Por Adriana Cotias — De São Paulo
26/08/2022 05h03 Atualizado há 6 horas
Num momento em que uma safra de corretoras de valores novatas vai chegar ao mercado sob o modelo “light”, casada com distribuidores maiores como XP e BTG Pactual, a LEV DTVM fez a escolha de ser um intermediário completo. Após ter recebido neste mês sinal verde do Banco Central (BC) para atuar, a administração faz os ajustes finos para colocar a operação rodando até o fim do ano.
Na partida, vai oferecer tudo o que há no ambiente bolsa em transações eletrônicas com foco no público institucional, entre gestoras de recursos, tesourarias e o investidor estrangeiro, lista Marcelo Cerize, principal executivo da LEV. Ele fundou a instituição ao lado do irmão Pedro, da gestora de recursos Skopus, que não vai ter função executiva. Depois que a distribuidora engrenar, o plano daí sim envolve a asset e a casa de análise INV (antiga Inversa), na qual a dupla também é parceira. Será a forma para chegar ao varejo, seguindo os passos dos antigos sócios da Empiricus, na dobradinha com a plataforma de investimentos Vitreo – compradas pelo BTG Pactual.
Com investimentos próprios, que chegam a R$ 15 milhões, a ideia de ter um braço de distribuição veio após sucessivas interações via WhatsApp com o irmão no auge da pandemia, vivenciando a experiência ainda do outro lado do balcão, conta Cerize. “Ficou evidente que o mercado focou muito na pessoa física e os gestores acabaram ficando meio de lado, e tem muita gestora boa nascendo num momento ruim de mercado, principalmente para a renda variável”, diz. “A indústria tem crescido e tem atendimento ruim. Se não deixar valor mínimo, um percentual em tal corretora, não consegue ter seu fundo distribuído na plataforma. Ou então paga corretagem alta e é mal atendido.”
A lógica é oferecer a possibilidade dos institucionais operarem volumes menores neste período de baixa exposição à renda variável da indústria de fundos e ter uma base de clientes cativos quando o vento voltar soprar a favor. O projeto é para atuar como participante pleno de negociações (PNP) na B3, o que significa ter conexões diretamente nos servidores da B3 para acelerar as transações, atuar como membro de compensação e fazer liquidação e serviços de custódia.
Para conquistar espaço num mercado ocupado por grandes nomes e em que corretoras da antiga geração encerraram suas atividades, Cerize aposta em algoritmos proprietários que vêm sendo desenvolvidos para uma melhor eficiência na execução de ordens. Ao permitir a comparação com o que seria realizado no mercado, vai cobrar uma taxa de performance. “Se meu algoritmo performar bem e proporcionar um ganho relevante na execução, ele vai pagar o ‘fee’ rindo.”
Tal leitura vem de uma experiência de uma década como operador na Skopus. Ele não conta o que está por trás da inteligência de dados, mas exemplifica que um algoritmo muito usado pelo investidor profissional é o TWAP (“time-weighted average price”), que manda comprar, por exemplo, determinado lote de ações ou de índice num certo intervalo de tempo, dividindo e apregoando de forma a obter um preço médio ponderado naquele período. “Quando falo em algoritmo, imagino todas as situações que já passei e replicar o que era manual, por telefone, no automatizado, em milissegundos.”
A tecnologia está sendo construída 100% na nuvem, tem um custo operacional leve, o que permite que a DTVM seja competitiva na corretagem para os institucionais, afirma o executivo. Embora tenha uma mesa de operações para a execução manual, o foco estará na ordem eletrônica.
Não estava nos planos fazer a retaguarda operacional para distribuidores credenciados como participantes de negociações (PN) na B3, no chamado modelo de corretora “light”, mas Cerize já observou demanda para esse tipo de serviço, porque as instituições estão “muito estranguladas, com o mercado concentrado em poucos nomes, que acabam cobrando um valor que inviabiliza a operação do participante que não é pleno”.
Pedro Cerize aparece nomeado como gestor de carteira da DTVM porque está nos planos montar uma estrutura de gestão de recursos no futuro. Será um passo para quando a LEV estiver pronta para atender a pessoa física, capturando sinergias com a casa de análise. “Pode surgir uma parceria entre INV e LEV para fornecer relatórios, será interessante lá na frente quando atuar no mercado de varejo, daí tem como agregar valor, no modelo que se observou com Empiricus e Vitreo, faz todo sentido para fechar o ecossistema completo”, diz Marcelo Cerize. “Mas vamos primeiro engatinhar, depois andar e correr, vai ser no passo a passo. A gente não levantou dinheiro no mercado, não dá para brincar.”
O executivo estima ainda um desembolso de R$ 20 milhões, diz que todo o plano de negócios foi desenhado com capital próprio, mas ele não descarta um sócio que pudesse trazer velocidade. Cerize espera que num intervalo entre 12 e 18 meses a operação já esteja no equilíbrio financeiro. O reforço de capital seria útil para engatilhar a atividade de varejo, cujo custo de aquisição de clientes costuma ser bastante intensivo.
Fonte: Valor Econômico

