O Estado de S. Paulo 20 Jun 2022 COLABOROU DANIEL ROCHA JENNE ANDRADE
Fusões e aquisições
Depois de um 2021 com mais de 40 IPOS (ofertas públicas iniciais), o que não se via na Bolsa de Valores brasileira desde 2007, a B3 está prestes a encerrar o primeiro semestre do ano sem nenhuma abertura de capital.
Não faltam motivos para justificar o receio das empresas em acessar o mercado de capitais: guerra na Ucrânia, inflação e juros em alta no Brasil e no mundo e uma eleição presidencial no radar. Mas isso não significa que as companhias não estejam se movimentando. Mesmo com o cenário macroeconômico incerto, o mercado de M&A (fusões e aquisições) segue aquecido no País, após mais de 1,9 mil transações em 2021, um recorde. Na primeira semana de junho, por exemplo, os acionistas de BR Malls e Aliansce Sonae aprovaram a união dos negócios das duas companhias, resultando na maior empresa de shoppings da América Latina.
Para Denis Morante, sóciofundador da Fortezza Partners, butique de investimentos especializada em M&A, o mercado de fusões e aquisições deve ultrapassar 2 mil operações neste ano. Até lá, também deve surgir uma janela para quem quiser ir à Bolsa se capitalizar nos últimos meses do ano, logo após as eleições.
Estamos prestes a encerrar o primeiro semestre de 2022 sem nenhuma oferta pública na B3. O que fez a janela de 2021 se fechar?
Isso aconteceu no mundo inteiro, por conta desse panorama macroeconômico impregnado por inflação e aumentos excessivos e necessários nos juros, além da guerra que quebrou diversas cadeias produtivas. Os IPOS acabam tendo uma interrupção por serem muito relacionados à temperatura do mercado de ações.
A perspectiva é de que a Bolsa brasileira continue sem IPOS até o fim de 2022?
Minha leitura é que talvez haja uma janela logo após o segundo turno das eleições. Mas, de qualquer forma, a quantidade vai ser muito menor do que em 2021, uma vez que ainda estamos parados.
Com a Selic em 13,25% ao ano, a Bolsa ainda é boa opção para as empresas?
Sim, tanto que naquela febre de IPOS que ocorreu em 2007 os juros também estavam na casa de 10%. Não dá para fazer uma correlação entre o patamar dos juros agora e a quantidade baixa de IPOS. O fato é que a euforia vista em 2020 e 2021 estava bastante conectada com os juros baixos demais. O que está acontecendo agora é que os investidores de varejo estão menos compradores de ações comparado ao que estavam no ano passado, até porque ganhar 13% na renda fixa sem fazer nada é muito mais fácil do que investir na Bolsa. Mas, no fundo, não está acontecendo nenhuma oferta agora porque o empresário brasileiro gosta de vender bem caro o IPO. Criou-se essa impressão de que na Bolsa ou se consegue preços estratosféricos ou é melhor não fazer a oferta.
Em 2021 houve recorde de fusões e aquisições. O que esperar para 2022?
Estamos perto de conseguir quase 2 mil transações por ano. Em 2019, tínhamos batido 1,2 mil o que já era um recorde histórico para o Brasil. Esperava-se que em 2020 o número de M&A chegasse a 1,5 mil ou 1,6 mil, porque já vinha em ritmo muito bom. Mas caiu levemente para 1,1 mil naquele ano, e todo o acumulado de transações que não saiu apareceu em 2021. Tanto porque os juros estavam muito baixos quanto pelo fato de a pandemia ter impulsionado uma série de movimentos de consolidação de tecnologia. O crescimento de 2020 para 2021 foi muito anormal. O mercado de M&A continua em um volume bem alto no Brasil e ainda deve haver aumento em relação a 2021, mas não vai ser tão significativo quanto foi o aumento de 2020 para 2021.
Grande parte das empresas que estrearam na B3 em 2021 acumula queda nas ações até aqui. A desvalorização dos papéis pode dar espaço para fusões e aquisições no lugar de follow-ons?
Exatamente. Algumas empresas podem receber propostas não solicitadas, por estarem ficando baratas na Bolsa. O M&A se alimenta tanto na saúde quanto na doença.
Algum setor específico deve ganhar relevância neste tipo de operação ainda em 2022?
Um setor que está sempre em pauta e sempre aquecido é o agronegócio. Pecuária, agricultura, distribuidores, varejistas, fabricantes de produtos, pessoal relacionado à armazenagem e logística. Tem tido um movimento perceptível também em concessionárias de veículos, liderado principalmente pela Simpar. Outro setor que destacamos é a indústria do cuidado com a morte, cemitérios e planos funerários. A partir da privatização (concessão de serviços funerários) que deve ocorrer no município de São Paulo, pode haver um impulso bastante significativo. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

