Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciar a interrupção do ciclo de corte na taxa básica de juros do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na quinta-feira (20) que a decisão do colegiado foi uma “pena”. Segundo Lula, quem mais perdeu com a manutenção da Selic em 10,5% ao ano foi o “povo brasileiro”. Ele também voltou a atacar o Banco Central e acusou a autoridade monetária de investir no sistema financeiro e “nos especuladores que ganham dinheiro com juros”.
“Foi uma pena que o Copom manteve os juros porque quem está perdendo é o povo brasileiro. Quanto mais alto os juros, menos dinheiro sobra para a gente investir aqui dentro [do Brasil]. A decisão do BC não foi investir no povo brasileiro, foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com juros”, disse o presidente durante entrevista para a rádio “Verdinha”, de Fortaleza (CE).
O Copom decidiu na quarta-feira, de forma unânime, interromper o ciclo de afrouxamento monetário em meio ao aumento das expectativas de inflação. O comitê citou, em seu comunicado, que as projeções para o IPCA apuradas pela pesquisa Focus para 2024 e 2025 estão em torno de 4% e 3,8%, respectivamente — mais elevadas que na última reunião do colegiado.
Lula sobre BC: Autonomia para servir a quem?

Lula sobre BC: Autonomia para servir a quem?
Apesar das críticas públicas de Lula, nos bastidores do Palácio do Planalto a decisão do BC está “pacificada”. Segundo fontes do Valor com acesso à cúpula do Executivo, o governo compreende, por exemplo, que não havia como o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado por Lula para o BC, puxar uma dissidência por mais um corte na Selic, o que ajuda a explicar o cenário de decisão unânime pela manutenção da taxa.
Auxiliares de Lula dizem estar cientes de que, se Galípolo tivesse insistindo em mais um corte na Selic, esse movimento poderia comprometer sua provável candidatura ao comando do Banco Central em dezembro deste ano, quando se encerra o mandato do atual presidente do órgão, Roberto Campos Neto.
Por conta disso, as mesmas fontes negam que Galípolo esteja em baixa ou tenha perdido credibilidade com Lula. Pelo contrário, insistem que ele continua sendo o principal cotado para ser indicado por Lula para a presidência do BC. O barulho contra Galípolo, dizem as fontes do Planalto, é proveniente do PT e não do governo. Ou seja, não teria o respaldo do próprio Lula.
Na entrevista, o presidente negou interferência nas decisões do órgão, após ter feito duras críticas a Campos Neto e pressionado por cortes nos juros na véspera da decisão. Ele afirmou que o atual chefe do BC tem “tanta autonomia” quanto tinha Henrique Meirelles, à frente da autarquia nos dois primeiros mandatos petistas.
“O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou BC. O Meirelles tinha autonomia comigo tanto como esse que está aí [Roberto Campos Neto]. Resolveram [no Congresso] entender que deveria ser colocado um presidente do BC que tivesse autonomia financeira. Autonomia do BC em relação quem? Para servir quem? Atender quem?”, questionou, em referência à proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê a autonomia financeira do BC.
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Fonte: Valor Econômico
