A Folha diz que o governo Lula tenta acelerar a comercialização das canetas de nacionais usadas para diabetes e emagrecimento, tomando medidas que alteram as condições de concorrência no mercado. Na ação mais recente, o Ministério da Saúde, comandado por Alexandre Padilha, pediu à Anvisa que priorize a análise das ‘canetas’, furando a fila de outros produtos.
Colocar os emagrecedores à frente de centenas de medicamentos que aguardam aval da agência para comercialização é uma péssima sinalização ao mercado. Demonstra interferência política em processos que deveriam ser técnicos, minando a confiança regulatória e sugerindo permeabilidade a lobbies de toda espécie, inclusive os ilegais.
Por trás da ação de Padilha, está um evidente interesse eleitoral na medida. As canetas emagrecedoras se tornaram uma febre nacional, alimentada essencialmente pela imposição de padrões estéticos — muito longe de questões de saúde, como diabetes e obesidade mórbida.
O que se quer é comprar apoio popular combatendo a fome por via reversa. É perverso. Inclusive, outros políticos populistas, como os prefeitos Eduardo Paes (Rio) e Rodrigo Manga (Sorocaba) já prometeram a distribuição “na faixa” de semaglutina e outros fármacos similares.
EVENTO REUNIU PADILHA E EMS
Para além do uso eleitoral, a atuação de Alexandre Padilha merece investigação por indícios claros de advocacia administrativa. Como destaca a reportagem, a EMS foi a primeira farmacêutica nacional a conseguir aval da Anvisa para comercializar produtos à base de liraglutida, princípio ativo da popular Saxenda (Novo Nordisk).
No dia 6 de agosto, Padilha participou de um evento organizado pelo grupo Esfera, de João Camargo, com a presença de Carlos Sanchez, dono do laboratório EMS. No mesmo dia, o ministro da Saúde gravou vídeo nas redes sociais fazendo propaganda dos recém-lançados Lirux e Olire, os genéricos da EMS à base de liraglutida.
“Aquelas canetinhas que o pessoal está usando direto por aí, mais um produto na área, baixando o preço para a população”, disse Padilha, exibindo os produtos. No mesmo vídeo, ele anuncia parceria da mesma EMS com a Fiocruz, fundação ligada ao Ministério da Saúde, para a transferência de tecnologia da fabricação do produto.
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GIGANTE NACIONAL DA ERA PT
É importante lembrar que a EMS, de Sanchez, foi a principal cliente de José Dirceu, tendo repassado R$ 7,8 milhões ao ex-ministro entre 2009 e 2014. No evento organizado pela Esfera com patrocínio da EMS, batizado de “Fórum Saúde”, também estiveram o vice-presidente, Geraldo Alckmin; o ministro Gilmar Mendes; o presidente da Câmara, Hugo Motta; o ministro do TCU Antonio Anastasia; o presidente da Anvisa, Rômison Mota, além de outras autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
A CEO do grupo Esfera, Camila Funaro Camargo Dantas, é casada com o ministro Bruno Dantas, ex-presidente do TCU.
Em sua fala no evento, o bilionário Sanchez ressaltou a liderança de mercado alcançada por seu grupo nos últimos 20 anos… de PT. “Trabalhamos e investimos consistentemente para que a EMS seja o espelho desse Brasil inovador, que exporta conhecimento e tecnologia. Vamos promover importantes discussões sobre os avanços necessários para que terapias de ponta estejam cada vez mais ao alcance dos brasileiros e sejam também fornecidas do Brasil para o exterior.”
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Fonte: Claudio Dantas