Com a atividade econômica crescendo entre 2% e 2,5%, a taxa de desemprego perto das mínimas históricas e uma inflação comportada, “não parece razoável, politicamente, para o governo mudar esse mix, que está funcionando”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine. Por isso, por ora, ele diz acreditar que não haverá uma guinada na condução da política econômica em geral.
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A variável que, agora, está “fora do lugar”, aponta, é o câmbio. Se o governo “alterar o discurso atual e começar a trazer menos volatilidade”, afirma Oliveira, o dólar pode cair, o que também é benigno para a inflação. “É hora de fazer ajuste na comunicação”, diz.
Políticos “não toleram”, segundo Oliveira, uma subida no índice de miséria (combinação entre taxa de inflação e de desemprego). Isso aconteceu, por exemplo, nos governos de Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment, e de Jair Bolsonaro (PL), que não conseguiu se reeleger na última disputa, observa Oliveira.
Na sua avaliação, as falas mais frequentes do presidente Lula no último mês, que geraram estresse no mercado cambial, já têm relação com a aproximação das eleições municipais. “Talvez, isso funcionasse antes, mas com o ‘real time’ [tempo real do mercado financeiro e da notícia], as falas se refletem muito rápido nos ativos”, afirma.
Muitas dessas falas de Lula envolvem críticas ao atual presidente do Banco Central,
Oliveira pondera que a transição de presidência no BC no meio do mandato do presidente da República é uma novidade, o que pode acabar gerando certo estranhamento. “É a primeira vez que temos uma transição desse tipo”, diz.
Para ganhar credibilidade ao menos no curto prazo, o governo terá de demonstrar compromisso fiscal, com algum contingenciamento de despesas, por exemplo, aponta Oliveira. Na sua avaliação, será “impossível” para o governo promover, nos próximos dois anos, o mesmo impulso fiscal de 2,2% do PIB que ocorreu entre 2022 e 2024. “Há restrições, dadas até pelo próprio arcabouço fiscal”, afirma.
Ao mesmo tempo, a política monetária, com a interrupção da queda da Selic, passou a contribuir no sentido de aceleração da piora das condições financeiras, segundo o indicador do Pine.
Esses dois fatores devem contratar uma desaceleração mais forte da economia no primeiro semestre de 2025, segundo Oliveira. Apesar disso, ele mantém uma visão construtiva para o PIB do Brasil. “Não fosse a tragédia no Rio Grande do Sul, estaríamos discutindo um PIB entre 2,5% e 3%”, afirma.
Diante da desaceleração da demanda agregada ao longo de 2025 e de uma perspectiva de inflação menor para 2026, que estará no horizonte relevante do BC, Oliveira também acha que a autoridade monetária pode voltar a cortar os juros no próximo ano. Ele atribui probabilidade de 50% de a Selic cair para 9,5% em 2025.
Mas há também, segundo Oliveira, 40% de chance de ela ficar estável nos atuais 10,5%, caso a taxa de juro neutra – aquela que não acelera nem desacelera a inflação – suba, por exemplo, se a política fiscal continuar expansionista.
Fonte: Valor Econômico

