Do alto de um histórico de investimentos em Amazon, Meta e Netflix quando ainda eram apenas startups, o Morgan Stanley tem um processo de escolha complexo, que inclui times de pesquisa de tecnologias disruptivas há mais de 20 anos. Em evento da Avenue em São Paulo, Sasha Cohen, da área denominada no banco de Counterpoint Global, time que estuda os fundamentos das empresas para investimentos de venture capital, contou como é esse método. Ex-patinadora no gelo americana que disputou duas Olimpíadas e em 2006 levou a medalha de prata, Cohen revelou também as novas apostas da instituição: energia nuclear e medicamentos voltados à longevidade.
A Counterpoint Global é responsável pela gestão de US$ 23 bilhões em ativos no Morgan Stanley. O banco começou a investir na Amazon em 2004, antes do estouro da bolha das “pontocom” e no Facebook, agora Meta, antes do IPO da empresa. Segundo a ex-atleta, publicações científicas, podcasts, teleconferências sobre resultados e até eventos da Ted Talks podem ser fontes para descobrir projetos de inovação.
Ela conta que a primeira grande pergunta que a equipe se faz é se a tecnologia de determinada empresa resolve um problema real para uma pessoa real. Depois, se ela é muito melhor ou muito mais barata. “Essa estrutura foi um dos motivos pelos quais não estávamos entusiasmados com o Metaverso, porque não achávamos que ele realmente resolveria um problema do mundo real para a maioria das pessoas. Era um caso de uso marginal interessante, mas não o tipo de empresa ou perspectiva que nos empolgava.”
Por outro lado, em 2002, o banco percebeu que apenas 3% dos investimentos em publicidade digital eram destinados à internet. O restante ia para a mídia tradicional, e os consumidores já passavam 20% do seu tempo on-line. “Havia incompatibilidade e desconexão, e isso nos levou a acreditar que deveríamos tentar encontrar líderes que pudessem gerar receita com publicidade on-line. E isso nos levou tanto ao Google, que capturou as buscas, quanto ao Facebook, que levou cerca de 20% de todo o investimento em publicidade digital em seu auge.”
A especialista explica que a mudança disruptiva acontece de duas maneiras principais. A primeira é de cima para baixo, onde você tem usuários de alto nível que são os primeiros a adotar, e depois o mercado de massa adota mais tarde. Ela diz que a Tesla é um exemplo, já que a empresa começou com um produto premium muito mais caro e, com a escala, o custo caiu significativamente e aumentou a adoção total do mercado. Já a disrupção de baixo para cima, em que os usuários de baixo custo são os primeiros a adotar, acontece com empresas que oferecem um produto mais barato.
Depois de entender o potencial da nova tecnologia, a equipe estabelece marcos a serem atingidos e que vão indicar o sucesso do projeto. O banco começa com uma posição muito pequena e, à medida que esses marcos são atingidos, aumenta. “É um processo que reduz o risco da tecnologia para nós.”
Ultimamente, Cohen vem estudando o setor energético e sua capacidade de atender à demanda gerada pelo uso da inteligência artificial. Para ela, o setor foi negligenciado até 2023, porque, durante 20 anos, o consumo de eletricidade foi estável. “Nos últimos dois anos, estamos vendo essa mudança brusca de demanda causada pela IA”, comenta. “Há uma enorme disputa para garantir energia rapidamente, porque vencer a corrida da IA depende disso.”
A pesquisadora ressalta que as redes só conseguem lidar com uma certa porcentagem de energia intermitente. “Cinco anos atrás, ninguém queria tocar na ideia nuclear. Nos EUA, os reatores estavam sendo desativados e o custo era considerado alto demais. Mas agora, com a IA, precisamos de energia sólida.”
De acordo com Cohen, a equipe do Morgan Stanley está entusiasmada com o assunto. Ela explica que o regime regulatório é diferente, é mais fácil de construir e licenciar e é mais segura. Além disso, pela primeira vez, os cientistas estão alcançando ganho líquido, ou seja, mais energia do que a necessária para criar a reação de fusão, e se tornou possível construir um reator menor. “Então, agora é economicamente viável.”
Sobre longevidade, a ex-atleta diz que um entrave aos investimentos é o fato de a Food and Drug Administration (FDA) não reconhecer o envelhecimento como uma doença. Mas, afirma, pode-se dividir o assunto em quatro pilares: prevenção, que reúne empresas de suplementos; diagnóstico, que abrange tecnologia de ressonância magnética, por exemplo; medicamentos para tratar doenças relacionadas ao envelhecimento; e rejuvenescimento, “que foca em como podemos voltar no tempo e retornar a um estágio inicial de idade, dez anos mais jovem” e que, diz ela, ainda está em fase de pesquisa científica com células-tronco. “A longevidade é um campo que queremos acompanhar.”
Fonte: Valor Econômico