mais favorável, com uma taxa de juros num melhor patamar. Esse cenário pode permitir uma retomada de crescimento via aquisições – nos últimos dois anos, a empresa dobrou de tamanho ao comprar cinco hospitais.
A companhia tem baixo endividamento e a integração das aquisições, anunciadas em 2021 e 2022, estarão todas concluídas até o fim deste ano. “Acho que a redução da taxa de juros abre uma nova perspectiva de M&As [fusões e aquisições]. Não temos medo de eventos transformacionais”, disse José Henrique.
Questionado sobre quais praças são de interesse do grupo, o executivo disse que a prioridade é fortalecer a presença nas regiões onde já está presente. A rede mineira entrou em Salvador, Belém e Goiânia com as aquisições. “Fizemos em um ano e meio o que havia sido planejado para cinco anos. Usamos 80% dos recursos do IPO nas aquisições”, disse. A companhia levantou cerca de R$ 1,6 bilhão, sendo que desse valor, R$ 1,4 bilhão foi para o caixa.
Segundo o executivo, a estratégia de crescimento operacional prevê também uma maior oferta de serviços médicos como atendimento de pacientes após a alta, ambulatorial e na área de oncologia. A XP lembra, em relatório, que “apenas 63% do seus leitos estão em operação, o que significa que ainda há muito espaço para a empresa continuar crescendo, sem necessidade de investimentos significativos.”
Outra prioridade é trabalhar novos modelos de remuneração com as operadoras de planos de saúde. José Henrique propõe que os hospitais carreguem parte do risco do procedimento médico, o que em sua visão é uma tendência sem volta. Hoje, se uma cirurgia é bem-sucedida ou não, as operadoras de planos de saúde pagam a conta.
Os próximos desafios serão compartilhados com seus primos que ocuparão posições estratégicas na companhia. Com passagem pelo HCor, Renata ocupará a vice-presidência comercial. Já Felipe, que atuou no Hospital Mãe de Deus, será vice-presidente médico do Mater Dei, e Lara, que foi do Einstein, vai liderar a área de inovação.
Fonte: Valor Econômico
