As tensões geopolíticas e as incertezas persistentes relacionadas às tarifas dos Estados Unidos fizeram a atividade de private equity na América Latina atravessar um dos períodos mais fracos dos últimos anos no terceiro trimestre, especialmente em países com alto volume de exportações para os Estados Unidos, como Brasil e México.
Essa é a principal constatação relativa ao Brasil no mais recente relatório Pulse of Private Equity, da KPMG. “Grande parte das operações de private equity na região nesse período foi conduzida principalmente por fundos locais”, diz a consultoria, que destaca a queda na originação de negócios e na entrada de capital estrangeiro na região.
“Esses negócios – em valores bastante modestos – concentraram-se sobretudo nos setores domésticos de logística e transporte”, destaca o documento. Esses segmentos, menos expostos a riscos cambiais e de comércio exterior, se tornaram o refúgio dos gestores regionais diante da volatilidade global.
Já o segmento de fintechs foi “um dos poucos” da região que “demonstrou alguma resiliência aos olhos dos investidores estrangeiros de private equity, com alguns realizando pequenos aportes ou investimentos minoritários na área”, beneficiada pela expansão da digitalização bancária e pelos esforços de inclusão financeira. Ainda assim, os volumes envolvidos ficaram bem abaixo dos observados em 2023 e 2024.
“Tem sido um ano difícil para os investimentos em private equity na América Latina”, diz o sócio e líder da área de consultoria da KPMG para a região nos Estados Unidos, Jean-Pierre Trouillot, em comentário no relatório. “A cada trimestre, o volume de operações ficou abaixo do anterior – com o primeiro sendo o mais forte, provavelmente porque, naquele momento, os riscos associados às discussões comerciais com os Estados Unidos ainda não eram totalmente compreendidos.”
Apesar da desaceleração, a consultoria vê espaço para recuperação nos próximos trimestres, caso as tensões comerciais com os EUA se estabilizem. A perspectiva de maior previsibilidade nas tarifas pode restabelecer a confiança dos investidores e reabrir o fluxo de transações cross-border. A retomada dependerá também de avanços locais em segurança jurídica, estabilidade regulatória e políticas de incentivo à inovação e infraestrutura.
Segundo o sócio-líder de private equity da KPMG no Brasil, Roberto Haddad, “o mercado está se ajustando a um novo patamar de seletividade, privilegiando negócios que combinam resiliência, inovação e geração de valor no longo prazo”.
No panorama global, os investimentos em private equity cresceram quase 8% no terceiro trimestre de 2025, somando US$ 537 bilhões em operações — alta em relação aos US$ 512 bilhões do período anterior. Foram 4.062 negócios fechados no mundo, de acordo com o estudo da KPMG.
Desse total, as empresas dos Estados Unidos responderam por mais da metade, com US$ 300 bilhões, enquanto a região das Américas como um todo atraiu US$ 323 bilhões em 1.977 transações, mais de 60% do volume global no período.
Esse avanço foi puxado por grandes operações, com destaque para os setores de tecnologia, infraestrutura e energia — este último impulsionado pela corrida por projetos de geração elétrica para sustentar a expansão da inteligência artificial.
O estudo aponta ainda que a reabertura do mercado de IPOs e a redução das taxas de juros nas economias centrais devem melhorar o ambiente de captação e de saídas de investimentos nos próximos meses.
Fonte: Pipeline

