Por Nick Timiraos — Dow Jones Newswires
14/09/2022 05h02 Atualizado há 10 horas
A aceleração da inflação no mês passado é o argumento decisivo para que o Federal Reserve (Fed) eleve as taxas de juros em pelo menos 0,75 ponto percentual em sua reunião da semana que vem, e aumenta a perspectiva de que o banco continue com as elevações expressivas nos próximos meses.
Autoridades do Fed deram a entender que estão preparadas para fazer seu terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto na semana que vem, mesmo que a inflação tenha esfriado em agosto, como muitos economistas previam. Alguns membros do Fed tinham começado a avaliar como diminuir o ritmo dos aumentos, na expectativa de que as pressões inflacionárias teriam uma redução logo, o que lhes permitiria voltar até dezembro ao cenário mais tradicional de definir acréscimos para as taxas de 0,25 ponto percentual.
Mas os últimos dados sobre a inflação tornam mais difícil para o Fed reduzir seus aumentos dos juros neste outono e também devem enterrar qualquer debate em torno de um aumento de 0,50 ponto percentual na próxima semana.
O Departamento do Trabalho informou ontem que o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA subiu 8,3% em agosto, em relação ao mesmo mês do ano passado, quando a expectativa do mercado era de alta de 8%.
Os preços do núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, por serem itens voláteis, e é considerado um indicador melhor das pressões subjacentes sobre os preços, subiram 0,6% em agosto, em relação a julho – o dobro do aumento de 0,3% registrado de junho para julho. Em comparação com um ano antes, o núcleo do CPI subiu 6,3% em agosto, e 5,9% em junho e julho, reflexo dos preços mais altos nas áreas de moradia, serviços médicos e mensalidades de universidades.
Inicialmente, os aumentos de preços no ano passado pareciam ser liderados por um punhado de itens, como vendas de carros usados ou passagens aéreas, que poderiam estar ligados à reabertura da economia depois da pandemia. O que preocupa o Fed hoje é a possibilidade de que os preços de mais itens estejam a subir rapidamente porque a renda cresceu e as empresas têm condições de repassar custos e margens mais altos para seus clientes.
“Esta é a inflação mais preocupante – a parte persistente da inflação, que não desaparece sozinha”, disse Diane Swonk, economista-chefe da KPMG. ”É com isso que o Fed está preocupado – a persistência da inflação mesmo quando a demanda se acalma.”
Ontem os investidores nos mercados futuros de taxas de juro viam uma probabilidade de cerca de 34% de que o Fed aumente os juros em 1 ponto percentual na semana que vem – na segunda-feira, eles não viam nenhuma chance de isso acontecer. Na mesma linha, segundo o CME Group, ontem os operadores apagaram suas apostas de uma elevação de 0,50 ponto na semana que vem, sendo que na segunda estimavam em 10% a chance desse aumento ocorrer.
“Este relatório é um pesadelo. Ele definitivamente coloca em pauta um aumento da taxa de 1 ponto”, disse Swonk. Mas outros consideram que isso é pouco provável. “Para nós existe pouca ou nenhuma chance”, disseram economistas da Evercore ISI em nota.
O Fed não eleva os juros em 1 ponto percentual em uma reunião desde que começou a usar a taxa dos Fed Funds como sua principal ferramenta para definir a política monetária, no início dos anos 1990. Na reunião do fim de julho, o banco não quis fazer o aumento maior, de 1 ponto percentual, e subiu a taxa referencial em 0,75 ponto.
“Não hesitaríamos em fazer um aumento ainda maior do que o que fizemos hoje se o comitê concluísse que isso era apropriado”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, em uma coletiva de imprensa em 27 de julho.
As novas projeções econômicas trimestrais das autoridades do Fed, que serão divulgadas depois da reunião de 20 e 21 de setembro, podem mostrar como eles se preparam para elevar as taxas por um período mais prolongado.
Nas últimas semanas, várias autoridades monetárias sugeriram que poderia ser necessário elevar a taxa de referência dos Fed Funds para um pouco menos de 4% este ano, acima da faixa atual, que fica entre 2,25% e 2,5%.
Mas as autoridades podem concluir que precisam elevar a taxa para 4,5% no ano que vem, se virem sinais de que a inflação é mais persistente e motivada por um mercado de trabalho apertado. Isso aumentaria de forma drástica o risco de uma recessão enquanto o Fed busca aumentar o desemprego para impedir que os ganhos salariais alimentem a alta dos preços.
“É provável que a mensagem do Fed mude muito rapidamente de uma taxa terminal de 4% para 4,5%, ou talvez até mais”, escreveu Aneta Markowska, economista-chefe da Jefferies, em uma nota aos clientes.
Outros relatórios recentes sugerem que os preços de carros usados, roupas e outros produtos podem subir de forma mais moderada. “É preocupante que o relaxamento dos preços dos insumos ainda não tenha chegado aos preços para o consumidor”, disse Tiffany Wilding, economista da Pimco. Isso indica que as empresas continuam a manter margens mais altas, o que é “consistente com a avaliação de que levará mais tempo para a inflação baixar”.
“Uma inflação mais persistente e de base mais ampla indica que o Federal Reserve tem mais trabalho a fazer e as chances de um pouso forçado para a economia dos Estados Unidos continuam a crescer”, afirmou ela.
As autoridades do banco central queriam ver uma série de relatórios em que os ganhos dos preços mês a mês diminuíssem, como ocorreu em julho. Mas com a volta da aceleração dos preços do núcleo em agosto pode demorar ainda mais tempo para que as autoridades se sintam confortáveis em reduzir ou pausar os aumentos das taxas.
Em um discurso feito na semana passada, o diretor do Fed Christopher Waller lembrou como uma desaceleração de curto prazo nas pressões inflacionárias há um ano levou o banco central a adiar os planos de acabar com os estímulos. Depois disso, a inflação acelerou.
“As consequências de deixar-se enganar por um abrandamento temporário da inflação podem ser ainda maiores hoje, se outro erro de avaliação prejudicar a credibilidade do Fed”, afirmou Waller. “Então, até que eu perceba uma moderação expressiva e persistente do aumento dos preços do núcleo, apoiarei a adoção de medidas adicionais significativas para apertar a política monetária”, completou.
Waller disse que é difícil prever até que ponto o Fed poderia elevar a taxa dos fundos federais. Ele explicou que se a inflação abrandasse como esperava, o Fed poderia aumentar a taxa para cerca de 4% e depois esperar para ver como as perspectivas econômicas se desenvolviam; mas se a inflação se acelerasse nos próximos meses, o Fed precisaria elevar a taxa bem acima dos 4%.
Fonte: Valor Econômico

