Quando a Amazon colocou todos os funcionários no regime totalmente presencial este ano e outras gigantes da área de tecnologia como Meta, Google e Apple anunciaram o aumento do número de dias dos funcionários no escritório, a questão sobre qual modelo de trabalho seguir voltou para a pauta dos principais executivos de recursos humanos do país. Embora o trabalho presencial esteja ganhando mais espaço nessa equação, com 43% das companhias adotando 3 dias presenciais e 2 remotos, o modelo híbrido permanece. Para 2025, 70% dos gestores esperam manter o modelo atual de trabalho, que pode ser híbrido, presencial ou remoto.
Esses dados fazem parte da pesquisa “Modalidades de trabalho”, realizada pela BMI com 83 Chief Human Resources Officers (CHROs) de empresas que atuam no Brasil, na segunda quinzena de outubro, obtida pelo Valor. Entre as companhias participantes, 64% têm entre 1.001 e 25 mil funcionários, sendo 63% multinacionais de 20 setores da economia. “Um fato interessante é que 73% das empresas da amostra adotam 2 ou 3 dias de trabalho virtuais, o que corrobora que o modelo híbrido, de fato, virou ‘mainstream’”, observa Daniel Motta, fundador da BMI.
No ano que vem, apenas 5% dos respondentes afirmam que suas companhias pretendem adotar o trabalho 100% presencial, por outro lado, nenhum participante pretende intensificar o trabalho remoto. Enquanto 26% planejam aumentar a frequência de dias no escritório. “O que fica claro é que este é ainda um terreno pantanoso. Não é possível ter uma conclusão firme sobre a tendência para 2025”, diz Ana Paula Vitelli, managing director da BMI, uma das responsáveis pelo levantamento.
Desde a pandemia, 34% das empresas mantiveram estável o regime híbrido, 27% foram reduzindo sua adoção gradualmente e 20% intensificaram o uso da modalidade. Quando questionados sobre quais foram os maiores ganhos ao adotar o híbrido, 69% dos entrevistados disseram que ele aumentou a atração de jovens talentos, 64%, o engajamento das equipes, e 40% disseram que ele reduziu a rotatividade de funcionários. Quando perguntados sobre as possíveis perdas associadas ao modelo, 46% afirmaram ver uma redução da potência da cultura organizacional e 23%, a diminuição da inovação. Motta diz que a percepção sobre ganho e perda de produtividade é citada por 17% dos respondentes, pelos dois pontos de vista.
A desconexão com a cultura da empresa, observada pelos executivos no modelo híbrido, segundo os que querem aumentar o modelo presencial, afeta mais os novos funcionários, que perdem uma vivência mais intensa na organização e o estreitamento dos vínculos com as pessoas do trabalho. “Mas, ao mesmo tempo, os executivos dizem que o modelo híbrido traz o engajamento como uma variável importante, o que reforça essa zona cinzenta”, diz Motta.
Os jovens enxergam o híbrido como um atributo da marca empregadora, diz Vitelli. Para os executivos de RH, no entanto, ele ainda é um tema complexo, porque muitos gestores não estão preparados para lidar com o formato. Nos comentários na análise qualitativa da pesquisa, entre os que enxergam potenciais perdas associadas ao híbrido, aparece a sobrecarga dos líderes, assim como a redução da comunicação e da agilidade na tomada de decisão.
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Entre os que percebem ganhos potenciais do modelo híbrido, existe a percepção de um aumento da performance, especialmente para quem tem um trajeto maior de deslocamento até o trabalho e, no geral, uma maior satisfação do funcionário. Muitos ajustes no modelo, segundo alguns entrevistados, foram feitos ao longo do tempo desde a pandemia. “Hoje, nosso escritório só abre às terças, quartas e quintas. Isso trouxe uma melhor gestão de custos fixos e distribuição da equipe no espaço físico”, disse um respondente.
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Nas empresas que voltaram ao modelo 100% presencial, a predominância, desde a pandemia, foi a presença das lideranças no escritório, e agora dos funcionários administrativos e operacionais, com exceção para algumas áreas de tecnologia, que mantêm alguns dias remotos. Entre os que planejam aumentar os números de dias no escritório em 2025, a justificativa é que “a flexibilidade e a liberdade do modelo acabam por fazer com que as pessoas fiquem mais remotas do que realmente híbridas”.
Outros pontos levantados pelos executivos para justificar o modelo de trabalho vigente, híbrido, presencial ou remoto, é a predileção por um que ajude na manutenção da flexibilidade da gestão, que seja adequado ao arquétipo do trabalho, dependendo da função, ou que permita a flexibilização com propósito. “Os gestores possuem liberdade para acordar o que é melhor com seus funcionários”, disse um entrevistado. “Uma questão implícita na pesquisa é que a flexibilidade aparece hoje como um benefício e a empresa que a oferece é vista como companhia contemporânea em suas práticas de trabalho”, diz Motta.
Fonte: Valor Econômico