País asiático é um dos que melhor usam o conceito de “soft power”, com influências culturais como o K-Pop
Por Rafael Vazquez — De São Paulo
05/12/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
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A Coreia do Sul, adversária do Brasil nesta segunda-feira nas oitavas de final da Copa do Mundo, é conhecida por ter atingido um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do mundo por meio de investimentos no sistema educacional, além de um exitoso programa desenvolvimentista nos anos 1970 e 80 que deu certo – ao contrário das tentativas latino-americanas – e ajudou a formar uma eficiente indústria que tem como símbolos empresas do porte de Samsung, Hyundai e LG.
Essas são as marcas sul-coreanas mais conhecidas por consumidores de carros e eletrônicos no Ocidente, mas o país conta também com uma indústria potente em outras áreas geopoliticamente estratégicas, como a naval. Durante a pandemia, enquanto países como o Brasil enfrentaram dificuldades para importar o insumo farmacêutico ativo (IFA), necessário para produzir vacinas e medicamentos, a Coreia do Sul se apresentou ao mundo como um dos grandes produtores mundiais do ingrediente junto com China e Índia.
A biotecnologia e o setor farmacêuticos são as grandes apostas do governo sul-coreano para sustentarem o crescimento do país nos próximos anos. Nesse cenário, destaque também para a indústria de semicondutores e chips, elemento que se tornou fundamental para a economia moderna e que estimula os EUA a buscarem fortalecer sua aliança com o país asiático.
Não por acaso, a indústria representa 32,6% do PIB e emprega 25% da força de trabalho no país, segundo dados do Banco Mundial no fim de 2021. O setor de serviços é o maior, com quase 60% do PIB. A agricultura, que já esteve na liderança, representa menos de 2% da economia e emprega menos de 5% da força de trabalho. O país é altamente urbanizado, com uma das maiores densidades populacionais do mundo, e pouco rural, ao contrário do que era antes da Segunda Guerra. A Coreia do Sul tem 51 milhões de habitantes em um território de 100 mil km2. Como base de comparação, a Espanha tem 47 milhões em uma área cinco vezes maior. Na área metropolitana de Seul, a capital, estão 10 milhões de habitantes, sendo a segunda metrópole com maior densidade populacional do mundo, atrás apenas de Tóquio, no Japão.
Historicamente, o território hoje conhecido como Coreia do Sul esteve dividido em reinos ou sob a influência de povos como os mongóis, que dominaram parte da Ásia entre os séculos 13 e 14, e a China, vizinha ao Norte. De 1910 a 1945, toda a península coreana foi ocupada pelo Império do Japão.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial e com a Guerra Fria, que dividiu o mundo em áreas de influência, EUA e União Soviética dividiram a Coreia em duas em 1948. Os soviéticos ficaram com o norte da península e entregaram o poder a um militar que combateu o domínio japonês chamado Kim IL-Sung, avô de Kim Jong-Um, atual líder da Coreia do Norte.
A divisão territorial entre Norte e Sul foi reforçada pela Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, na qual nenhum dos lados conseguiu se sobrepor, com EUA e União Soviética na retaguarda de seus aliados locais. Um armistício foi assinado na época, mas não há nenhum tratado de paz e, tecnicamente, os dois países da península coreana seguem em guerra, embora na prática haja esforços permanentes nos últimos anos para o estabelecimento de uma relação amistosa.
O Sul, portanto, ficou sob a influência dos EUA, que respaldou ao longo de décadas regimes anticomunistas, porém tão autoritários quanto o do Norte, com eleições pouco respeitáveis e troca de poder entre líderes militares até a década de 1980. O Estado civil, liberal e democrático que vigora hoje começa somente em 1988, a partir de uma revisão constitucional que deu início ao que os sul-coreanos chamam de Sexta República.
Desde o começo do século atual, a Coreia do Sul é um dos países que melhor usam o conceito de “soft power”, definição da geopolítica para iniciativas que aumentam a influência diplomática e a capacidade de atrair simpatizantes de outras nações à sua cultura. Destacam-se nessa estratégia o cinema, com filmes ganhadores de Oscar, além de séries de destaque na Netflix como Round 6, e o K-Pop, gênero musical que atrai jovens no mundo todo. Um dos principais grupos de K-Pop é o BTS, que tem como líder o cantor JungKook, que se apresentou na abertura do Mundial do Catar no dia 20.
A influência do K-Pop sobre uma parte dos jovens é tão grande que o fluxo de turistas brasileiros quadruplicou entre 2003 e 2021, segundo dados do Ministério de Turismo sul-coreano. E a simpatia chegou a gerar, na rede social, debates entre os fãs brasileiros de K-Pop sobre para quem irão torcer nesta segunda-feira.
Fonte: Valor Econômico