A percepção dos participantes do mercado de que o governo precisará adotar medidas mais estruturais na seara fiscal foi reforçada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na decisão de juros de ontem, conforme avaliaram economistas ouvidos pelo Valor. Em um ambiente que contempla ainda uma nova revisão de alta nas projeções de inflação do colegiado, a percepção geral é que o BC terá de ser ainda mais duro no aperto, o que já provocou a revisão das projeções para Selic no fim do ciclo de algumas casas para níveis ao redor de 13%.
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“O BC fez questão de incluir o termo ‘estrutural’ na história. Por que é relevante? Porque nas últimas semanas muitos investidores têm a percepção de que podem vir pelo lado fiscal propostas que estão mais na linha de tentar apenas navegar os próximos dois anos [do mandato de Lula], sem algo que tente conter os gastos públicos em prazo longo”, diz o economista-chefe da Oriz Partners, Marcos Bredda de Marchi.
Ele aponta inclusive que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem citado mais a questão fiscal em suas participações em eventos, algo que não fazia anteriormente. “Parece que ele está mais livre para falar sobre o tema e também parece que não houve barreira nessa linha de pensamento, nem mesmo do [diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel] Galípolo, que tem participado de reuniões com o próprio governo.”
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Também em relação à seara fiscal, o economista-chefe da JGP, Fernando Rocha, avalia que a redução temporária dos gastos públicos não será suficiente para ajudar na reaconragem das expectativas de inflação. “Tem de ser uma mudança para frente”, enfatiza o economista, que se diz mais otimista que boa parte do mercado em relação ao pacote de ajuste fiscal que deve ser anunciado.
“Pelo menos o Ministério da Fazenda compreendeu que é essencial vir com algo relevante. Não só no tamanho [do pacote], mas por mudanças de regras estruturais”, completa Rocha.
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O sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, diz que, para atingir as metas de inflação, será preciso que política fiscal e monetária caminhem em sintonia. “Não adianta uma política monetária ultracontracionista com uma fiscal ultraexpansionista, pois a meta não será alcançada e provocaremos desequilíbrios macroeconômicos relevantes”, ressalta.
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Em se tratando do total previsto de altas de juros, Hirakawa diz acreditar que o descolamento cada vez maior da projeção de inflação do BC é um sinal de que o ciclo de aperto monetário do Copom deve ser ainda mais duro do que o indicado pelos economistas no relatório Focus. Hoje, o consenso dos economistas de mercado aponta para uma Selic que subiria a 12,5% em meados do próximo ano e que chega ao fim de 2025 em 11,5%. Para a economista da Buysidebrazil, o colegiado deve aumentar a taxa básica de juros para 13% e mantê-la nesse patamar até o final do ano que vem.
Ainda ontem, diversas instituições financeiras fizeram revisões de suas projeções para a Selic no fim do ciclo de alta de juros. O americano J.P. Morgan elevou a estimativa da Selic de 12% para 13%, enquanto o inglês Barclays alterou sua previsão de 12% para 12,75%. No Brasil, a XP revelou ter subido sua projeção de 12% para 13,25%.
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“E isso [essa mensagem conservadora] se passa por uma Selic elevada, seja a um nível mais alto do que o esperado pelo mercado, seja por um taxa parada em níveis elevados por mais tempo, ou uma combinação dos dois cenários”, avalia o economista da Brasilprev.
Pereira afirma que não é possível cravar a reação dos mercados nesta quinta-feira, se já irá projetar juros mais elevados nos mercados futuros, porque há fatores importantes a serem determinados. “Não depende só desse comunicado mais aberto, mas de um cenário global, com decisões do Federal Reserve (Fed), e também com medidas sobre os cortes de gastos”, afirma. “Agora é esperar a ata e as aparições públicas dos dirigentes para ver se a aceleração de ritmo é factível.”
Fonte: Valor Econômico

