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Embora o congelamento de R$ 15 bilhões em despesas anunciado pelo governo na semana passada tenha sido um passo na direção correta, diante da tentativa de manter em pé o arcabouço fiscal, a ação foi “frustrante” em relação ao valor necessário para se cumprir a meta de resultado primário deste ano e ajuda a compor um cenário que se mostra negativo para os ativos domésticos. E é com essa avaliação do cenário fiscal que a Principal Claritas tem mantido um posicionamento mais negativo em relação aos ativos brasileiros, de acordo com André Ricardo Carvalho, gestor macro da casa.
“Acabamos montando um portfólio de Brasil que, na minha visão, é bem defensivo e, depois, ficou ainda mais à medida que o cenário foi evoluindo”, diz Carvalho, ao revelar ter, na carteira, posições compradas em NTN-Bs de curto e de médio prazo, diante de um nível de prêmio visto por ele como “interessante”; posições compradas em dólar contra real via opções, ainda que de forma mais tática; e posições tomadas (que apostam na alta das taxas) em juros prefixados.
Em entrevista ao Valor, a primeira desde que começou na gestora em maio, Carvalho observa que há uma mudança na visão da casa sobre os rumos para a política monetária nas últimas semanas, o que se reflete na posição “tomada” em juros. “Nós, de fato, achávamos que o ciclo [de cortes na Selic] terminaria com a taxa em 10,5%, em uma decisão consensual e que, de fato, isso traria uma compressão de prêmios no Brasil. Tudo isso aconteceu, mas durou pouco. O fiscal atropelou rapidinho. E, com esse grande risco de deterioração fiscal, o câmbio mudou de patamar”, nota o gestor.
Ele observa que o Banco Central (BC) elevou o sarrafo para a possibilidade de elevações na Selic e, nesse sentido, a projeção oficial da Principal Claritas é a de manutenção do juro básico em 10,5% por um longo período. “Mas o risco está grande. Muita coisa tem de dar muito certo para eles conseguirem, de fato, não entregar uma alta de juros pelo menos até o fim deste ano. Olhando de hoje, há uma assimetria para cima nos juros. Não à toa a curva precifica um prêmio de alta e deve continuar assim.”
Na sessão de ontem, a curva de juros precificava cerca de 0,75 ponto percentual de elevação na Selic ainda neste ano e novas medidas de aperto ao longo de 2025, como reflexo de um nível alto de prêmios de risco no mercado.
“O nosso cenário base, que é o de o BC não entregar elevações nos juros, está cada vez mais difícil de se concretizar”, diz Carvalho. Para ele, a visão dos mercados sobre o cenário prospectivo para a política monetária está bastante atrelado às expectativas, que estão ligadas ao câmbio e à condução da política fiscal. “Não tivemos um choque positivo com o fiscal no início da semana, o câmbio está começando a se consolidar em um patamar mais elevado”, observa.
Embora avalie que as questões externas têm tido influência relevante no comportamento dos mercados locais, especialmente do câmbio, Carvalho ressalta que as questões idiossincráticas do Brasil pesam. “Não estamos conseguindo ter alívio no câmbio. E, se o dólar se estabilizar na faixa de R$ 5,50, fica muito difícil para o BC se manter na estratégia de não precisar elevar os juros”, avalia.
Para ele, a questão fiscal segue como a determinante para os rumos dos juros, em um ambiente que não se desenha muito positivo. “Acho que vamos continuar com medidas pontuais, de forma reativa, sempre meio que a contragosto para impedir um estresse maior nos mercados. O ceticismo dos agentes com o fiscal vai continuar por um bom tempo. Seguimos com uma âncora fiscal fragilizada e estamos sempre parando em uma situação pior do que a anterior. Acumula um desgaste.”
Em paralelo a esse posicionamento mais defensivo nos mercados de juros e de câmbio, Carvalho revela ter posições pequenas compradas na bolsa brasileira, ao aproveitar o momento de volatilidade menor. “Está muito barato comprar seguro. Do ponto de vista macro, você não tinha nenhum vento contrário; era dinheiro saindo com os resgates sem parar dos fundos de ações; os estrangeiros estavam indo embora E as ações de algumas empresas estavam extremamente baratas. Achamos que havia uma assimetria interessante e, por isso, montamos uma posição pequena.”
Vale apontar, porém, que boa parte do risco dos fundos macro da Principal Claritas está alocado no exterior, especialmente em posições aplicadas (aposta na queda das taxas) em juros de curto prazo nos EUA. “Parece que agora vai”, diz o gestor ao se referir ao início do ciclo de flexibilização monetária pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Ele, porém, observa que as discussões em torno da eleição presidencial americana entraram mais cedo no radar dos participantes do mercado e diz ver o republicano Donald Trump como o favorito a vencer a corrida à Casa Branca em novembro. A gestora, inclusive, gosta de posições de aumento da inclinação da curva de juros americana, ou seja, aposta na queda das taxas de curto prazo e no aumento dos juros mais longos em um cenário de vitória de Trump.
“Trump ainda segue o favorito”, diz Carvalho, após a desistência do presidente dos EUA, Joe Biden, de concorrer à reeleição pelo Partido Democrata e provável entrada de Kamala Harris na disputa. “A discussão foi antecipada, mas já estava no nosso radar e continuamos com essa posição no aumento do ‘steepening’ [inclinação] da curva de juros”, aponta o gestor, que também diz gostar de posições compradas em dólar contra euro, dólar canadense e yuan chinês.
Fonte: Valor Econômico

