Por Agências internacionais — Londres
05/09/2022 12h55 Atualizado há 13 horas
A hoje conservadora Liz Truss, 47 anos, passou por uma série de mudanças políticas até se tornar uma libertária que apoia um Estado pequeno e impostos baixos.
Quando criança na Escócia e em Leeds, no norte da Inglaterra, Mary Elizabeth Truss, filha de pais esquerdistas — o pai, professor de matemática, e a mãe, enfermeira — gritou slogans contra o governo conservador de Margaret Thatcher nos anos 1980 — hoje seu ídolo político. Já adulta e parlamentar eleita pelo Partido Conservador, ela votou pela permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) antes de abraçar o Brexit com o zelo de uma convertida após a maioria ter votado pela saída do bloco.
Ela será a terceira mulher a ocupar o cargo após Theresa May e Margareth Thatcher, essa última sendo uma das principais referências políticas de Truss, que assume o país em momento delicado.
Ao chegar em Downing Street, ela terá que enfrentar alguns dos maiores desafios para um primeiro-ministro recém-chegado, com diversas greves no setor público que ameaçam colocar em xeque serviços básicos do país, um sistema de saúde à beira do colapso e um partido que mostra sinais de exaustão após 12 anos no cargo.
Ela prometeu cortar impostos em meio a uma crise inflacionária, contrariando o conselho de muitos economistas, e quer aplicar um congelamento nos preços de energia como uma das primeiras medidas de seu governo.
David Gauke, um ex-colega de Truss no Parlamento, disse ao “Financial Times” que o país passará por um momento interessante. “Ela vai querer desafiar os conselhos recebidos – mesmo que os conselhos estejam quase certamente corretos”.
Truss, herdeira de Boris Johnson
Truss se apresenta como leal ao ex-primeiro-ministro Boris Johnson, que ainda é popular entre os membros da base do partido. Essa proximidade pode ter sido decisiva para sua eleição, uma vez que concorreu contra Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças de Johnson cuja saída – alegando questões éticas e morais – ajudou a implodir o governo.
Durante sua carreira política, Truss deu indícios de que sabia dançar conforme a música. Apesar de ter feito campanha contra o Brexit em 2016, ela agora se converteu ao movimento sendo chamada por parlamentares britânicos como “a Remanescente favorita dos Brexiters”.
Um colega de Parlamento de Truss disse ao “FT” que “a coisa sobre Liz é que ela é essencialmente uma figura anti-establishment, uma pessoa de fora como Thatcher. Os membros do partido gostam disso”.
As origens de Liz Truss
Mary Elizabeth Truss nasceu em 1975 em Oxford. Sua mãe era enfermeira e professora e seu pai, professor de matemática. Ambos eram firmemente anti-Thatcher e fortemente de esquerda. Eles a criaram como uma radical, como ela costuma dizer ao descrever sua trajetória política.
Truss entrou na Universidade Oxford para estudar Filosofia, Política e Economia — curso preferido por muitos aspirantes políticos—, onde se juntou aos Liberais Democratas e foi filmada exigindo a abolição da monarquia. Seus colegas ativistas daqueles anos diziam que ela sempre foi uma liberal clássica em economia, particularmente em relação ao comércio – não muito distante das próprias opiniões de Thatcher.
Amigos dizem que uma viagem que Truss fez à Europa Oriental no início dos anos 1990 a convenceu de que Thatcher estava certa em enfrentar a União Soviética. Logo após a viagem, ela se filiou ao Partido Conservador.
Antes de assumir cargo político, Truss trabalhava como contadora administrativa e trabalhou para Shell e Cable & Wireless. Em 2010 se tornou a representante no Parlamento do sudoeste de Norfolk.
Ela ingressou no Partido Conservador em 1996 e foi eleita para o Parlamento pela primeira vez em 2010. Desde então, foi rapidamente promovida a uma série de cargos ministeriais nos governos conservadores de David Cameron, Theresa May e Boris Johnson. Em 2021, foi nomeada ministra de Relações Exteriores, tornando-se a segunda mulher a ocupar o cargo.
À frente do Ministério de Relações Exteriores, Truss foi prolífica em postar fotos de seus compromissos oficiais: desde ficar na Praça Vermelha de Moscou com um chapéu de pele até em cima de um tanque na Estônia — repetindo uma foto de Thatcher quando a então premiê visitou as forças britânicas na Alemanha em 1986.
Na guerra da Ucrânia, Truss assumiu uma crítica estridente contra o presidente russo, Vladimir Putin, e alguns temem que sua postura possa elevar as tensões com a Rússia a níveis perigosos.
Na relação com Pequim, Truss já alertou a China para aprender lições com a resposta do Ocidente à invasão da Ucrânia pela Rússia e disse que Pequim enfrentará consequências se não “jogar de acordo com as regras”.
Até mesmo seus apoiadores temem que ela possa ser precipitada demais em suas posições para ser uma diplomata eficaz. Muito de seu desempenho até agora foi elaborado para um eleitorado específico, o Partido Conservador. Várias pessoas que trabalharam com Truss disseram que é difícil saber suas verdadeiras opiniões sobre várias questões políticas e de políticas públicas. Ela é uma libertária que apoia um Estado pequeno e impostos baixos.
Truss será a terceira mulher a ocupar o cargo de premiê do Reino Unido, depois de Margareth Thatcher (1979-90) e de Theresa May (2016-19).
Liz Truss é casada e tem duas filhos, uma delas recebeu o nome de Liberty — em uma referência a sua relação com o liberalismo.
Fonte: Valor Econômico

