O retorno inesperado de um alto funcionário que havia deixado recentemente a Food and Drug Administration (FDA) – a agência sanitária do governo norte-americano – é a mais recente surpresa em um período volátil para o principal regulador de medicamentos dos Estados Unidos e seu órgão superior, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS).
Para as fabricantes de medicamentos, as mudanças na liderança têm complicado decisões sobre os remédios. Para os mercados, a incerteza tem dificultado os investimentos.
Vinay Prasad, líder da divisão da FDA responsável pela aprovação de vacinas e outros medicamentos complexos, saiu da agência no final de julho. Ele vinha sofrendo críticas intensas da mídia conservadora e da ativista de direita Laura Loomer.
Na época, um porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que supervisiona a FDA, disse que Prasad “não queria ser uma distração” e “decidiu voltar para a Califórnia e passar mais tempo com sua família”. Duas semanas depois, Prasad está de volta.
“Por solicitação da FDA, Vinay Prasad está retomando a liderança do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica”, disse Andrew Nixon, diretor de comunicação do HHS, em comunicado à “Barron’s”, nesta segunda-feira (11). O retorno de Prasad foi reportado pela primeira vez no sábado (9) pelo Endpoints News, site de notícias da indústria biotecnológica.
Prasad, hematologista-oncologista, é próximo do comissário da FDA, Marty Makary. Ele foi contratado para substituir Peter Marks, um veterano querido pela indústria biotecnológica, que deixou a agência em março.
Nos últimos meses, Prasad vinha conquistando apoio do setor biotecnológico, estabelecendo padrões altos, porém previsíveis, para algumas novas aprovações. O seu retorno foi inicialmente celebrado pelos investidores nesta segunda-feira (11). Prasad não respondeu às tentativas de contato feitas por meio do HHS ou redes sociais.
Alguns analistas estão otimistas com o retorno de Prasad. “Com a FDA parecendo mais politizada em 2025, nos perguntamos se Prasad será mais sensível à percepção externa daqui para a frente, agindo com mais cautela, ou se simplesmente ignorará a política e opiniões da mídia”, escreveu o analista da Jefferies Andrew Tsai, em nota no domingo (10). “Tendemos ao segundo cenário.”
A saída inicial de Prasad ocorreu em meio a um debate tenso sobre decisões regulatórias referentes a uma terapia genética chamada Elevidys, da Sarepta Therapeutics.
O envio do medicamento, que trata a distrofia muscular de Duchenne, foi suspenso em julho sob a liderança de Prasad. Pouco mais de uma semana depois, a FDA reverteu a decisão, dizendo que a Sarepta deveria continuar enviando o medicamento para certos pacientes. Prasad deixou a agência logo após essa reversão.
Os investidores em biotecnologia têm enfrentado um período contínuo de turbulência em 2025. Na semana passada, o secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., ordenou que a Autoridade Biomédica Avançada de Pesquisa e Desenvolvimento (BARDA) suspendesse o financiamento a vacinas baseadas em mRNA, decisão que pode ter implicações em todo o ecossistema biotecnológico.
Desde a posse do presidente Donald Trump, em janeiro, também houve interrupções no financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, demissões na burocracia federal de saúde e mudanças na composição do comitê que define a política de vacinas nos EUA.
Fonte: Valor Econômico