Por Adriana Cotias — De São Paulo
13/07/2022 05h04 Atualizado há 4 horas
O mercado de gestão de recursos costuma ir na contramão dos ciclos de juros: quando as taxas estão baixas, há um ambiente favorável para saída de equipes de tesouraria, com multiplicação das assets, e o segundo momento é de acomodação e uma natural consolidação de estruturas que não alcançaram escala no capital sob gestão, diz Luciano França, sócio-fundador da Avantgarde, que está na rua há quase três anos.
Com cerca de R$ 70 milhões sob gestão, a asset, que se vale de modelos sistemáticos para montar sua carteira de ações multifatorial, desde o começo do ano tem sido abordada para associações de diferentes formatos, seja para programas de aceleração, fusão e até controle total, vendendo o “know how” e internalizando a equipe, afirma Mario Avelar, sócio-fundador da gestora. Para o executivo, o modelo de aceleração parece ser o mais interessante, assim, “você não é engolido por alguém gigantesco, que vai te dar um preço pelo seu AUM [ativo sob gestão], mas que coloca o dinheiro e deixa ganhar valor de equity no tempo.”
As propostas por fatia minoritária vão de 20% a 40%. A avaliação dos executivos da casa é que o segmento “quant” se tornou a menina dos olhos das assets mais artesanais, que agora buscam ganhar capacidade de gestão com modelos matemáticos. Uma gestora que queira operar bolsas em diversos mercados não precisaria em tese ter um profissional sentado em Singapura, cita Avelar. “Em qualquer lugar do mundo, é possível investir na bolsa que quiser, com escala na geração de receitas e uma avenida de crescimento.”
A abordagem tem apelo para administradores de carteira e gestores de fortunas que apresentam o produto como uma via para o investimento descorrelacionado de índices de mercados e de carteiras de ações tradicionais, diz França. “Infelizmente não temos a nossa melhor fotografia no momento. Com o CDI em dois dígitos, a concorrência é desleal.”
Na Sterna, a entrada de Robert Gibbins, cofundador da Autonomy Capital, representa injeção de recursos tanto na gestora quanto no multimercado, diz Bruno Magalhães, sócio-fundador. “Traz um suporte financeiro, vai nos ajudar a atrair mais capital humano e vem reforçar a governança com um sócio capitalista que conhece bem esse mundo de hedge fund.” O multimercado roda há 11 meses, praticamente com recursos proprietários. Apesar de estar disponível nas principais plataformas de distribuição, acabou pegando um período difícil de captação para o segmento. “Quando a gente montou, a Selic estava a 2% e agora superou os 13%.”
Com as aprovações da regulação e autorregulação obtidas só em setembro, quando a Selic estava em 6,25%, e com indicações de que continuaria subindo, o executivo avalia ter chegado atrasado na onda de associação com grandes distribuidores, como XP, BTG, Itaú ou Credit Suisse. “Na linha do tempo, boa parte das transações com grandes players ocorreu no primeiro trimestre ou início do segundo”, afirma Magalhães.
Sua percepção é que depois de uma fase de ouro de criação de novas gestoras, impulsionada pelas plataformas digitais e o canal dos assessores de investimentos, agora as novatas buscam algum tipo de massa crítica juntando estruturas. “A gente vai por outro caminho, tentar o voo solo com o sócio capitalista.”
Apesar do aporte chegar com um sócio na pessoa física, o executivo diz que abre o caminho para uma interação grande com o time da Autonomy, nas áreas de gestão e de pesquisa. Hoje o multimercado conta com R$ 22 milhões.
Magalhães diz que a casa não tem feito grande esforço de captação, pretende ficar 100% focada na gestão para “fazer o fundo performar e na hora que o mercado virar, contar com um bom histórico para captar”. Já está acertado trazer um executivo-chefe de operações e o desejo é chegar ao fim do ano com cerca de R$ 500 milhões de patrimônio. “O ‘breakeven’ [equilíbrio financeiro] é abaixo disso, mas o mercado está difícil”, afirma.
O negócio de gestão de recursos é intensivo em capital humano e, dependendo do nicho que atua, se não atingir um tamanho mínimo, a operação não se sustenta, segundo Renato Breia, responsável pela Nord Asset.
Ele estima que uma casa de ações até possa rodar com menos de R$ 200 milhões, mas um multimercado, que em geral requer uma equipe multidisciplinar, precisa ao menos vencer a barreira do R$ 1 bilhão. “Não para de pé. Se pegar um período ruim de mercado em 6,12, 24 meses, não vai ter equipe de 20 pessoas e ao longo do tempo fica mais frágil para o modelo do negócio”, diz.
A atividade é também muito escalável e gestoras de ações podem se juntar com times de crédito e multimercados, ou equipes de fundos mistos com equipes complementares. “As próprias gestoras vão procurar uma estrutura que consiga garantir perenidade, uma asset multiproduto dilui o seu risco ao longo do tempo”, diz Breia. “Não tem mais aquele cenário de ‘financial deepening’ de dois anos atrás, parece haver uma volta da bancarização.”
Fonte: Valor Econômico
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