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Em 30 de setembro, será desligada a última usina de carvão que gera eletricidade para o Reino Unido, berço da revolução industrial e da primeira usina desse tipo no mundo, inaugurada em 1882. Sinal do compromisso do país em descarbonizar seu sistema elétrico, o carvão, que na década de 1980 representou 80% da energia elétrica do Reino Unido, hoje responde por cerca de 1%, com 33% vindos de eólicas e solares.
Se os países industrializados avançam, o esforço para o uso de fontes mais limpas ainda é longo entre nações ricas e pobres, o que abre oportunidades para o Brasil, cuja matriz elétrica é formada por mais de 80% de fontes limpas, bem acima da média mundial, de 29%. A pobreza energética está no centro desse desafio, que envolverá trilhões de dólares.
O número de pessoas sem acesso à eletricidade no mundo é alto: mais de 700 milhões vivem sem luz, sendo boa parte na África. A pobreza energética pode ser retratada com outros indicadores. Cerca de 500 milhões de pessoas têm acesso à eletricidade, mas não têm equipamentos elétricos, segundo o Banco Mundial, que estima que pouco mais de 2 bilhões de pessoas cozinham ou esquentam suas casas com lenha ou outros tipos de biomassa.
Além de universalizar serviços, ofertar energia limpa será outro desafio, visto que o carvão ainda responde por cerca de um terço da eletricidade gerada no planeta, sendo que a China, apesar de hoje ser líder em investimentos em fontes renováveis, ainda responde por cerca de metade do seu consumo. Países ricos são dependentes também do energético. A Alemanha, maior potência industrial europeia, ainda tem 27% de sua energia gerada por carvão (em 2000, eram 52%, segundo a Ember).
Dados do Banco Mundial apontam que, para adotar energia mais limpa e universalizar os serviços, os países em desenvolvimento terão de aumentar em sete vezes os investimentos em energia para até US$ 2 trilhões anuais até 2030, sendo que dois terços dos recursos terão de vir do setor privado.
Para preparar o mundo para a transição energética, estudo da BNEF indica que a rede de energia elétrica mundial terá de duplicar em comprimento até 2050, para atingir 152 milhões de quilômetros – aproximadamente a distância entre a Terra e o Sol. Alcançar isso exigiria cerca de US$ 21 trilhões em investimentos até 2050. A guerra na Ucrânia aperta o orçamento de países ricos, enquanto as nações em desenvolvimento sofrem com orçamentos públicos já apertados. “Os desafios não são triviais e a eleição dos EUA coloca mais incertezas sobre a trajetória da transformação energética”, diz o presidente da PSR, Luiz Barroso.
Além das questões macroeconômicas, há um outro ponto a ser destacado em relação à transição energética e à pobreza: a instável geopolítica e a posição que a China detém no tabuleiro da transição energética.
Recente relatório do fundo Generation Investment Management, fundado pelo ex-vice presidente dos EUA Al Gore, destaca que a China é o fabricante mais importante do mundo de baterias avançadas; o único país capaz de refinar alguns minerais críticos; o maior produtor de painéis solares, carros elétricos, ônibus elétricos; o maior investidor em energia renovável do mundo.
Para Gore, “a direção da viagem para a economia global está agora firmemente definida na direção de uma energia mais limpa”. Porém, sobrem incertezas sobre a forma como outras grandes economias irão descarbonizar, ao mesmo tempo que gerenciam a sua dependência da indústria chinesa.
Mesmo diante dessas incertezas, o Brasil poderá ter posição de destaque e contribuir para a descarbonização global, seja com a redução do desmatamento e uso da terra, que respondem por metade das emissões do país, seja com a matriz energética renovável. O país poderá atrair data centers globais. Entre maio e agosto de 2024, dez novos projetos de centros de processamento de dados iniciaram o processo de acesso à rede básica de energia elétrica, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME) – em maio eram apenas 12. “O clima pode fazer muito para o Brasil, que pode fazer muito pelo mundo”, afirma Barroso.
Fonte: Valor Econômico

