Depois de 3 mortes confirmadas e 3 casos suspeitos, Estado de SP fez alerta. Campinas e cidades vizinhas mapeiam áreas com carrapatos, como o Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim (foto). Doença tem prazo de incubação de 14 dias.
- O Estado de S. Paulo.
- 15 Jun 2023
- JOSÉ MARIA TOMAZELA MARCIO DOLZAN
Com o crescimento das suspeitas de febre maculosa, o governo do Estado de São Paulo solicitou que todas as pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida, na região de Campinas, no período de 27 de maio a 11 de junho, procurem atendimento médico, caso apresentem febre e dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas. O clima de medo entre frequentadores do local, comércio e moradores é visível. Outras cidades paulistas decidiram ampliar a fiscalização em áreas com carrapatos.
Há três mortes confirmadas por febre maculosa de visitantes da fazenda, além de ao menos outros três casos suspeitos – uma pessoa morta e duas internadas. Além da Feijoada do Rosa, que existe há 22 anos e reuniu cerca de 3,5 mil pessoas no dia 27, a prefeitura de Campinas passou a monitorar quem compareceu ao show de Seu Jorge, que reuniu cerca de 10 mil pessoas.
A Secretaria de Estado da Saúde destacou que as regiões com maior incidência de casos são as de Campinas, Piracicaba, Assis e Sorocaba. “Ao se aventurar em regiões de mata e cachoeira, é importante estar ciente que estamos no período de reprodução do carrapato-estrela, ocorrendo o risco de transmissão da febre maculosa”, disse a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado, Tatiana Lang. O período de incubação é de até 14 dias.
Campinas iniciou o mapeamento de carrapatos em 12 áreas, entre elas a Lagoa do Taquaral, Lago do Café, Parque das Águas, Parque Botânico e distrito Joaquim Egídio, onde fica a Fazenda Santa Margarida. Foi iniciada também a distribuição de folhetos sobre a doença nessas áreas. A Fazenda Santa Margarida suspendeu os próximos eventos e ficará fechada por um período de 30 dias. Em nota, informou que está trabalhando em um plano de ação para os próximos seis meses que será apresentado esta semana às autoridades.
MEDO DA DOENÇA. O surto está provocando apreensão e temor. Pessoas ouvidas pelo Estadão relataram que estão mais atentas a sintomas. O bartender Lucas Eduardo Santos, que trabalhou na Feijoada do Rosa, diz que chegou a sentir alguns sintomas depois da festa, como náusea, diarreia, falta de apetite e coceira. “Cheguei em casa às 6 horas. No mesmo dia já estava cheio de feridas.”
Lucas foi a um pronto-socorro, mas os médicos não fecharam o diagnóstico. Mesmo assim, prescreveram amoxicilina (antibiótico) e recomendaram que fizesse um exame de sangue entre 7 e 21 dias. Com a revelação do surto, o bartender pretende fazer o teste específico para saber se teve febre maculosa. “Os sintomas graves diminuíram, mas confesso que ainda tenho medo.”
As erupções no corpo de Lucas, semelhantes a picadas de pulgas, são um dos sintomas. As manchas podem aparecer em outras partes, como palma das mãos e planta dos pés. O quadro da doença também se completa com febre alta, dor no corpo, dor da cabeça, falta de apetite e desânimo, que podem surgir entre sete e dez dias, com probabilidade alta de evolução rápida. Os efeitos são parecidos com os de doenças como leptospirose e dengue. Mas há pessoas que também se mostram assintomáticas, o que dificulta mais o diagnóstico.
Donos de bares e restaurantes de Joaquim Egídio, o distrito de Campinas que está no centro do surto, já temem o que chamam de “efeito carrapato”. Assustadas com o risco de contrair a doença, muitas pessoas estão cancelando reservas. O distrito, de 2,2 mil habitantes, é procurado por turistas pelas belezas naturais e principalmente pela gastronomia. São 15 restaurantes que aliam cardápio variado a música e cultura.
Dono do Armazém da Estação, o empresário Luiz Felipe Bulgarelli não esconde a preocupação. “Quando teve um surto de febre amarela no distrito, fomos bem afetados. Os restaurantes ficaram um bom tempo vazios. O receio é que isso aconteça de novo.”
OUTRAS CIDADES. Após as mortes em Campinas, outras cidades reforçaram as ações de prevenção contra a doença. Em Ribeirão Preto, o Parque Olhos D’Água foi fechado por causa da infestação de carrapatos, já que um grupo de capivaras mora no local. As áreas de infestação foram identificadas com placas, a exemplo da fazenda de Campinas.
Vizinha a Campinas, Valinhos determinou o mapeamento para detecção do carrapato nas áreas onde foram registrados casos anteriormente. Agentes de combate de endemias visitam casas e entregaram panfletos. Outro município próximo, Indaiatuba também está monitorando áreas de risco. Em Americana, a prefeitura realiza a pesquisa do carrapato-estrela em pontos estratégicos, mesmo procedimento adotado por Limeira.
Eventos monitorados
Fazenda Santa Margarida recebeu 3,5 mil pessoas na Feijoada do Rosa e 10 mil no show de Seu Jorge
Fonte: O Estado de S. Paulo