A Tera, multifamily office (MFO) que nasceu para cuidar do patrimônio dos fundadores do Patria há cerca de uma década, vai se abrir para o mercado de gestão de fortunas de uma forma mais ampla. Hoje com R$ 12,5 bilhões, de 14 clientes, já há recursos de terceiros para um clube fechado de clientes. Mas a casa se estruturou, trouxe reforços e, segundo o sócio e principal executivo (CEO) Fabio Vidigal, tem capacidade para alcançar R$ 40 bilhões até 2030. A expansão planejada é tanto pela via orgânica como por consolidação, no Brasil ou no exterior.
Vidigal tem uma relação longeva com o grupo que deu origem ao Patria, no antigo Banco Patrimônio, onde ficou entre 1994 e 1998. Lá, ele criou a área de gestão de recursos, aproveitando-se da desregulamentação do setor, e desenvolveu parcerias de distribuição em todo o Brasil, com instituições como o Lloyds e o Bradesco.
A área tinha o equivalente a R$ 1,5 bilhão quando o banco foi vendido para o Chase, em 1999. Entrou no J.P. Morgan no mesmo ano e o banco seria adquirido pelo mesmo Chase, com o executivo permanecendo na estrutura até 2005 – depois passaria pelo Itaú, Mauá Capital e empreenderia nas companhias de investimentos imobilíários Zogbi Mauá, MZO e CIX Capital, até fechar o círculo e chegar à Tera.
O foco de atendimento, num MFO que é “puro sangue” – sem relação umbilical com qualquer grupo financeiro -, como diz o executivo, são empreendedores com patrimônio entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, um tamanho que permita que sejam globais. De base atual, 85% do patrimônio está em estruturas “offshore”, fora do Brasil.
Na estratégia de expansão, “não serão muitos clientes”, afirma Vidigal. “Desses 14, só dois [dos maiores geradores de receita] têm origem no Patria, tem um crescimento orgânico para fazer, a gente não precisa de times comerciais enormes, mas o movimento inorgânico também é bem provável.”
Vidigal diz olhar para o mercado com interesse e um pouco de reserva, porque há estruturas que não foram bem construídas, mesclando clientes de várias faixas patrimoniais, misturando-se com o universo das assessorias de investimentos. Os passos de expansão não serão às custas da atração de tíquetes menores. “Dentro do universo de family offices vamos ser criteriosos, é com essa lente que estamos avaliando as oportunidades.”
As alternativas, acrescenta, não precisam ser exclusivamente no mercado local. Há um mapeamento nos Estados Unidos, onde Andre Penalva, vindo da estrutura do Patria, é o elo com o mercado internacional. Ele se juntou à equipe da Tera em maio e traz toda uma rede de relacionamento com distribuidores estrangeiros.
Penalva diz haver demanda por serviços de aconselhamento personalizado para famílias brasileiras da mesma forma que identifica em outros mercados da região, onde já fez rodadas de apresentações. “Há oportunidades e a gente considera uma evolução não só do ponto de vista orgânico, dá para expandir do lado desses países sul-americanos, como um primeiro passo. Um dos meus chapéus é inserir a Tera nesse mercado mais globalizado.”
“Tem uma certa similaridade, uma certa energia, uma direção, que o Patria, à medida que foi ficando um player realmente regional, acabou criando muito valor em outros lugares da América Latina. São players importantes no Chile, no Peru, no Uruguai, na Colômbia. Então essa direção de ocupar um espaço eventualmente regional está nos nossos planos. Está lá escrito. Esse é o caminho que a gente vai perseguir”, afirma Vidigal. “Há players que não estão no Brasil e eventualmente estão sentados em Miami e Nova York.”
Jonas Rinaldelli, sócio-sênior que passou pelo Citi e pelo Itaú, diz que a Tera tem duas linhas de atuação. Em uma delas, que chama de “full service family office”, o cliente final é o indivíduo, a família que tem patrimônio, mas não uma estrutura profissional própria. Para esse perfil, vai fazer a gestão propriamente da riqueza, o planejamento, o trabalho com as novas gerações, com uma visão holística do grupo econômico. Na segunda, presta serviços de “investment office”, em que a interação é com o executivo-chefe de investimento (CIO) de single family office. Daí, não olha para o todo porque os escritórios de gestão familiar costumam fazer investimentos por conta própria, mas há uma complementaridade, que virou uma frente nova de receitas há cerca de três anos. “É uma relação mais institucional e menos emocional.”
João Vaz, que já foi trader do antigo Banco BBM, da família Mariani, e gestor de renda fixa da BW, dos Moreira Salles, diz que o ecossistema do Patria ajuda na interação com o fluxo de negócios em investimentos alternativos, de grande apelo para o público mais endinheirado. Ao montar o documento que chama de política de investimento individual, os executivos avaliam a capacidade e a vontade de cada família de se expor ao risco. “A maioria tem um pedaço do patrimônio dedicado a alternativos, não só pelos retornos atrativos, mas pela vontade de participar de empresas e por gostar de fazer negócios.”
A advogada Ana Rizzo, ex-BMA, a sócia responsável por planejamento patrimonial, estruturação de veículos de investimentos locais e no exterior, diz que famílias de grande patrimônio prezam não só pela sofisticação de investimentos, mas também pela proximidade. “Ela quer alguém que esteja ali lado a lado. Então, quando a gente está falando de temas pessoais, particulares, familiares, o elemento chave disso é a confiança”, diz.
A partir do diagnóstico, a equipe da gestora de fortunas traça uma série de ações para auxiliar as famílias no processo de organização patrimonial. “Não é um trabalho pontual, que acontece uma única vez, é muito vivo e acompanha o cliente ao longo de toda a jornada. A área de planejamento patrimonial não tem uma linha de chegada, está sempre em curso, em constante movimento”, afirma Rizzo. Oito dos clientes não são mais residentes no Brasil, e a assessoria acompanha desde a comunicação de saída definitiva até as interações nas diversas jurisdições escolhidas como domicílio fiscal.
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Fonte: Valor Econômico

