Por Rafael Rosas, Valor — Rio
19/04/2023 16h18 Atualizado há 18 horas
A economia ficou “parada” em janeiro frente a dezembro e o primeiro mês do ano mostrou o que deve ser a tônica do comportamento da atividade ao longo do ano, com a indústria e os serviços contribuindo muito pouco ou mesmo caindo e a agropecuária servindo como locomotiva para um crescimento não muito alto. A análise é de Juliana Trece, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e coordenadora do Monitor do PIB, que mostrou hoje alta de 0,5% frente a janeiro do ano passado.
A pesquisa também apontou crescimento de 4,1% nos 12 meses encerrados em janeiro e avanço de 2,2% no trimestre móvel terminado em janeiro.
Trece ressalta que essa desaceleração já vinha acontecendo desde o segundo semestre do ano passado. “Há um endividamento elevado das famílias e já imaginávamos desde o meio do ano passado que a economia não teria este ano o benefício da normalização da atividade de serviços”, diz a economista, que acrescenta que o setor de serviços é intensivo em mão de obra e sofre com o cenário de juros altos e dívidas elevadas das famílias. “Há uma cadeia de fatores. Por isso que os serviços não serão o que foram no ano passado.”
Ela lembra que no ano passado os serviços responderam por 80% do avanço de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e afirmou que a expectativa para este ano é de uma alta bem menor, entre 0,8% e 1%, com a agropecuária avançando na das dos dois dígitos e puxando o crescimento da atividade econômica. “Há uma perspectiva muito boa para a safra, principalmente de soja, que é nossa principal cultura. Mas qualquer problema de chuva, colheita ou de exportação pode acabar afetando o resultado da economia, que vai estar ancorada em apenas uma atividade, o que é muito frágil”, diz.
Outro setor que não deve contribuir com um avanço consistente em 2023 é a indústria. Trece afirma que o setor é “o nosso calcanhar de Aquiles histórico”, com questões antigas ligadas à produtividade. “Não tem nada de surpreendente [na expectativa de comportamento ruim da indústria] dado todo o nosso histórico”, diz ela, lembrando que nesta quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Produção Industrial Mensal de fevereiro, com queda de 0,2% ante janeiro.
O Monitor do PIB apresentou ainda a análise desagregada dos componentes da demanda. O consumo das famílias cresceu 4,3% no trimestre móvel encerrado em janeiro, sendo que apenas o consumo de serviços (+5,9%) e de produtos não duráveis (+5,5%) contribuíram para este avanço. A formação bruta de capital fixo (FBCF) subiu 0,7% no trimestre encerrado em janeiro, com recuo apenas em máquinas e equipamentos.
A exportação de bens e serviços subiu 11,2% no trimestre novembro-janeiro, enquanto as importações subiram 2,7% em igual período. A taxa de investimento ficou, segundo Monitor, em 15,4% em janeiro. O resultado ficou abaixo das médias de 18% da taxa de investimento desde 2000 e de 16,6% quando considerado o período a partir de 2015.
Fonte: Valor Econômico

