Os sinais de que a atividade econômica se mantém resiliente, em meio ao cenário de inflação crescente e expectativas desancoradas já pediam que o Banco Central começasse a preparar o terreno para uma alta de juros. Isso foi feito na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e as comunicações de membros da autoridade apenas reforçaram a perspectiva de que o aperto monetário deve ser retomado já na próxima reunião de setembro. Assim, a Legacy Capital passou a esperar três elevações de juros de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do BC, o que deve levar a Selic a 12% no fim do ano.
“Embora nossa projeção de PIB seja de 2,5%, há um claro risco que ele venha a ser mais próximo de 3%. As expectativas de inflação estão perto de 4% em 2025, mais próximas do teto do que do centro da meta. Um dos argumentos que existiam para justificar a estratégia de Selic parada era o da inflação corrente, mas ela também vem subindo recentemente e a média dos núcleos já está mais próxima de 4%. Com essa postura fiscal do governo, de crescimento real de despesas elevado, com a atividade econômica forte e uma inflação escapando, precisamos trabalhar com juros mais altos”, afirma, em entrevista ao Valor, o economista-chefe da Legacy, Pedro Jobim.
Segundo ele, boa parte das incertezas que pairavam em torno da condução da política monetária foram dissipadas nos últimos dias, com os membros do Copom demonstrando, de modo coeso, que estão dispostos a retomar o aperto monetário.
“Do ponto de vista da política monetária, a pior coisa que a autoridade pode fazer é sinalizar uma alta de juros e acabar não cumprindo. E é melhor que isso seja feito com um ritmo mais intenso no início. Se fosse começar por uma alta de 0,25 ponto, seria necessário acelerar o ritmo depois. Na nossa visão, três altas de 0,5 ponto podem melhorar as projeções, as expectativas de inflação e limitar o processo de depreciação do câmbio”, afirma.
Neste sentido, ainda que o dólar arrefeça até a próxima reunião e ajude a trazer a projeção do Copom para mais perto dos 3% no horizonte relevante de política monetária, é recomendável que o BC entregue a alta da Selic.
“Você já vê alguma contaminação na inflação, da parte de bens industriais, pela taxa de câmbio. Existe uma percepção de que o mercado de trabalho está forte, bem como o ciclo de crédito. O juro está fora de lugar e não é só por causa do câmbio. Não é um câmbio de R$ 5,40 ou R$ 5,35 que muda esse cenário. Dada a desancoragem das expectativas e a piora na inflação corrente, é preciso subir os juros”, diz Jobim.
Na avaliação da Legacy, é provável que o Copom vote pela alta de juros de forma unânime. “Acho que ficou claro que todos estão juntos nessa. Se houver um voto contra, não haveria problema. O problema seria um novo 5 a 4, existir um “Fla-Flu” dentro do colegiado. Aquilo deu a sensação de que não haveria uma continuidade da política monetária depois de dezembro. O BC conseguiu dar essa sensação de continuidade, o que é muito bom”, afirma.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/J/V/9c0phtR16AqxkOJHuzFg/140524keiny-andrade08.jpg)
Fonte: Valor Econômico

