Forças israelenses sofreram neste domingo (29) as primeiras baixas com a expansão das operações dentro da Faixa de Gaza, enquanto milhares de pessoas presas no território palestino invadiram armazéns das Nações Unidas em busca de alimentos em meio ao agravamento da crise humanitária.
Israel sinalizou neste domingo a intenção de cercar a cidade de Gaza, a principal do território palestino, divulgando fotos de tanques de batalha na costa oeste do enclave 48 horas depois de ordenar incursões terrestres ampliadas através de sua fronteira oriental.
Com a ampliação da ofensiva dentro do enclave palestino, militares israelenses disseram que um oficial foi gravemente ferido por um morteiro na parte norte de Gaza. Outro soldado ficou moderadamente ferido enquanto se engajava com militantes do Hamas, também no norte de Gaza. Ambos foram levados para o hospital.
A autodeclarada “segunda fase” de Israel de uma guerra de três semanas contra os militantes do Hamas apoiados pelo Irã foi inicialmente mantida fora da vista do público, com as forças israelenses se movendo na escuridão e em meio a um apagão de telecomunicações que isolou os palestinos.
O apagão de comunicações de dois dias terminou ontem, com os serviços de internet e telefone sendo gradualmente restaurados, segundo provedores de serviços e grupos de monitoramento digital.
Espera-se que a invasão terrestre das Forças de Defesa Israelense (IDF) se concentre inicialmente na cidade de Gaza, onde se acredita que concentra grande parte da infraestrutura e do armamento do Hamas, segundo Mairav Zonszein, analista sênior do International Crisis Group. O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que o principal objectivo da guerra é destruir o Hamas.
O porta-voz do IDF, Daniel Hagari, reafirmou neste domingo o foco de Israel em Yahya Sinwar, líder do Hamas em Gaza. “Vamos persegui-lo até alcançá-lo”, disse ele.
As forças israelenses precisam ir fundo para acessar a extensa rede de túneis subterrâneos do grupo, disse Zonszein. “Já existe e provavelmente haverá uma invasão terrestre de longo prazo”, acrescentou ela, mas o que isso pode realisticamente alcançar “ainda está em questão e em constante evolução”.
Os militares israelenses têm mantido silêncio sobre a sua estratégia e uma crescente parte do establishment de segurança do país tem defendido o que o ex-premiê Naftali Bennett chama de “paciência estratégica”. Ontem, Bennett disse que o Exército deveria cercar o Hamas na cidade de Gaza e estabelecer um longo cerco, em vez de enviar forças para o combate urbano. “Faça com que o tempo trabalhe a nosso favor”, postou ele no X, antigo Twitter.
Com o norte da Faixa de Gaza se transformando cada vez mais num campo de batalha, Israel instou os civis a se deslocarem para sul. Mas observadores afirmam que os frequentes ataques aéreos, incluindo no sul, a destruição de infraestruturas e a diminuição dos abastecimentos, estão dificultando a circulação dentro de Gaza, com grande impacto sobre os civis.
Milhares de pessoas invadiram armazéns de alimentos da ONU no centro e no sul de Gaza, levando farinha de trigo e outros itens básicos, como suprimentos de higiene. As instalações invadidas incluíam uma loja com suprimentos de caminhões de ajuda que chegaram recentemente do Egito, segundo a ONU.
“Este é um sinal preocupante de que a ordem civil está começando a ruir após três semanas de guerra e de um cerco apertado a Gaza. As pessoas estão assustadas, frustradas e desesperadas”, disse Thomas White, diretor da agência da ONU para refugiados palestinos.
Numa chamada telefônica com Netanyahu, o presidente dos EUA, Joe Biden, ressaltou neste domingo a necessidade de “aumentar imediata e significativamente o fluxo de assistência humanitária” aos civis em Gaza, disse a Casa Branca.
O Egito enviou 24 caminhões com alimentos e ajuda médica para o sul de Gaza na noite deste domingo, informou a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino. Um total de 118 caminhões de ajuda já cruzaram para Gaza desde o recente início das hostilidades. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

