A manutenção de um tom conservador (“hawkish”) pelo diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, na sessão de ontem, alimentou mais a sensação entre participantes do mercado de que o BC pode retomar o ciclo de aperto de juros caso seja necessário. Isso deu suporte para que as taxas futuras abandonassem um movimento de queda observado no início da sessão e passassem a avançar. A alta também recebeu apoio da valorização dos preços do petróleo, diante da perspectiva de possíveis ataques do Irã a Israel.
No fim dos negócios de segunda-feira, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 avançava de 10,745% no ajuste anterior para 10,765% e a do contrato para janeiro de 2027 passava de 11,555% para 11,56%.
O mercado até esboçou um movimento de retirada de prêmios de risco da curva de juros ao longo do dia, mas não sustentou o viés de baixa das taxas. Durante a tarde, a piora no humor no exterior, diante da escalada das tensões no Oriente Médio, e os sinais mais conservadores emitidos por Galípolo provocaram forte ajuste nas taxas futuras, que, na maioria dos vértices, abandonaram quedas de mais 0,1 ponto percentual e passaram a subir.
Os preços do petróleo, com o barril do Brent novamente acima de US$ 80, deram apoio à incorporação de prêmios ao longo da curva, especialmente nos trechos mais curtos, em um movimento que também coincidiu com novas falas duras adotadas por Galípolo em evento da Warren Investimentos. “Soou ‘hawk’ [duro] e a curva ‘andou’, mesmo sem grandes novidades. Está bem claro que a chance de uma alta de juros está sobre a mesa”, afirma um gestor de renda fixa em condição de anonimato.
Desde a semana passada, a possibilidade de alta da Selic ganha adeptos tanto entre aqueles que já preveem algum ajuste ainda neste ano, como Itaú Asset, Legacy Capital, Novus Capital, XP Asset, JGP e Reag Investimentos, quanto em algumas casas que acreditam que o BC só será forçado a promover algum ajuste na Selic em 2025 – casos da Apex Capital e da Kinea Investimentos.
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Ontem, foi a vez de a Oriz Partners se juntar ao primeiro grupo, ao projetar quatro elevações de 0,25 ponto percentual, com início já na reunião de setembro, o que levaria a Selic a 11,25% em dezembro e a 11,5% no início do próximo ano. “Essa subida de tom [na ata do Copom] nos faz acreditar que o mais provável, em setembro, é que tenhamos um ajuste de 0,25 ponto na Selic”, diz o economista-chefe da Oriz Partners, Marcos De Marchi.
“[Galípolo] fez afirmações bastante incisivas na semana passada”, diz o economista. Para o profissional da Oriz, as sinalizações da ata e as falas recentes “bastante duras” do diretor do BC “sugerem que, dadas as condições correntes – expectativas desancoradas, câmbio pressionado e, principalmente, hiato do produto fechado, ou seja, economia operando acima do potencial -, o quadro já demandaria um aperto de juros em breve”.
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Se de fato o BC voltar a aumentar os juros, o real pode receber suporte adicional para a recuperação que vem registrando nas últimas sessões, segundo avaliação do diretor de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “Mas não acredito que isso venha ocorrer. Se segurar a Selic em 10,50% já é bem restritivo”, diz. “Ainda mais considerando que agora o mundo inteiro está cortando as taxas. O México cortou os juros na semana passada; os Estados Unidos provavelmente vão cortar três vezes até o final do ano.”
Ontem, o dólar à vista registrou a quinta sessão consecutiva de depreciação contra o real, ao cair 0,34% e terminar o pregão a cotado a R$ 5,4957. Operadores avaliam que a queda do dólar poderia ter sido ainda maior, caso não houvesse o temor com um possível conflito no Oriente Médio. Apesar de limitar o movimento do câmbio, a preocupação com a questão geopolítica fortaleceu o petróleo, beneficiando as ações da PetrobrasCotação de Petrobras e impulsionando a bolsa brasileira. O Ibovespa, assim, teve alta de 0,38%, fechando aos 131.116 pontos.
Sem gatilhos macroeconômicos no exterior, a expectativa pelas leituras de julho dos índices americanos de preços dominou as mesas. Após dados fracos do mercado de trabalho dos Estados Unidos elevarem a precificação por um início mais agressivo do ciclo de corte de juros do Federal Reserve, os agentes esperam agora dados de inflação para avaliar uma flexibilização contundente.
Fonte: Valor Econômico

